Saporski e a mudança de Brusque para Curitiba
Polonês guiou as primeiras famílias que saíram do Vale do Itajaí para o Paraná
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Sebastião Edmundo Wos Saporski foi o responsável por guiar os primeiros polacos que chegaram a Brusque e depois foram para a região de Curitiba, no Paraná. O polonês de espírito aguerrido teve grande contribuição para o povoamento do estado, onde hoje reside a maior parte dos descendentes de poloneses.
Saporski na verdade foi batizado como Sebastião Wos, filho de Edviges Kampa e Simão Wos, em 19 de janeiro de 1844, na cidade Stare Siolkowice, perto de Opole, na Silésia.
O pai de Saporski trabalhava no transporte de mercadorias de carroça e era o “jornal” daquela época, pois informava aos habitantes da pequena cidade o que se passava. Foi ele que primeiramente contou sobre o Brasil.
Soou bem aos ouvidos dos polacos uma terra de eterna primavera, onde não havia neve nem geada e onde florestas imensas esperavam desbravadores. Mal sabia Simão que o próprio filho seguiria esse caminho alguns anos depois.
Como era o segundo filho da família, Sebastião não teria herança alguma. Por isso o pai o enviou para estudar em Opole, cidade maior.
Na escola, aprendeu alemão, pois a região era ocupada pela Prússia. Na tentativa de germanizar os polacos, o governo só permitia o ensino do seu idioma.
Desde novo, Sebastião era doente. O médico chegou a lhe recomendar que vivesse em um local de clima mais quente. Mas o que o fez querer emigrar foi a convocação para o Exército.
Naquela época, a Prússia se preparava para guerrear com a França, que, por sua vez, era considerada aliada dos poloneses. Sebastião não poderia lutar contra um amigo de seu povo e ao lado do seu opressor.
Para fugir do Exército, mudou o nome para Sebastião Edmundo Wos Saporski. Ele seguiu para Londres, principal centro marítimo do mundo na época.
No Reino Unido, ele ficou indeciso sobre para onde ir: sabia das colônias polacas fundadas nos Texas, Estados Unidos, em 1854, mas não se decidia.
A dúvida ficou para trás quando chegou ao porto um navio chamado Emma, que levaria trilhos para La Plata, na Argentina. Aventureiro, Saporski (nesta época já adotara o novo nome), subiu a bordo e seguiu para o Novo Mundo.
Saporski chegou a Montevidéu, no Uruguai. Por lá se instalou e, com ajuda de outros poloneses, arrumou emprego de servente de bar em um clube suíço-alemão.
Não demorou para que ele percebesse que o Uruguai já estava totalmente habitado. Não havia muito o que explorar. Então, ele decidiu seguir o conselho de um grande amigo, que praticamente o adotou como filho: Frederico Brunswick.
Brunswick havia tido um negócio em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, antes de ir para o Uruguai. Depois de um tempo, resolveu voltar ao Brasil e trouxe consigo Saporski.
O destino da viagem era a colônia administrada pelo farmacêutico Hermann Blumenau, de quem Frederico era amigo. Quando chegaram, descobriram que Dr. Blumenau estava na Europa.
Ainda assim, ficaram. Brunswick logo morreu. Saporski permaneceu na colônia e, em pouco tempo, virou professor. Ensinava alemão, obviamente, pois a colônia era germânica.
Saporski sempre se mostrou inconformado com a germanização que os imigrantes eslavos eram submetidos pelos alemães, em Blumenau. Havia uma vontade da direção de que todos fossem culturalmente germânicos, o que não era a realidade nem o desejo dos poloneses.
Nesta época, ele chegou a conhecer alguns polacos em Blumenau, mas que eram considerados alemães.
O sentimento de indignação era compartilhado pelo também polonês padre Antônio Zielinski, vigário da Paróquia São Pedro Apóstolo, de Gaspar. Há divergência entre os pesquisadores sobre como aconteceu e as motivações, mas o fato é que os dois puseram em prática um plano para criar uma colônia só de poloneses.
O escritor Celso Deucher, por exemplo, sustenta que Saporski era um agente de imigração que negociava a vinda de imigrantes, ou seja, a motivação seria mais econômica do que solidariedade com os compatriotas.
Padre Zielinski e Saporski tinham conhecimento da situação no Paraná, onde havia muitas terras desabitadas. Por isso, em 10 de abril de 1869, a dupla enviou ofício ao governo imperial e pediu autorização para uma colônia.
A notícia de que os dois queriam fundar um núcleo de povoação polonês chegou à direção da Colônia Blumenau, que tinha desentendimentos com Saporski. O desbravador teria sido afastado do cargo de professor e se refugiado com o vigário em Gaspar.
Esta parte também é duvidosa ainda hoje. A escritora Maria do Carmo Ramos Krieger afirma que diversos historiadores, entre eles José Ferreira da Silva, de Blumenau, comprovaram que, de fato, havia divergência entre Saporski e a direção da colônia.
Contudo, Maria do Carmo é enfática ao afirmar que Dr. Blumenau jamais interferiu nos assuntos de Saporski, como ele alega em suas memórias.
O fato é que, no meio dessa confusão, Saporski soube que 16 famílias polacas haviam desembarcado no porto de Itajaí e ido para o que hoje é Brusque.
Saporski passou a trabalhar para levar os poloneses de Brusque para o Paraná. Mas faltava a autorização imperial para o plano dar certo.
Como se tratava de uma mudança de uma província para a outra, só o imperador Dom Pedro II poderia autorizar.
Em suas memórias, Saporski diz que conseguiu o aval do imperador. Mas Maria do Carmo novamente refuta essa ideia, pois, segundo seus estudos, Dom Pedro II estava em viagem ao Egito nesta data, portanto, não teria como recebê-lo.
Não há registro de que ele tenha dado o aval, mas o fato é que Saporski negociou com a província a transmigração e o governo provincial aceitou pagar a despesa com a viagem.
A saída dos polacos de Brusque foi uma aventura. Foram ao porto de Itajaí, pegaram o navio até o município de Antonina. Depois, carroções os levaram até Curitiba.
A chegada dos poloneses é outro ponto de divergência dos pesquisadores. Enquanto os paranaenses, de modo geral, colocam a situação como uma salvação, outros pesquisadores rechaçam a ideia.
Maria do Carmo, referência no assunto, estudou a fundo a questão e garante que eles não eram esperados, tanto que foram deixados à porta do colégio de Saporski e ficaram sem local definido por algum tempo e sem comida.
Ela cita, ainda, que a Câmara Municipal recebia pedidos de terras ainda em 1873, visto que alguns ainda estavam sem moradia anos depois da chegada. No fim, os polacos foram enviados para os arredores da capital.
Celso Deucher afirma que muitos dos poloneses que chegaram a Curitiba viveram em completa pobreza por um tempo. Alguns chegaram a pedir esmolas, segundo ele.
A primeira colônia polonesa no Paraná foi chamada de Pilarzinho, hoje um bairro de Curitiba. Ele também assentou imigrantes em Mercês e, poucos anos depois, em Abranches, também regiões da capital paranaense.
Saporski foi professor em Curitiba. Hoje em dia, existe uma escola com o nome Sebastião Saporski na cidade.
Em 1874, ele prestou exames no Ministério da Agricultura e recebeu o título de engenheiro agrimensor. Nessa condição, ele teve papel destacado na organização das levas de imigrantes que chegaram ao Paraná.
Saporski trabalhou na construção da ferrovia que ia de Curitiba, em Morretes, até Paranaguá. Foi nessa obra que ele conheceu a sua esposa, uma índia carijó chamada Maria de Oliveira, com quem teve seis filhos.
Em 1912, Saporski foi eleito deputado estadual pelo Partido Republicano Paranaense (PRP). Foi o primeiro polonês eleito para o parlamento estadual.
Já em 1920, o desbravador recebeu o título de Pai da Imigração Polonesa, do primeiro cônsul polonês em Curitiba, Kazimierz Głuchowski.
Quatro anos depois, no Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, ele ganhou a Cruz da “Polônia Restituta” – um reconhecimento por grandes realizações em prol do país. Saporski faleceu em 1933.
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