Em tempos frios como estes, vemos (e participamos) de campanhas de doação de roupas usadas. É uma ajuda praticamente sem custos, pois normalmente é doado apenas o que não nos fará falta. Alguns dizem que é quase uma obrigação e quase um descaso deixar mofar e estragar as roupas que não utilizamos mais, enquanto sabemos que há tanta gente por aí precisando delas. Enterrar as roupas velhas, para que ninguém mais as utilize, não soa muito bem. Alguns diriam que seria um absurdo, um egoísmo. No mínimo, seria uma atitude incoerente com as necessidades dos demais.

A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos notificou, no primeiro trimestre de 2016, uma queda em todas as taxas de doações e transplantes de órgãos em comparação ao ano anterior, abaixo da expectativa para o período.  A recusa dos familiares em doar os órgãos do ente falecido é a principal causa da não concretização da doação. Entre janeiro e março deste ano, no país, a taxa de recusa dos familiares de potenciais doadores foi de 44%. Em Santa Catarina, 41%. Potenciais doadores são indivíduos que apresentam morte encefálica confirmada através de um longo protocolo e, só após sua concreta confirmação, uma equipe especial realiza a abordagem dos familiares, que podem aceitar ou recusar a doação de órgãos. É frequente o questionamento sobre possíveis mudanças na aparência do falecido. A resposta é “não”, pois externamente não haverá alterações. O velório poderá ocorrer normalmente, e ninguém precisará saber se os órgãos foram ou não doados.

No Brasil e em Santa Catarina, a maior fila de espera é por doação de rim, por indivíduos portadores de doenças como insuficiência renal. Em segundo lugar estão os pacientes aguardando córneas, devido a doenças como ceratocone, cicatrizes e falências corneanas. Entre outros órgãos e tecidos que podem ser transplantados estão fígado, coração, pulmão, tecidos ósseos, pâncreas..

É possível, mesmo em vida, realizar doações. Doação de sangue custa muito pouco para quem doa. Em casos muito selecionados, doação de parte da medula óssea, um dos rins, parte do fígado ou do pulmão podem ser realizados em vida, mas neste caso são necessárias avaliações especiais.

Voltando à metáfora das roupas: Se você possui dois casacos em uso, doar um deles é um ato de grande amor. Se você possui 50 meias, talvez uma meia doada não lhe fará falta e você poderá repô-la em breve. Mas se você possui diversos casacos, blusas, meias e não irá mais utilizar nada disso, tem certeza que deseja deixá-los apodrecer enquanto há tanta gente lá fora “passando frio”?

Para ser um(a) doador(a), basta avisar seus familiares!

 

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Maiara Dalcegio Favretto  – Oftalmologista, transplantadora de córneas e doadora de órgãos