Nascida em Imbuia, radicou-se em Brusque cedo, aos 10 anos de idade. Adriana Zucco ensaiava em casa um futuro brilhante na moda, e num berço têxtil, teve contato direto com bons tecidos desde cedo. Os pais eram vaidosos nessas seleções, e não abriam mão na hora de escolher os materiais para confeccionar as peças próprias.

Estudou moda em Brusque, na Unifebe, e numa oportunidade, ingressou na Colcci. A marca cresceu em cima da farmácia Lindoia, no centro de Brusque, numa sala onde tudo acontecia, desde criação até comercialização. Francamente, tinha tudo pra não dar certo. As criações eram básicas, sem estampa. Pelos corredores da confecção, o parceiro da equipe era o Digby. Um cachorro de afeto a fundadora da marca, Lila Colzani. Foi o familiar rostinho de Digby o primeiro grande boom em vendas da Colcci, que conquistou o consumidor, inclusive os latino-americanos que frequentavam a loja de Balneário Camboriú na temporada, em busca das épicas peças estampadas do cachorrinho Digby.

Mais tarde, Adriana Zucco acompanhou de perto as principais transações da marca, até em 2010 assumir o posto de coordenadora, e dirigir todos os processos de criação no feminino, o carro chefe. Cosmopolita pra quem vê, mas também rural para quem conhece, não esconde que um de seus refúgios favoritos é estar em contato com a natureza.

André Groh entrevista Adriana Zucco nos bastidores do Balneário Trends, evento do Balneário Shopping que reúne grandes nomes do cenário da moda no Brasil. Fotos Guma Miranda

Adriana Zucco participou ontem do Balneário Trends, evento que discute moda entre os principais nomes do cenário no país. Nos bastidores, pelo Balneário Shopping, antes de subir ao palco que dividiria com a jornalista e mediadora Laura Coutinho, nos recebeu para um bate-papo no camarim.

André Groh: Como é a Adriana mãe?
Adriana Zucco: Essa Adriana é muito parecida em casa e no trabalho. Eu sou multitarefa, gosto de fazer muita coisa ao mesmo tempo. Meio inquieta.

A.G.: Desejou que a Eduarda (filha) seguisse o caminho da moda?
A.Z.: De jeito nenhum. Acho que a Eduarda tem um perfil diferente. Ela é ciências exatas. Ela pode parecer fisicamente comigo, o jeito de falar, mas ela é ciências exatas. Estuda engenharia civil, já fez design gráfico mas não seguiu.

A.G.: Mãe baba, né.
A.Z.: Nossa, morro de orgulho! Ainda é formada em Business nos Estados Unidos. É uma nerd, super inteligente.

A.G.: Seu lifestyle diverge entre uma mulher cosmopolita e rural ao mesmo tempo, que gosta de ter contato com a natureza.
A.Z.: Essa é minha fuga, meu ponto de equilíbrio. É fundamental. Adoro qualquer lugar isolado. Gosto de destino de férias que tenha essa característica também. Porque nessa vida urbana, é de um estar um dia em Tokyo, e voltar no outro dia e ir direto para Imbuia (SC), num lugar completamente rural, que não tem nada.

A.G.: E quais deles te inspira mais?
A.Z.: Os dois, essa vida urbana e o dia-a-dia precisa de um equilíbrio. A gente precisa parar tudo, respirar fundo para poder raciocinar bem. Essa rotina não é só minha, a atendente do comercio que está lidando com alguém que está muito estressado, sempre correndo… É uma rotina de todos, e o equilíbrio precisa estar em todos. A loucura desse lifestyle contemporâneo está nos engolindo.

A.G.: Há bastante elementos da natureza nas suas criações. Esse contato tem um Q mais forte na sua veia artística?
A.Z.: Eu adoro. Trago pra Colcci com certeza, nos pássaros, nas plantas… Nas coleções de inverno sempre tem uma coloração.

A.G.: Como foi trabalhar com a Marina Ruy Barbosa?
A.Z.: Depois de 10 anos com Gisele Bündchen, a gente está um pouco descolado já. Só que a diferença com a Marina, foi criar uma coleção para ela. É essa digital influencer com 27 milhões de seguidores, e a Gisele de um outro tempo, mas igualmente uma celebridade reconhecida mundialmente. Então é claro que a Marina é uma menina de outros tempos, é digital, urbana, uma workaholic também, e faz mil coisas ao mesmo tempo. Você a vê gravando 2h da manhã, e aos finais de semana nossas campanhas acontecem no domingo com ela, porque é o único dia que tem livre. Traz a família junto, a mãe, o marido, e é uma troca muito boa. Ela é uma menina muito inteligente, admira muito a marca. A Colcci é jovem e desperta esse mood que é vanguarda, jeanswear. Ela que é uma fashionista, adorou. No momento de fazer a coleção dela, visitou a fábrica com toda a equipe dela e passou um dia inteiro em Itajaí.

A.G.: Essa coleção tem super a cara dela então.
A.Z.: Sim, são inspiradas no lifestyle dela. É uma celebridade que está sempre brilhando, muito feminina, com um sexappel muito elegante. O diferencial para a Marina de muitas celebridades do país, é porque ela pode ter um super decote e estará muito elegante, fugindo da vulgaridade.

A.G.: Essa transição de Gisele para Marina, é para consagrar a Marina como o novo rosto feminino da Colcci?
A.Z.: Com certeza, por uma temporada. A gente faz uma coleção a parte, da marca, que ela é a garota propaganda, e temos essa coleção cápsula a cada estação.

A.G.: E masculino?
A.Z.: Existe especulações, mas por enquanto a gente não tem.

A.G.: O que você mais gosta na criação de trazer para duas coleções?
A.Z.: São tantas coisas, e tem que gostar muito. Eu gosto das etapas, de costurar os assuntos, desenvolvimento de cartela de cor, até escolha dos tecidos. Alguns exclusivos, de fora do Brasil. A gente tem um poder de compra grande. Isso é um ponto importante que a marca tem. Eu sei que as marcas limitadas não tem esse poder, e fica mais complexo para eles. Por fim, o desafio é fazer isso se transformar numa linguagem que se conecte com o consumidor, nosso público jovem. Porque hoje o jovem não está muito ligado a idade, e sim ao lifestyle da pessoa.

A.G.: Quanto tempo de casa já?
A.Z.: Muito, mais de 20.

A.G.: Você acompanhou as principais transições da colcci, desde a saída da Lila Colzani.
A.Z.: Comecei trabalhando com a Lila, foi um privilegio. Ela fez a Colcci nascer. E teve muito de ter essa estrela na marca. Em 2000, transitamos com a compra da Menegotti, que detém outras grandes marcas, Forum, Trinton, Tuffi Duek… É um grupo com grande distribuição no mercado. Isso tudo com o estrategista e visionário do Alexandre Menegotti.

A.G: Como é a concorrência interna entre as marcas?
A.Z.: Em alguns momentos é, e alguns momentos não. É muito tênue essa linha hoje, com estratégias de vendas e perfil. Não existe muito de ter um estilo e usar só uma marca. Eu quero ser esportiva de manhã, e a noite quero ser super sexy. É dessa liberdade que o brasileiro gosta.

A.G: O que mudou nos últimos 10 anos na moda?
A.Z.: A conexão com o consumidor é muito diferente a linguagem. Estou há mais de 20 anos na empresa, é quase atípico eu sei, mas não me sinto estagnada. Há tantas mudanças a cada coleção. Em 2010 quando fui convidada para ser a coordenadora da marca, eu fiz desfiles do SPFW. Foi em torno de 12 desfiles em 5 anos.

A.G.: Hoje a Colcci não está mais no SPFW.
A.Z.: Coisa de estratégia, voltado ao digital. A mudança para seguir um novo caminho. A Colcci se esbaldou esses anos todos que participou, as pessoas sabiam que nossos eventos eram um sucesso. Os desfiles estavam sempre lotados. Enquanto fizemos o SPFW, a Colcci foi capa de várias revistas internacionais. Tenho na minha sala elas.

A.G: A que se deve a perca de força do SPFW?
A.Z.: A mudança do consumidor, não do evento em si. O consumidor vê com outros olhos, e o movimento digital é muito forte. Quando a gente fala de uma Marina, tem muito haver com isso. O mercado está muito voltado ao digital, e isso faz diferença para todas as marcas.

A.G.: Como você enxerga o cenário têxtil da nossa região em relação a outras partes do país?
A.Z.: Geralmente a gente fala que São Paulo tem um polo de moda mais forte. A Colcci também foge da regra. As fashionistas estavam em São Paulo, e a gente acabou com essa imagem. É um mérito muito forte do Alexandre, em não medir esforços para o crescimento da marca. E sendo aliado a esse polo têxtil, é uma receita de sucesso que não tinha no mercado.

A.G.: Qual sua expectativa do futuro na moda?
A.Z.: Crescimento, sei que o brasil é muito instável economicamente. Mas não é só o Brasil. A gente vê que a Europa também vive um momento difícil. A moda sentiu algumas mudanças, mas ao mesmo tempo, a crise é um momento de se renovar e até de crescimento.

A.G.: Qual impacto as fast-fashions causam no cenário?
A.Z.: Para o Brasil, elas acabam tendo uma participação muito significativa com certeza. Mas o consumidor reconhece quem é quem, e vai se conectar com uma ou outra. Tem mercado para todo mundo.