Uma mulher pedalando é a imagem da feminilidade livre e desimpedida, disse Susan B. Anthony.

 

ciclista
arte: Silvia Teske

 

No século XIX, o meio mais comum de se transportar individualmente era o cavalo. Claro que as mulheres não tinham acesso livre e desimpedido a eles – cavalos eram perigosos e difíceis de controlar. E, segundo a opinião médica da época, não era o ideal para a saúde genital feminina andar com as pernas abertas por aí, o que levava as mocinhas a andarem com as duas pernas para o mesmo lado. Essa posição dificulta a cavalgada em longas distâncias, o que corroborava com a ideia que mulher não deveria cavalgar nunca.

 

Eis que nasce nossa querida bicicleta. Mais leve que um cavalo e fácil de manipular. Não havia mais nenhuma razão para que a mulher não pedalasse para bem longe de casa.

 

Talvez uma: a roupa. Na era vitoriana, a indumentária feminina chegava a pesar mais de sete quilos, além de contar com espartilhos. Era uma restrição não somente física, mas também moral. Para pedalar, era necessária uma mudança.

 

A prática do ciclismo trouxe a emancipação do vestuário: o espartilho foi deixado de lado, e começaram a se vestir as bloomers – uma proto calça, que garantia liberdade de movimentos. Essa peça foi importante para subverter o dimorfismo sexual presente na moda, que legislava o uso de calça somente para homens e saia somente para mulheres. O uso da roupa bifurcada permitiu as mulheres deslocamento independente no espaço público.

 

A bicicleta desencadeou uma série de mudanças para a cultura por não ser vinculada a gênero e papel social. Pelo menos em teoria. As primeiras ciclistas eram ofendidas e até apedrejadas, para que voltassem para casa e se comportassem. As segundas, terceiras e  atuais ciclistas ainda convivem com pensamentos similares.

 

É libertador andar de bicicleta e sentir o vento no rosto. Para a mulher vitoriana, a liberdade de pedalar em duas rodas era ainda maior.

 

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Sabrina Gevaerd – artista