bombeira
Luiz Antonello/O Município

Por Luiz Antonello
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Grandes incêndios, acidentes graves, trabalho sob pressão e muitas vidas salvas. Ao longo de 18 anos como bombeira, Scheila Daiana Streit Fuck, de 39 anos, atendeu incontáveis ocorrências.

Conheça a história do salvamento em que Scheila sofreu fratura no pé:

Para ela, que é a primeira mulher comandante da região de Brusque, uma das mais marcantes foi registrada em março de 2022, quando os bombeiros socorreram uma mulher que caiu no rio Itajaí-Mirim, em frente ao quartel central do município, e se afogou.

Naquele momento, Scheila estava em serviço na viatura dos bombeiros. “Eu e mais dois colegas corremos até o rio, quando vimos a mulher descendo já com a cabeça debaixo da água, apenas com parte das costas de fora. Um colega trouxe a ambulância até uma calçada próxima ao quartel, onde pudemos pegar materiais para realizar o resgate. Nesse momento, outro bombeiro adentrou ao rio e trouxe a senhora até a margem”, conta.

A bombeira detalha que, ao ser resgatada, a vítima estava sem sinais vitais e em parada cardiorrespiratória, com afogamento grau 6, o mais grave.

Durante o deslocamento pelo paredão de pedras e terra, que dão acesso ao rio, Scheila torceu o tornozelo esquerdo. Com isso, rompeu um ligamento e sofreu uma fratura na parte superior do pé.

Foto: Corpo de Bombeiros/Arquivo

Mesmo com o tornozelo lesionado e a dor de uma fratura, Scheila fez a ressuscitação cardiopulmonar na senhora afogada. Então, ainda na margem do rio, a vítima restabeleceu os sinais vitais. Segundo a bombeira, este é um indício de que o corpo está respondendo ao atendimento.

“Tivemos muita dificuldade para conseguir subir a maca em três pessoas. Meus colegas iam empurrando a maca de baixo para cima e eu ia puxando. Fizemos esse procedimento até chegar na rua, perto do quartel onde estava a viatura”, continua.

Neste dia, Scheila era a motorista da ambulância. Mesmo com o pé lesionado, dirigiu até o Hospital Azambuja para garantir que a mulher fosse socorrida com urgência. “Durante o deslocamento, a senhora começou a conversar com meus colegas enquanto eu dirigia. Neste momento, eu fiquei muito feliz em ouvir que ela estava falando”, recorda.

Após todo o esforço, a vítima foi entregue no hospital, ficando alguns dias internada na UTI. Segundo Scheila, a mulher teve alta da UTI, foi para o quarto e sobreviveu sem sofrer nenhuma sequela.

“Ao longo da vida participei de várias ocorrências, de vários tipos, desde socorro a pessoas até a participação em grandes incêndios. Todas as ocorrências sempre têm uma peculiaridade diferente, então temos muitas histórias para contar”, aponta.

Foto: Luiz Antonello/O Município

Natural de Canoinhas, Scheila é formada em Direito, com especialização em Direito Ambiental. Porém, em 2006 ingressou no Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, em Blumenau. Por lá, permaneceu por nove meses até se formar como soldado bombeiro militar e vir para Brusque.

“Em 2006, a minha turma de bombeiros foi a primeira que teve a inclusão de mulheres militares, até então os bombeiros eram só homens. Alguns colegas nos viam como fracas fisicamente e não capazes, mas com o tempo essa discriminação com a minha pessoa não ocorreu mais, foram alguns casos pontuais”, relata.

Ao longo da carreira, Scheila atendeu diversas ocorrências, tanto na rua como em serviços administrativos. Ela também atuou em operações Veraneio, em Balneário Piçarras e Barra Velha. Em 2017, ela foi para Florianópolis, onde realizou o curso de formação de cabos, que teve duração de três meses.

Foto: Juliano Krieger/Corpo de Bombeiros

Hoje, formada como sargento, a moradora do bairro Rio Branco, em Brusque, é a primeira mulher comandante na região. Scheila está à frente do quartel de Botuverá.

Apesar do comando, ela continua atuando como chefe de socorro. Assim, permanece realizando atendimentos na rua, em contato com situações adversas.

Mesmo com as dificuldades, a bombeira demonstra amor ao falar da profissão. “Sou muito realizada no Corpo de Bombeiros, todos os dias da minha vida venho feliz trabalhar. Realmente faço o que eu amo”, ressalta.

“Sou casada e tenho dois filhos, um de nove e um de 13 anos, dois meninos, o Vitor e o Murilo. Minha família me admira muito e ver a admiração deles por mim é muito gratificante. No meu trabalho tenho a oportunidade de ajudar as pessoas nas horas mais críticas de suas vidas. Com certeza não é sempre fácil, mas poder ajudar me faz bem”, finaliza.

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