Fabrício Carpinejar é um poeta autêntico, tanto em sua escrita, quanto sua imagem pessoal. Comentarista do programa Encontro com Fátima Bernardes, já publicou uma série de livros, e sua grande maioria, com relacionamentos familiares de tema principal. Mas de uma forma a frente de seu tempo, com reflexões cotidianas acerca da “liberdade natural”, como define o relacionamento com seus filhos.

O escritor esteve em Balneário Camboriú ontem, 27, quando participou da primeira noite de Balneário Trends. O bate-papo reuniu um público no Balneário Shopping com o tema “Você é seu avatar? Como conciliar essência e aparência na atualidade”.

André Groh: Você tem uma aparência moderna e descolada. É um pai mais liberal também? Como é sua essência de pai?
Fabrício Carpinejar:
Eu não sei se aquilo que você chama de liberal, para mim não é uma liberdade natural. Ou seja, escolher aquilo que se quer fazer. Optar e não sensurar amor. Quero que meus filhos tenham suas próprias dúvidas e não herdem minhas certezas. Certeza é fruto de experiência, e a gente não pode, por mais que a gente ame um filho, viver no lugar dele.

A.G.: Como a base familiar tornou-se uma inspiração nos livros?
F.C.: Eu sou filho de escritores. Em casa você não tem ideia o que era sobreviver no almoço. Não bastava viver, você tinha que contar a melhor história sobre seu dia. Era um concurso de trova. E isso me fez bem, no sentido que sou devoto a palavra. Se te dou a palavra, com certeza vou cumprir. Palavra é compromisso, responsabilidade. A gente fala para enganar, para não fazer… E de uma certa forma para protelar. E eu acredito na palavra. Esse é o grande principio da minha família. Eu tenho uma aparência extravagante, e sou feio né. O feio tem uma irreverência natural.

A.G.: Você se veste de uma forma moderna.
F.C.: Mas sou inconsequente, posso me vestir de qualquer jeito. Quem é bonito tem que se manter no aprumo. Quem é feio pode sair com um sapato prateado, que as pessoas vão olhar o sapato. É uma distração à sua feiura. É uma maravilha.

A.G.: Você não se veste mal. Um feio deve ser extravagante?
F.C.:
Total.

A.G.: Mas ele não devia se conter na composição de cor e estampa?
F.C.:
É uma evolução, porque ele vai deixar de ser chamado de feio, para ser chamado de esquisito. O feio é muito mais honesto, ousado e exótico. Ele se permite mais. Não tem tanta máscara. Não conheço feio mal-humorado, ele é agradável e passa isso na própria composição de figurino.

A.G.: Quero que você me conte um pouco sobre seu processo criativo na escrita. O que mais te inspira além da base familiar?
F.C.:
Manter esse link de aproximação com o leitor. Nunca pensar que estou sozinho. Por exemplo no instagram eu tenho um espaço para responder dúvidas dos meus leitores. É sei lá, uma encrenca, um cara que fica fiscalizando a esposa porque acha que ela está traindo… Eu preciso mostrar para ele que isso é uma paranoia.

A.G.: Você conta que esposa tem sua senha do telefone.
F.C.:
Tem. Eu não tenho problema com isso.

A.G.: Como que as redes sociais estão mudando a vida das pessoas?
F.C.:
Criou um tumulto.

A.G.: Um tumulto positivo?
F.C.:
Eu sou uma pessoa focada, e não preciso da solenidade para escrever. Não preciso me isolar ou me distanciar. Escrevo de qualquer lugar que estou, na maior zoeira ou numa balada. Escrevo só no celular. Todos os meus livros foram escritos assim.

A.G.: Quem te ajuda a editar?
F.C.:
Eu mesmo. Conheço o texto e gosto dessa sensação de letra a letra.

A.G.: Por que você diz que os escritores estão lutando pra se manter?
F.C.:
Porque acontece uma perseguição ideológica, e não estamos aceitando que o outro pense diferente. Nós precisamos aceitar que o outro pense diferente. Todo mundo quer ter domínio, ‘eu fiz a escolha certa’. Mas essa escolha certa é protelar.

A.G.: O leitor ou escritor tem essas escolhas?
F.C.:
Ambos precisam. E precisamos entender que nem na nossa família somos unânimes. Vai ter gente te odiando, e isso é bom. Inimigos são desafetos agradáveis.

A.G.: Mas falar bem é melhor, não acha?
F.C.: Eu gosto de falar bem. Eu digo que admiração é falar bem nas costas. Quando a pessoa não está perto.

A.G.: Por que não na frente?
F.C.: A outra pessoa fica vaidosa. Sempre que recebe elogio, a gente tem uma grande dificuldade, parece falso. Se alguém fala ‘como você tá lindo’, vais pensar ‘que baujalacao é essa? O que ele quer?’.