A advogada Sandra Mara Silveira é uma inspiração quando o assunto é viver a vida com alegria. Natural de Curitiba, sempre teve Brusque como destino nas férias, quando vinha visitar familiares e acabou escolhendo a cidade para fincar raízes, ao sair de casa com 17 anos para cursar a faculdade de Direito. Por aqui, trabalhou no Banco Itaú e na Fábrica Schlösser, até abrir seu escritório de advocacia.

Sempre com um sorriso no rosto e uma energia contagiante, Sandrica como é carinhosamente conhecida, se orgulha dos 50 anos de vida bem vividos. Mulher empoderada, tem como características a coragem, determinação, lealdade e persistência. Para Sandra, a felicidade está em ter fé e conduzir a vida com gratidão.

André Groh: Como se deu a escolha pelo Direito e a vinda para Brusque?
Sandra Silveira: Eu sempre quis fazer Direito e queria muito começar minha vida profissional numa cidade pequena. Então, como tinha familiares aqui, conversei com minha mãe para ela deixar eu vir. Tenho amor por esse lugar, pois tudo que sou como pessoa e profissional, foi Brusque que me deu. Cheguei em 1988. Morei com uma tia por um ano e quando fiz 18 anos, fui morar sozinha. Trabalhei pouco tempo no Banco Itaú e por quase três anos na Fábrica Schlösser, que foi uma experiência muito bacana. Me trouxe uma humanização incrível. Em 15 de março de 1992 abri meu escritório de advocacia, espaço que se mantém na rua Adriano Schaefer há 28 anos. Por muito tempo atuei na área de Direito de Família e atualmente, tenho me dedicado mais à área empresarial, mas minha paixão ainda é o Direito de Família e a humanidade que essas ações me proporcionam.

A.G.: Quais as pessoas ou as coisas que te inspiram?
S.S:.: Tem muitas coisas e pessoas que me inspiram. Tive uma infância muito rica. Tenho muitas memórias na casa da minha avó e brinco que virei uma adulta com espinhas na cara. Eu tinha 15 anos quando meu pai faleceu e amadureci muito cedo. E assim como ele foi um exemplo de força pra mim, minha mãe também sempre foi uma pessoa incrível que me ensina ainda hoje, com seus 82 anos. Ela é uma das pessoas mais lindas que eu conheço, de uma bondade sem igual. A alegria dela é contagiante. Sem dúvida, pessoas de bom coração, otimistas, me inspiram a viver bem e buscar ser melhor. Tenho uma convicção na vida muito clara: Felicidade dura pra sempre, tristeza não. Embora eu tenha tido uma vida muito bonita até aqui, enfrentei momentos duros, mas com a certeza de que teriam dia para acabar, porque não se vive tristeza para sempre. Enquanto eu estiver viva, a felicidade tem que ser o meu norte. Sofra por aquilo que te derrubou, chore mesmo, não guarde, mas dê um dia para aquilo ter fim, porque o que se guarda e o que se respira, deve ser a felicidade, e não a tristeza. Estar viva é minha maior inspiração.

AG. Quem é próximo a ti ou te acompanha pelas redes sociais, sabe que gostas de expor teus sentimentos através de textos. Como surgiu esse gosto pela escrita?
SS. Desde criança, nos Cadernos de Recordações, enquanto todo mundo escrevia uma mensagem de três ou quatro linhas, eu ocupava todas as linhas da frente e verso da folha. Sempre li muito e gosto de escrever o que sinto. Até num momento crucial da minha vida, que foi meu divórcio, muitas pessoas questionaram se tinha necessidade de eu expor meus sentimentos. Mas, escrever me ajudou a colocar pra fora a minha dor. Afinal, eu sempre escancarei minha felicidade e não podia deixar de expor também, um momento de dor. Quando a gente escreve com a alma, com o coração, as palavras fluem. É algo que me traz satisfação.

A.G.: Você passou por um divórcio após um relacionamento de 30 anos. De que forma esse momento te fortaleceu enquanto mulher?
S.S.: Me considero uma pessoa privilegiada, porque sempre tive uma vida agraciada. Mas a morte do meu pai e o divórcio foram dois momentos muito difíceis. Eu considerava esse relacionamento, esse amor, a história das nossas vidas e quando isso se rompeu, eu não via muitos anticorpos para lidar com esse tipo de dor. Foi muito difícil a desconstrução daquele castelo tão bonito e daquela felicidade para reconstruir algo. Eu me vi tendo que reconstruir todas as minhas rotinas. Como não tivemos filhos por opção, todas as nossas rotinas eram juntas e reconstruir rotinas sozinha foi difícil. Ao mesmo tempo que foi fortalecedor, e prazeroso ver uma nova Sandra surgir. Não foi fácil, mas foi enriquecedor ver uma nova mulher ressurgir aos 48 anos de idade. Inclusive, brinco com a pessoa com quem estou me relacionando agora, de que a Sandra que está aqui é outra, que nem eu mesma conhecia. Minha essência é a mesma, mas sou uma nova mulher. O melhor de tudo é ver do que efetivamente fui e sou capaz. Logo veio a comemoração dos meus 50 anos de vida e foi um dia extremamente feliz. Comemorar meio século com a certeza, de que a vida se renova.

Fotos Ana Roberta Venturelli

 

A.G.: Ao falar no teu aniversário de 50 anos, me vem à cabeça, tua felicidade em subir ao palco e cantar a música Candy (Iggy Pop). O que essa música representa?
S.S.: Amo música e amo rock. Agora estou numa vibe eclética, mas Candy apesar de ter uma letra boba, possui um significado sentimental. Essa música se transformou num hino para minha turma de amigas, que se tornaram as Candy Sisters. Virou uma marca registrada nossa. Eu sempre gostei da música, da melodia, da energia dela. Virou um momento de libertação poder subir num palco no meu aniversário e com amigos, para cantar.

A.G.: E a Culinária, como entrou na tua vida?
S.S.: Minha avó e minha mãe me ensinaram muitas coisas. Mas no dia a dia, com o trabalho, sempre foi mais prático comprar marmita pronta ou ir em restaurantes. Com o tempo, passei a tirar um dia para cozinhar em casa e mais tarde, juntamente com algumas amigas, formamos um grupo de culinária que tem uma chef que nos ensina vários pratos. E cozinhar se transformou numa terapia. Alimentar é dar vida para alguém. O ato de cozinhar para si e para alguém nos liberta de muitas coisas. Sempre gostei de cozinhar e esse momento de pandemia me fez voltar a cozinhar todos os dias. Tanto que os restaurantes reabriram e eu continuei preparando o almoço diariamente. Ter pessoas ao teu redor numa cozinha, será sempre sinônimo de família, afeto e amor.

A.G.: Desde quando te consideras uma mulher empoderada?
S.S.: Acho que desde sempre. Lembro que enquanto todas as meninas usavam vestidinho, eu gostava de usar terninho. Eu sempre fui combativa, argumentadora, muito leal. Quando ouvia um ‘não’ da minha mãe, eu queria saber ‘por quê’. Eu sempre sustentei muito as minhas convicções, sempre disse o que eu penso e tenho a humildade de voltar atrás, se eu não estiver certa. Isso foi me dando a liberdade de ser quem eu quisesse ser. Quando fui morar sozinha com 18 anos, tinha foco e me entreguei com todas as forças em tudo o que quis. Sou muito intensa. E vale a pena pagar alguns preços para perseguir aquilo que se acredita. Sempre tive a característica de ser forte e a certeza, de que eu daria a volta por cima. Na morte do meu pai e no meu divórcio, no extremo da dor eu tinha dentro de mim que tudo iria ficar bem.

A.G.: Quais as maiores dificuldades que as mulheres ainda enfrentam nos dias de hoje?
S.S.: Estou inserida numa profissão onde é muito comum ver o preconceito e a desigualdade que a mulher ainda enfrenta. Infelizmente, vemos muita análise comportamental, de pessoas que insistem em querer ditar o comportamento da outra. E essa é uma bandeira pouco levantada, de que a mulher pode ter o comportamento que ela quiser. Gosto de deixar bem claro que sou a Dra. Sandra Mara Silveira da porta do meu escritório pra dentro. Quanto estou com um processo na mão, tenho que vestir aquele personagem. Da porta pra fora, eu sou a Sandra, a Sandrica, filha, namorada, amiga, vizinha. E que ninguém tem que me julgar enquanto profissional, pelo comportamento e pelas coisas que eu faço no meu dia a dia, fora do trabalho. Advogada é meu meio de sustento, não é a minha vida. Amo o que eu faço. Acordo com alegria para ir trabalhar, mas isso não é minha vida toda. É preciso enfrentar e assumir o controle da sua vida. O controle está nas nossas mãos. Nada pode ser mais valioso do que a liberdade. E olhar no espelho e dizer: não vou permitir que façam isso comigo. E isso vale para mulheres e homens. Todas as bandeiras devem ser levantadas, mas o enfrentamento é nosso. Temos o dever de tentar nos libertar de algo que nos oprime e nos tira o direito de ser quem nós queremos ser.

A.G.: És uma pessoa que gosta de celebrar e de estar cercada de amigos. Como tem sido esse momento de isolamento social?
S.S.: Eu realmente gosto muito de estar com as pessoas. Ser o apoio de alguém e ter com quem contar nos momentos bons e difíceis, é o grande tesouro da vida. Tenho amigos que são pessoas fundamentais e que mesmo longe, fazem toda diferença. Sou apaixonada pela vida. Amo viver! Acordo todos os dias com muita vontade de aproveitar ao máximo e sofro com esse momento de reclusão, por não poder abraçar, festejar. Pra mim, não existe afeto e amor sem toque. É muito difícil não estar com as pessoas e um grande aprendizado dessa quarentena é como enfrentar nossas carências.

A.G.: Para qual injustiça darias uma solução, se pudesse?
S.S.: Para a desigualdade. O Brasil é um país incrível. Vivemos lutando pra ver a corrupção diminuir, mas é muito triste, pra mim, que estou inserida na área do Direito, ver a guerra política deflagrada diante de um problema tão grande, em que pessoas estão morrendo mundo afora e aqui vemos uma brincadeira de cabo de guerra, onde de um lado a Suprema Corte do país perde seu tempo com análises e julgamentos que nem de longe são necessários. Se pudesse, daria um fim a esse jogo de interesses. Acabaria com a desigualdade e sei que é impossível garantir que todas as pessoas vivam em condições iguais. Porém, cada vez mais, nos deparamos com uma infinidade de interesses particulares. As pessoas só se preocupam com o seu umbigo e não existe uma consciência coletiva. O maior problema do país hoje é o egoísmo, individualismo.

A.G.: És uma pessoa de fé?
S.S.: Tenho muita fé. Sempre acreditei que o cara lá de cima iria ser muito bom comigo. Em 50 anos de vida, tive dois grandes sofrimentos e me considero uma pessoa privilegiada. Sempre que eu quero alguma coisa, posso até não conseguir, mas nunca deixarei de tentar. E assim, temos que nortear nossa vida. O segredo da felicidade está em ter fé e em conduzir a vida com mais gratidão. Colocar na balança as coisas boas e ruins, e agradecer por ter sempre mais coisas boas. Que possamos ser gratos e inspirar as outras pessoas a viverem melhor. Esse é o grande presente da vida.