Cerca de 15 pessoas se aglomeravam no canto da cozinha, batendo, mexendo e revirando massa em várias bacias grandes. O entra e sai era constante para dar conta de tanto trabalho.

Ainda assim, os voluntários da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, do Centro, não desanimavam. Nem mesmo o cansaço das várias horas de dedicação não parecia ser um problema.

Fazemos para ajudar a comunidade, trazer dinheiro para a igreja, para a secretaria e casa paroquial

A cena descrita aconteceu no dia 6 de maio, uma sexta-feira à tarde. Os voluntários, que se dividiam entre a cozinha e a organização das mesas tinham que deixar tudo pronto para que, à noite, quando a tradicional Festa de Maio começasse, nada estivesse inacabado. A dedicação podia ser percebida a olhos vistos. A cena se repete há décadas, para essa e outras festas, em vários cantos de Guabiruba.

Equipe que trabalha na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro com a cuca. Fotos: Eliz Haacke

Roseméri Kohler Bohn, Maria Darci Erthal, Evelise Seubert Kohler e Eliane Wippel Kohler são apenas quatro das pessoas que fazem as cucas, tradicional bolo alemão tipicamente consumido no Vale do Itajaí. Nenhuma delas é cozinheira, tampouco são remuneradas para estarem no salão de festas organizando e – literalmente – botando a mão na massa. Fazem por vontade própria, e fazem bem, a julgar pela fila que se formou para comprar as cucas.

“Fazemos para ajudar a comunidade, trazer dinheiro para a igreja, para a secretaria e casa paroquial”, disse Roseméri, afirmação que foi repetida também pelas outras três. “Temos que fazer a festa para manter e melhorar a igreja”, completou Evelise.

A entrevista ocorreu no meio da cozinha do piso superior do salão de festas. Conseguir reunir as quatro, mesmo que por 10 minutos, não foi fácil. Roseméri saiu atrás de cada uma, pois o trabalho era intenso.

Na ordem, Maria Darci Erthal, Roseméri Kohler Bohn, Evelise Seubert Kohler e Eliane Wippel Kohler na cozinha

Depois de juntas, enquanto contavam sobre o seu trabalho, outras mulheres continuavam a assar, bater, mexer e preparar mais cucas e pães. O trabalho não podia parar, afinal de contas, o público, lá embaixo, fazia fila para comprar os bolos.

Em meio à entrevista, com todas sentadas em cadeiras simples, devidamente “uniformizadas” com seus aventais, ao longe se ouviu uma voluntária entusiasmada que quis deixar sua contribuição à reportagem: “bom para a depressão”, gritou.

A afirmação pode não ter comprovação científica, entretanto, a cuca serve como elo entre as pessoas – voluntários e comunidade -, e isso tem seus efeitos benéficos a quem se dedica à igreja com tanto carinho.

Ajuda do coração

É gratificante, mas como se diz, nós estamos à frente, mas envolve muitas pessoas. Queremos agradecer a todos. Porque só nós não conseguimos fazer nada

O grupo é envolvido com os assuntos da Igreja Matriz de Guabiruba. Elas ajudam há anos nas festas e em outras ações que envolvem as famosas cucas. Evelise Kohler é a caçula, já que participa das atividades há “apenas” 10 anos.

No ano passado, por exemplo, elas, junto com os demais voluntários, assaram mais de 2 mil cucas para uma promoção durante o ano, com o objetivo de arrecadar dinheiro para a nova secretaria paroquial.

Os números relacionados a cucas em Guabiruba são sempre grandes, na casa dos milhares. Os motivos são simples: a iguaria alemã é quase unanimidade e a qualidade da cuca da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro atrai muita gente, inclusive de cidades da região.

Na última festa, foram mais de 1 mil cucas vendidas. Os sabores? Abacaxi, nata, farofa, queijo, coco e banana. Não há um preferido, todos saem quase igualmente. Além disso, os voluntários da paróquia também cozinharam mais de 6 mil cachorros-quentes e milhares de outros pratos para os dois dias de celebrações da comunidade.

As quatro reconheceram o cansaço. Nem todos aguentam, e não são raros os casos de voluntárias ou voluntários que passam um dia no serviço e desistem. No entanto, Roseméri, Evelise, Eliane e Maria fazem porque sentem no coração o desejo de colaborar.

“É gratificante, mas como se diz, nós estamos à frente, envolve muitas pessoas. Queremos agradecer a todos. Porque só nós não conseguimos fazer nada. Quem quiser participar, que se sintam convidados”, afirmou Roseméri.

Wesley Andrioni, um dos homens que ajuda no preparo das cucas

Engana-se quem pensa que a ajuda vem apenas de gente mais velha ou de mulheres. Dentre os voluntários estava Wesley Andrioni, que ajudou na Festa de Maio pelo segundo ano consecutivo. “Ajudo mais pelo amor, não recebemos nada em troca, mas de ver o grande número de vendas, que não damos conta, é muito prazeroso”, disse, entre uma corrida e outra.

Uma semana
Quem foi ao salão de festas voltou para casa com a cuca quentinha, pronta para ser degustada junto com um bom café. Mas o que poucos sabem é a dedicação dos voluntários para que a festa desse certo.

As cucas eram assadas na hora da venda ou poucos minutos antes, mas a produção havia começado há muito tempo. Roseméri e companhia iniciaram a preparação dos abacaxis e bananas quatro dias antes.

Formam-se várias filas à espera das famosas cucas

Estão previstas novas promoções de cuca neste ano. As quatro voluntárias e os demais já estão comprometidos com a causa. Desta vez, o objetivo é arrecadar dinheiro para o salão de festas e para a casa paroquial.