Na língua portuguesa, na espanhola “mujer”, na italiana “donna”, ser mulher, é sinônimo de tornar-se esposa, destino de todas as virgens. Uma confusão com a esposa do “dominus”. A boca francesa sempre pronunciou a “femme” como oposto ao “mãs”. A fêmea do macho.  Em inglês, a fêmea do homem. E no alemão, igualmente a “frau”. Nas línguas escandinavas temos kvinna (sueco), kvinne (norueguês) e kvinde (dinamarquês), todas cognatas do inglês queen, “rainha”, com significado de “esposa do rei”.

 

o vir-à-ser é escolha! É desafio!

E isso independe, do sexo…

 

Nunca fui a favor de bandeiras. Penso que toda ela tem a tradição de rechaçar os que ficam a outra margem. E isto por si só, não pode ser igualitário, ou justo em suas intenções. Desta forma, embora seja mulher, não apoio o movimento “feminista” ou qualquer outro “ista”. Penso, que toda vez que erguemos uma destas bandeiras ou defendemos que mulheres precisem de mais subsídios, ou negros, cotas, estamos reafirmando que ambos não têm capacidade por si só de conquistarem o seu lugar ao sol. Ora, sou mulher, sei dos nossos desafios, mas também sei que todos são desafiados dia após dia, a ser quem são.

A única luta a ser travada, é aquela que defende que todo ser vivo, tenha a oportunidade de tornar-se quem pode ser. Levando em consideração, a sua base: seus potencias naturais.

 

Hoje no dia dedicado às mulheres, “fêmeas”, como prefiro, por remeter mais a fecundação, ao ato de parir, que é a única coisa que de fato nos diferencia dos homens, me sinto na obrigação de provocar: Eva foi parte de Adão, nossas ancestrais etimológicas, esposas de um homem. Hoje para sermos mulher, “nos é necessário”: cuidarmos da casa, dos filhos, do marido, colaborar no sustento tendo um bom emprego, progredir nos estudos e estar bonita e sorridente.

 

Todas estas fases me fazem pensar que sejam contadas e recontadas por uma voz masculina!

Os heróis sempre têm muito dos seus narradores.

 

(… foram tantas Jane Austen, Hipácia de Alexandria, Virgínia Woolf, Agatha Christie, Ada Lovelace, Frida Kahlo, Mari Curie, Lygia Fagundes Telles, Malala, Gertrude Stein, Suzana Herculano-Houzel…)

 

Este é um convite ao resgate do ser vivo, “do feminino”, da “fêmea”, que se autoconhece e se admite em todas as suas especificidades, e é grata por isso. Que não se ludibria na busca insensata de igualar o homem, porque conhece o seu espaço na natureza. Que não se subestima, porque sabe que o sol é para todos.  E que, ininterruptivelmente, continua a vir-a-ser!

 

 

 

O luxo do autoconhecimento é o eterno retorno ao ser vivo!

“Fêmea”, ao contrário da “mulher”: independe de…

 

Méroli Habitzreuter – escritora, pintora e ativista cultural