Em diversos pontos de Botuverá, pequenas capelas chamam a atenção na paisagem. São as capelinhas, construções menores em alvenaria em formato de igrejas.

Cada uma delas foi construída por algum motivo, desde uma promessa, como é o caso da capelinha São Roque em 1944, que tem a história contada na reportagem sobre a capela do Pedras Grandes, ou até para realizar celebrações em uma localidade afastada.

CAPELINHA SÃO ROQUE INTERNA
Construída após uma promessa de Catarina Schaadt Graf, em 1944, a capelinha São Roque foi feita na época em que uma peste abateu animais na região | Foto: Luiz Antonello/O Município

Segundo Pedro Bonomini, quando Botuverá ainda era um povoado, os moradores dependiam da agricultura para se manter. Então, em épocas de seca, as comunidades faziam procissões das igrejas até essas capelinhas para pedir por chuva ou tempo bom. Essas procissões eram chamadas de “rogações”, feitas em três dias consecutivos, geralmente no fim da tarde.

Nas capelinhas, cada uma com um santo protetor, são feitas rezas, velas são acesas e fotos e amuletos são deixadas em agradecimento às possíveis graças recebidas.

Também, em cada estrutura havia um pequeno cofre de madeira, no qual os fiéis depositam doação em dinheiro, no dialeto popular chamado de “lismola”. De tempos em tempos, o responsável da Igreja Matriz recolhia as doações destinadas à manutenção dos serviços paroquiais.

Atualmente, são nove capelinhas principais e, além das visitas de devotos, os padres da paróquia celebram missas com a presença do povo do bairro, geralmente no dia do onomástico, ou seja, do santo que dá o nome ao pequeno templo.

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Capelinhas diversas

CAPELINHA DEUS GRANDE
Deus Grande fica localizada no bairro Salto de Águas Negras e é a maior capelinha de Botuverá | Foto: Pedro Bonomini/Especial

Ao longo do tempo, mais capelinhas foram surgindo na comunidade, dos mais diversos tamanhos. A maior delas é a capelinha Deus Grande, que fica no bairro Salto de Águas Negras, construída em 1984, durante o período como vigário do padre João Miguel, e fica aos cuidados da família Gianezini.

Contudo, a primeira estrutura foi demolida em seguida por causa do alargamento da rua. A capelinha foi reinaugurada em 14 de novembro de 1984. No local, há um crucifixo de 1,5 metro de altura feito de madeira de uma árvore de óleo, que foi levada ao local após uma enchente.

Já a capelinha na localidade Pavesi é uma das que carregam a estrutura original, feita por volta de 1910. De acordo com Pedro, a comunidade, sentindo-se longe do templo central do povoado, para onde iam a pé acompanhar as celebrações religiosas, decidiram fazer uma pequena estrutura para rezar e celebrar pequenas festas comunitárias.

A construção foi feita com material adquirido pelos moradores da localidade. A mão de obra foi dos irmãos Santino e Ângelo Costa. Conforme Pedro, eles trabalharam gratuitamente como pedreiros na construção por conta de uma promessa e iam todos os dias a cavalo do bairro Ribeirão Porto Franco até o local da capela.

No início, quem cuidava da capelinha era Vitório Pavesi. Depois, ficou aos cuidados de Loudes Fugaz Pavesi e Vanilde Pavesi, com o filho Edson. “Nas festas de antigamente faziam a ‘busseca’, a dobradinha que atraia os fiéis do Centro”, conta Pedro.

Interior da capelinha Pavesi, que tem como santa a Nossa Senhora das Dores | Foto: Pedro Bonomini/Especial

Promessa cumprida

Além das estruturas em locais públicos, há também as capelinhas feitas em terrenos particulares, como uma construída no trecho entre os bairros Salto e Águas Negras.

Neste caso, segundo Pedro, a história começa com um casa. Eles tiveram uma filha que sofreu de uma doença logo nos primeiros meses de vida. Com fé em Deus, a família fez uma promessa e ofereceu, em troca da cura da filha, a construção de uma capelinha no lugar.

A cura veio, mas a família se esqueceu de construir o pequeno templo. Então, a menina curada cresceu. Durante muitas noites, ela se levantava da cama sonâmbula e caminhava até um lugar específico. Em uma dessas vezes, ela deixou uma estatueta no local.

Pedro aponta que os pais entenderam como um sinal pelo descumprimento da promessa e, então, construíram ali uma capelinha. A estrutura, conforme ele, é pouco conhecida e nem visitada, pois um antigo proprietário proibiu a visitação.

Morro da Cruz

A capelinha do Morro da Cruz também é uma das poucas que conservam a originalidade da construção, com apenas alterações nas pinturas. Conforme Pedro, as capelinhas de Santo Antônio, São João e São Roque, no Centro, eram idênticas em tamanho e estilo quando foram construídas. Hoje, é possível observar as mudanças se comparadas entre si.

A do Morro da Cruz está construída sobre o cume nas terras da igreja, recebidas em doação da família Morelli. A capelinha é a última das 14 pequenas estruturas que formam a “via crucis”, ao longo da subida.

Ela foi inaugurada em 20 de abril de 1938, pelo padre Jorge Brand. Na época, ele era coadjutor do vigário de Brusque Vicente Schmitz, que atendia a paróquia durante a época do curato. Em 1959, foi construída a nova via sacra, que é a atual.

CAPELINHA DEUS GRANDE (2)
Dentro da capelinha Deus Grande, está o crucifixo feito de madeira de uma árvore que foi levada ao local após uma enchente | Foto: Pedro Bonomini/Especial

Você está aqui: Crença sem tamanho: capelinhas em Botuverá demonstram a força da fé em Deus nas comunidades


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