Nos dias atuais, nos quais as pessoas se conectam, cada vez mais, pela internet, Osmar Vicentini e Pedro Albrecht, o Tita, preservam um costume antigo: a cachaça artesanal com os amigos. O primeiro vive no Lageado Alto, o outro, no São Pedro. Mas os dois produzem a bebida tipicamente brasileira com o objetivo de presentear e reunir amigos e familiares para um cachacinha e um bom bate-papo.
Há diversos produtores de cachaça e destilados em Guabiruba. É só conversar com a população, pedindo informações sobre onde comprar cachaça, que logo te indicam um ponto mais próximo. Neste universo, estão inseridos Tita e Vicentini. Os dois, ainda hoje, fazem a bebida do mesmo jeito que aprenderam com os mais velhos.
Espero que o meu filho goste também. Por isso quero ampliar em um ou dois anos, mas sempre artesanal, coisa pequena
Tita Albrecht é proprietário do Alambique Albrecht, localizado numa transversal da rua São Pedro. Com 47 anos, ele toca o legado deixado pelo pai, que começou a produção da cachaça na década de 1970. Em 2005, Tita perdeu o pai, que era companheiro na produção da bebida. Apegado ao legado familiar, não pensou duas vezes e, junto com a esposa Irani Albrecht, resolveu continuar com a produção.
“Somos seis irmãos, como sou o mais novo, fiquei. Espero que o meu filho goste também. Por isso quero ampliar em um ou dois anos, mas sempre artesanal, coisa pequena”, diz Tita.
O alambique é bastante conhecido na região – recebeu gente até da Alemanha, como conta o orgulhoso Tita -, mas não é uma empresa formada. A fama é fruto do trabalho dos Albrecht. Tita tem uma confecção e trabalha na roça, onde tem 6 mil pés de cana.
O método de produção é totalmente artesanal. Não há garrafas ou rótulos. Os clientes levam o vasilhame, ou então, levam a cana-de-açúcar para ser matéria-prima. Tita faz a cachaça e fica com parte da bebida como pagamento. Neste cantinho do bairro São Pedro, o escambo – a maneira mais antiga do mundo de negociação – ainda existe.
A produção no Alambique Albrecht é, não só artesanal, mas natural. Tita segue à risca os ensinamentos do pai e não gosta de apressar os estágios de feitura do destilado. Desde a moagem da cana-de-açúcar até o líquido no copo, vão três dias de trabalho e espera. A cada safra, ele faz entre 8 e 9 mil litros de pinga.
Da madeira ao líquido
Osmar Vicentini, antigo morador do Lageado Alto, é outro que ainda hoje faz a cachaça. A produção dele é totalmente artesanal, mas vai além. Também faz outros destilados, como o uísque americano, e também cerveja.
A gente tem isso no coração e na mente. A vida é um conhecimento, tu vens desenvolver, participar e viver no mundo e depois vai embora
Mas a cachaça é motivo de orgulho para Vicentini, que passou um tempo na Itália e Alemanha, onde aprendeu sobre a produção de bebidas. Na cozinha onde o “mestre cuca” cria as bebidas, há um barril de carvalho. Pequeno, aparentemente normal. Mas Vicentini tem um carinho especial por ele.
“Plantei a madeira dessa barrica, deixei crescer por 30 anos, cortei a madeira, fiz o barril com madeira arcada com o fogo, como se faz na Itália, e fiz a cachaça”, diz. A cachaça feita por Vicentini não é vendida, é apenas combustível para conversas e encontros em família e amigos.
Vicentini mantém, em sua propriedade, lavouras de milho e de cana-de-açúcar, que são usadas para fazer as bebidas. Uma garrafa de uísque, por exemplo, recebe o milho e demora quatro anos para ficar consumível, conta.
“A gente tem isso no coração e na mente. A vida é um conhecimento, tu vens desenvolver, participar e viver no mundo e depois vai embora. Tens que aproveitar bem o mundo, e tu só consegues fazer isso quando tiras conhecimento dele, sabedoria, e aplica isso”, afirma Vicentini.