Conversas Praianas – Os Maridos
É tempo de veraneio. Mulheres sentadas em frente ao edifício Esplendor dos Mares, na Avenida Atlântica, conversam sem hora para terminar. Essas mulheres já cruzaram a fronteira etária dos 60 anos e procuram driblar o espectro dolorido da velhice que vai chegando por todos os lados. Neste tempo de Medicina operando milagres, cirurgia plástica, silicone e cosméticos são as grandes armas da vaidade feminina para esconder, do espelho e do olhar sempre curioso das amigas, a silhueta desgastada pelo passar inexorável dos anos.
Essas sexagenárias, da geração que se conformou em viver para o lar, para o marido e filhos, agora, vivem também para os netos, porque nunca se cansam de ser mães. Em BCamboriú, pertencem a uma dessas tribos passageiras de veranistas, que levantam acampamento depois do carnaval, quando o país desperta para a realidade dos dias de cinza que virão pela frente.
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Os assuntos são sempre recorrentes. Giram em torno da rotina doméstica. Os maridos são sempre lembrados e não escapam das confissões marcadas por um disfarçado ressentimento, que mora no coração dessas boas esposas, essas santas que passaram boa parte da vida conjugal em frente ao fogão, num labor repetitivo e incansável, que faz pausa ao meio-dia para recomeçar no final da tarde, porque o corpo precisa ser realimentado cotidianamente.
Apesar dos percalços de uma vida conjugal preservada na base de muita tolerância sem reciprocidade da outra parte, parece que essas mulheres despertaram para curtir os prazeres que a vida dedicada à prole e aos trabalhos domésticos lhe negaram por bom tempo. Quem as vê, descontraídas e a risos soltos, imagina que estão em busca dos prazeres de uma juventude que não foi perdida, é verdade, mas certamente foi cheia de sacrifícios.
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Com certa mágoa, reclamam da vida doméstica e do autoritarismo marital. Mas, basta uma amiga dizer uma só palavra contra o maridão e elas saem em defesa do parceiro de décadas de convivência conjugal. Afinal, conviver é arrufo, é briga, é discussão. Enfim, é sofrer até que a morte separe duas almas enlaçadas pelas promessas ao pé do altar, juradas num tempo sem separação nem divórcio. As amigas entendem, sabem muito bem, que falar mal do marido é direito exclusivo da boa e escudeira esposa.
Ao lado, as filhas, também casadas, conversam. Quatro delas já estão no segundo marido ou são a segunda. Somente uma ainda se mantém com o primeiro marido. Como se vê, a família mudou. Independentes, as mulheres dessa nova geração falam que seus maridos cuidam das crianças, cozinham, lavam a louça e, até, arrumam a cama. Mas, também, reclamam. Afinal, seus maridos só querem ficar em casa.