Ainda adolescente era fascinado pela história de Marie Curie. Pesquisadora nascida em Varsóvia em 1867, desenvolveu sua carreira na França e é o único ser humano a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes, física e química.
Descobriu dois novos elementos químicos, o Rádio e o Polônio e muitas das propriedades da radioatividade. Foi a primeira a relatar que a radioatividade matava com maior facilidade células tumorais que células vivas, dando origem à radioterapia que tem salvado a vida de milhões de pessoas
Durante a 1ª guerra mundial organizou unidades móveis de radiografias para atender os feridos em combate, salvando assim milhares de vidas, essas unidades foram conhecidas como as “petit Curie”.
Não conhecendo os efeitos nocivos da radioatividade, morreu como consequência de longos anos de exposição a ela, de anemia aplástica em 1934.
Ao iniciar a faculdade de medicina passamos a admirar o grande fisiologista argentino Bernardo Houssay. Prêmio Nobel de Medicina de 1947 e autor de um dos livros textos de Fisiologia mais usados em Latinoamérica.
Houssay foi o professor do Dr. Miguel Rolando Covian, considerado o pai da neurofisiologia brasileira, o Dr. Covian foi o grande incentivador do Departamento de Neurofisiologia da USP de Ribeirão Preto.
Ao longo da vida académica muitos pesquisadores foram motivo de admiração e reverência, entre eles podemos citar ao famoso neurocirurgião Wilder Penfield.
O Dr. Penfield foi um pioneiro nas cirurgias em pacientes com epilepsia e também no monitoramento neurofisiológico durante as cirurgias do cérebro. O grupo de Penfield no Instituto Neurológico de Montreal realizou descobertas importantes sobre o funcionamento do cérebro e a anatomia do córtex cerebral motor e somatossensorial.
Nessa lista de grandes pesquisadores se encontra também o brasileiro Manoel Dias de Abreu, criador da Abreugrafia. Abreu desenvolveu um método prático e barato para fazer o diagnóstico da tuberculose, doença endêmica na primeira metade do século XX.
A abreugrafia é como uma foto pequena de um Rx de tórax. Muito mais barata que uma chapa de tórax, permitia o uso em larga escala para o diagnóstico precoce da tuberculose pulmonar. Sua técnica ajudou a salvar milhares de vidas no mundo todo.
Mereceu ganhar o prêmio Nobel de Medicina, foi candidato ao mesmo em três oportunidades, em 1946, 1951 e 1953. Sobra dizer que a academia sueca nunca deu o mesmo valor aos talentos do lado de baixo da linha do Equador.
Pouca gente já ouviu falar de Peter Brian Medawar, prêmio Nobel de medicina de 1960. Peter nasceu em Petrópolis, filho de mãe britânica e pai libanês, emigrou para Inglaterra aos 15 anos de idade, estudou biologia e zoologia e se dedica à pesquisa científica na área de imunologia, especificamente na área da rejeição de tecidos, é considerado o pai dos transplantes.
Não sabemos se perdeu ou renunciou à cidadania brasileira, se não fosse este fato seria o único brasileiro a ter ganho um prêmio Nobel.
Como último exemplo não podemos deixar de citar a Rita Levi-Montalcini, italiana que ganhou o Nobel de Medicina de 1986 pela sua descoberta dos fatores de crescimento neuronal. Possuidora de uma inteligência privilegiada, tem sido referência para milhares de pesquisadores.
Todos os cientistas citados têm em comum o fato de terem sido migrantes ou filhos de migrantes.
Marie Curie polonesa que trabalhou na França. Houssay, argentino filho de franceses. Covian, argentino que se naturalizou e trabalhou no Brasil. Penfield, norte-americano que adotou o Canadá para suas pesquisas. Manoel Abreu, brasileiro que estudou na França, filho de portugueses. Medawar, brasileiro-britânico, de pai libanês. Levi-Montalcini, italiana que desenvolve seu trabalho nos Estados Unidos.
A ciência mostra que não existem barreiras entre as nações e essa mensagem é particularmente importante em tempos de discursos intolerantes e ultranacionalistas.