Tecelões de Lodz promovem revolução industrial em Brusque

Grupo que chegou após 1889, anos depois dos pioneiros, era formado por técnicos têxteis

Tecelões de Lodz promovem revolução industrial em Brusque

Grupo que chegou após 1889, anos depois dos pioneiros, era formado por técnicos têxteis

Conhecido hoje como Tecelões de Lodz, o grupo de poloneses que chegou a Brusque a partir de 1889 foi o motor gerador de uma revolução em âmbito regional. Se hoje a cidade é uma força industrial, muito se deve ao espírito empreendedor e à qualificação desses pioneiros.

Hoje, Lodz fica em território polonês, mas no século 18 ela estava sob domínio do Império Russo, já que a Polônia não existia como Estado soberano na época. Foi nessa cidade – hoje com mais de 700 mil habitantes – onde ocorreram acontecimentos que entrelaçam as histórias de Brusque e da Europa.

Após a revolução industrial iniciada na Inglaterra em 1760, a indústria em geral passou por grandes transformações, com o avanço das tecnologias. O império russo percebeu o potencial e resolveu incentivar o desenvolvimento têxtil na região de Lodz, Zgierz e Ozórkow, na Polônia, no fim do século 18.

A Rússia ofereceu incentivos fiscais e econômicos para que trabalhadores têxteis da Prússia e de outros países se instalassem na região de Lodz. Não demorou para que levas de imigrantes aportassem e a indústria têxtil prosperasse. Dentre esses imigrantes havia muitos de origem alemã, como é o caso da família Schlösser.

Lodz e arredores tornou-se um grande polo têxtil na Europa, um dos mais importantes para o Império Russo. Os teares, as tinturarias e as máquinas não paravam de trabalhar para dar conta da demanda.

Uma das mais importantes fábricas têxteis do Velho Continente nesta época chamava-se Schlösser, e ficava em Zgierz. Tudo ia bem, a região se desenvolvia e as pessoas prosperavam porque tinham salários, em vez de depender de bicos e da lavoura.

No entanto, o têxtil costuma ser uma indústria de entrada. Uma vez que a mão de obra fica cara, o polo muda de local. O antigo polo entra em crise e precisa se reinventar.

Além disso, o século 18 foi turbulento na Europa Central. As insurreições pela independência da Polônia e as constantes guerras entre reinos levaram ao nacionalismo por parte dos eslavos.

A partir de 1875, o sentimento de pan-eslavismo cresceu ainda mais. A discriminação contra alemães virou algo corriqueiro. Além disso, os produtos de Lodz passaram a rivalizar com os de Moscou.

Tudo isso se misturou num grande caldeirão e minou a prosperidade de Lodz e arredores. Não demorou para começar uma quebradeira geral.

Várias fábricas fecharam as portas e, com isso, muita gente foi demitida. A crise foi gravíssima e levou cada vez mais pessoas a deixarem a Polônia, seja por xenofobia ou por miséria.

Essas pessoas recém-desempregadas já não eram mais aqueles velhos imigrantes: trabalhadores, mas sem qualificação industrial. Muitos tinham estudos técnicos e buscavam novas oportunidades.

Em meio à massa de emigrantes poloneses estavam os pioneiros Tecelões de Lodz, que impactariam a história de Brusque e região.

Navio SS Orania, o mesmo no qual os Hartke vieram a Brusque, segundo Celso Deucher | Foto: Acervo Celso Deucher

Determinação

Discriminados, os tecelões polacos de origem alemã encararam semanas dentro de um navio e vieram para o Brasil em busca de oportunidades. Desde o início, tinham em mente trabalhar no setor têxtil no novo país.

A imigração dos poloneses neste ciclo, após 1889, é diferente daquela de 1869. Eles vêm aos poucos, muitos já com contratos de trabalho. Celso Deucher, escritor e jornalista, diz que não houve um movimento em massa, de encher navios com polacos.

Franz Kreibich, artesão de Lodz e um dos pioneiros da indústria de tecelagem de Brusque, com sua esposa e filhos | Foto: Acervo Casa de Brusque

Os Tecelões de Lodz que vieram para Brusque eram das famílias Franz, Haacke, Hartke, Kreibich, Petermann, Wilke, Tietzmann, Yescke e Jackowski. Os Schlösser vieram mais tarde, só em 1896.

Deucher afirma que destacam-se, também, entre os tecelões, os Cernucky, além dos Hartke e dos Haacke.

Os tecelões se instalaram em vários locais, que na época eram Brusque. Por exemplo, os Petermann, Kreibich e Jackowski se instalaram na região da Sibéria, que hoje em dia é Guabiruba.

Carlos Haacke, um dos tecelões de Lodz | Foto: Acervo Celso Deucher

Alguns dos primeiros tecelões se instalaram em locais como Nova Trento e Botuverá, que também pertenciam a Brusque naquele tempo.

Já Tietzmann primeiro foi para Blumenau, onde trabalhou para os Hering, e só depois veio para Brusque.

Wilhelm e Emilie Hartke ainda na Polônia | Foto: Acervo Celso Deucher

Os primeiros anos da atividade dos polacos em terras brusquenses foram difíceis. Estavam instalados em terrenos muito ruins para a agricultura, alguns distantes do núcleo mais movimentado da colônia.

No começo, o trabalho era doméstico. Os polacos teciam teares muito simples e de madeira, em suas casas. Os fios eram fornecidos por comerciantes, que depois revendiam o pano pronto.

A primeira tentativa de sair do modo artesanal de produção para a industrialização ocorreu em 1890. O imigrante da Baviera João Bauer contratou o tecelão Jackowski.

Bauer era um comerciante e industrial bem-sucedido e resolveu tentar entrar no segmento têxtil com a ajuda do tecelão. A fiação e tecelagem não prosperou, mas está na história como a primeira da colônia.

Os tecelões, com sua força de vontade e expertise, promoveriam dali em diante uma “revolução industrial” em Brusque. Até aquele momento, a colônia era muito dependente da lavoura, da exploração de madeira, da produção de açúcar, charutos, banha e cachaça.


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