Ascensão e declínio do kart: popular nos anos 90, modalidade encolhe e vive baixa em Brusque

Município contou com uma pista oficial de kart até 2017 e, desde então, atletas treinam fora da cidade

Ascensão e declínio do kart: popular nos anos 90, modalidade encolhe e vive baixa em Brusque

Município contou com uma pista oficial de kart até 2017 e, desde então, atletas treinam fora da cidade

A prática do kart em Brusque já foi uma febre, corridas aconteciam na avenida Beira Rio, no estacionamento da Sociedade Esportiva Bandeirante e até no estacionamento próximo da rodoviária. Décadas atrás, o Automóvel Kart Clube de Brusque foi responsável por tornar a cidade uma das mais relevantes no estado para a prática. No entanto, atualmente a modalidade está em baixa, e os praticantes treinam fora da cidade há cerca de oito anos.

Luiz Carlos Loos atual presidente do clube, conta que o kart brusquense começou pelas mãos do José Carlos Loos, o Juca Loos, o pioneiro, que em 1966 adquiriu um modelo original Rois-Kart, em São Paulo, que depois se transformaria no famoso Kart-Mini, usado pelos irmãos Fittipaldi, também naquele período.

“Naquela época, ele e a esposa Verônica andavam na antiga pista de atletismo da Sociedade Bandeirante, acelerando fundo! Então outros, mais adiante, compraram karts também, como Diegoli e Battistotti. Assim, logo adquiriram modelos mais novos do Kart-Mini, fazendo ‘pegas’ pelas ruas de Brusque, como a avenida Augusto Bauer, avenida das Comunidades e a rua do Centenário”.

Na década de 70, Juca e outros companheiros estavam na disputa pelo Campeonato Catarinense e outras competições que aconteciam no Paraíso dos Pôneis, em Gaspar.

Criação do Kart Clube Brusquense

O começo da formação do Kart Clube Brusque, concretizado em 1983, aconteceu após Juca presentear o filho Klaus Loos com um kart, para participar de competições que se realizavam. Nesse contexto, vários outros karts e pilotos foram surgindo na cidade, culminando com a fundação do clube, no dia 13 de maio daquele ano, “sob a presidência de Frederico Heil, e a participação de abnegados como eu, Klaus, Luisinho Loos e muitos outros que, já naquela época, pleiteavam a construção da pista própria”.

Desfile de 4 de agosto de 1983 em prol da construção do kartódromo | Luiz Carlos Loos/Arquivo pessoal

No período da fundação do clube foram realizadas duas corridas oficiais, uma em 1983 e outra em 1984. As duas, ocorreram no estacionamento da Sociedade Bandeirante, formado com lajotas sextavadas.

Kart em Brusque
Klaus Peter Loos na primeira corrida oficial de kart de Brusque, realizado na Bandeirante, em agosto de 1983 | Luiz Carlos Loos/Arquivo pessoal

“Somente em 1994 reuniu-se novamente um contingente de pilotos, realizando então uma prova no agora estacionamento asfaltado do Bandeirante. Partindo em seguida para campeonatos na avenida Beira Rio, em 1995 e 1996, culminando finalmente com a construção e entrega da nossa pista oficial perto do pavilhão da Fenarreco, no final de 1996”, conta o presidente Luiz Loos.

Corrida de kart na Beira Rio
Corrida realizada na avenida Beira Rio em 1995 | Luiz Carlos Loos/Arquivo pessoal

“Boom” do kartismo e construção da pista

O kartista brusquense Dado Szpoganicz, sócio do clube, e diversas vezes campeão de competições de kart, conta como começou a praticar e como surge kartódromo de Brusque.

“Participo do kart desde 1994. Na época, foi logo após a morte do Senna, onde houve um ‘boom’ no Brasil. Muita gente começou a andar de kart. Eu entrei nesse ‘boom’, mas por conta do meu tio, que já havia sido piloto de kart nos anos 80”.

Ainda em 1994, Dado menciona que tudo começou com uma brincadeira com o veículo no estacionamento do Gecheft House. E que logo em seguida começaram a acontecer corridas de rua na avenida Beira Rio.

“Essas corridas aconteciam ali, desciam o morro da rodoviária, seguiam para a Beira Rio, em direção à ponte”. Até que em 1996 o clube e demais sócios se juntaram, com apoio da Prefeitura de Brusque, e construíram a pista de kart. Dado conta que foi o primeiro piloto de kart a andar na nova pista.

Dado na pista do kartódromo de Brusque em 1997 | Dado Szpoganicz/Arquivo pessoal

Nesta pista, além dos treinamentos, aconteciam campeonatos estaduais e o torneio Citadino. “A Rocam também fazia treinamentos de moto lá. O pessoal do ciclismo usava, aconteciam gincanas dos colégios. Acontecias muitas coisas, era uma área bem cuidada”.

Aknaton Camargo, ex-presidente do Kart Clube e agora conselheiro de assuntos gerais, conta que para a viabilização da pista de Brusque houve uma pessoa muito importante. “O doutor Joel Mendes, que era o presidente do clube na época. Ele dedicou muito tempo para a construção do kartódromo”.

Dado prossegue mencionando que a pista surgiu num período em que Brusque era diferente e entende que, hoje, não caberia mais uma no Centro, como era antes. O kartódromo foi fechado, em 2017, por estar localizado em um terreno pertencente à família Hoffmann, que havia sido apropriado pela Prefeitura de Brusque de maneira irregular em outra ocasião, uma situação que foi discutida durante muito tempo.

Conforme Aknaton, a pista ficou ativa de 1994 a 2017. “Foi uma dificuldade grande montar aquele kartódromo, montar a estrutura da pista”.

“Se não me engano, durante o governo do prefeito Ciro Roza foi colocado um simpósio de arte em cima da pista e então ela foi fechada. Quando o prefeito Paulo Eccel assumiu a prefeitura, uma das promessas dele era a devolução da pista e auxílio na reforma, o que foi feito por ele. Somos muito gratos”. A pista então voltou a ativa em 2013 e funcionou até 2017.

Em 2015, diversas reformas foram realizadas para que o kartódromo pudesse voltar a receber grandes eventos de nível estadual. Toda manutenção que era feita na pista e no espaço do kartódromo era realizada pelo clube.

Último ano da pista de kart

No último ano de funcionamento da pista, o clube havia tentado junto a Federação Catarinense da modalidade que a competição estadual fosse realizada em Brusque, o que aconteceu. A ação teria o intuito de fazer um ano especial, visto que o terreno deveria ser desapropriado pela entidade. O evento bateu recorde de público na época.

Apesar do fim do kartódromo, com as competições realizadas no último ano, o período foi considerado um sucesso. Aknaton diz que o clube ficou satisfeito com os resultados. “O fechamento de um ciclo de um kartódromo que foi tão importante para nós e para tantos outros, não só do kart, mas do ciclismo, gincanas das escolas, para a Polícia Militar, que fazia treinamentos ali, e outras pessoas que utilizavam o espaço”.

Foto do Campeonato Catarinense de Kart, realizado em Brusque, em 2017 |
Acervo Eduardo Szpoganicz/Edson L. Costa Costa

Para o ex-presidente, o fechamento da pista gerou o um sentimento de frustração. “A gente ficou muito triste na época, a pista foi retirada de nós e ficou ali por mais três anos, até 2020/21 que foi quando a prefeitura começou a mexer na ponte nova. Então ficamos três anos sem espaço, continuamos até hoje sem esse espaço, que era um cartão postal da cidade”.

Ele menciona que talvez o clube poderia ter ficado por mais um tempo no local até o início de fato das obras da prefeitura. E que isso poderia ter ajudado o clube na organização do planejamento da nova pista.

Posteriormente, o clube recebeu a concessão de parte do terreno no Complexo Chico Wehmuth, no bairro Bateas. “Depois de muita discussão ficamos com o espaço, do qual já desembolsamos muito dinheiro para terraplanagem, cercamento, mas até agora não conseguimos edificar a pista por motivos financeiros. Mas seguimos firmes na tentativa de ter um kartódromo em Brusque”.

Integrantes do Automóvel Kart Clube de Brusque após concessão de parte do Complexo Chico Wehmuth| Divulgação

Hoje, Aknaton diz que o clube está em busca de recursos, através de projetos, mas que há uma grande dificuldade devido ao alto custo para a construção da nova pista. Por não ter mais uma pista no município, os atletas da região são obrigados a se deslocarem para outras cidades para treinar.

E ao final, recorda de alguns, dos diversos nomes que já correram em Brusque e que hoje possuem relevância no cenário do automobilismo, como Juliana Petruschky, Joel Mendes Junior, Rick Rosin, Christian Mosimann e Erick Schotten.


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Ex-presidentes relembram bailes da Sociedade Guabirubense nos anos 70, 80 e 90:


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