Na semana passada fez um mês que vivenciei, diretamente as consequências da violência contra animais. Nossa família perdeu, a Moli e o Black. Ambos foram envenenados com a substância Aldicarb (Temik), conhecida popularmente como “chumbinho”.
“Alterações neurológicas, espasmos musculares involuntários, vômito, incontinência urinária e fecal,
dor abdominal, dificuldade respiratória, secreção brônquica excessiva, visão borrada, sudorese,
taquicardia, pupilas dilatas, fraqueza muscular, convulsões”.
A morte é brutal, imediata.
Os primeiros minutos foram uma mistura agitada de desespero e esperança. Estes sentimentos competiam entre si. A medida, que o tempo se esvaia para os dois, novos sentimentos ocupavam lugar: raiva, pena, dor. A lucidez que nos proporciona vivenciar o fato e o pulsar do coração que sente a perda, nos leva a única via possível: a verdade.
E a verdade hoje é semelhante a um contexto repleto de insanidades. De descaso. Onde um produto de comercialização proibida faz anos, ainda circula descaradamente a venda nos estabelecimentos agropecuários de nossas cidades. Pior, as pessoas o consomem e o utilizam com frequência para violentar o direito de outras pessoas e de animais à vida. Como se fosse direito delas, escolher.
A lógica rapidamente se formata: se ocorre intoxicação pelo consumo de um produto proibido, há a venda, a compra e pior, a não fiscalização destes estabelecimentos. Se há o crime, há o criminoso. Ciclo este que pode implodir, se qualquer uma destas variáveis for inibida.
Durante estes trinta dias, ouvi vários relatos, de outras agressões, intoxicações, mortes. De anos atrás, ocorridas no ano passado, neste. Há dois meses atrás, a uma semana, ontem…. Outros, me dizem que a agropecuária da esquina, que aquela outra e a outra, vendem o “chumbinho”, que inclusive compraram a dois meses atrás ou menos. Tudo vergonhosamente corriqueiro e facilitado.
O “aldicarb” tem a mais elevada toxicidade entre todos os ingredientes ativos de agrotóxicos já utilizados no país no setor agrícola. Devido a este fator de alto risco, é proibido desde 2012. Portanto, deste então, é crime produzir, comercializar, comprar ou utilizar o produto. Sim, um crime, que dá cadeia.
Hoje paira um véu grotesco de acobertamento destas impunidades. Gente lucrando indevidamente, cometendo crimes, ocupando cargos e estando em dívida com suas obrigações e uma população que como sempre, pena pela sua complacência.
Hora de se manifestar em defesa elementar de um direito básico à vida, onde cada um se torne ativo, denuncie, exponha as agressões que não se tornam públicas, registre as ocorrências para que a polícia possa fazer o seu trabalho e exija que a Vigilância Sanitária da sua cidade cumpra o seu papel de fiscalizador.
Estamos no nosso direito. Façamo-los cumprir! “Doa a quem doer”. #lugardecriminosoenacadeia
Méroli Habitzreuter – escritora, pintora e ativista cultural