Uma amiga narrou-me um fato que concluímos valeria tornar-se inspiração para criticar, lamentar e esperar … e assim o faço através destas linhas.

As escolas, reduto quase sempre de bons, valorosos e quase heróis educadores, possuem sempre frente aos estabelecimentos lugares especiais para que vans que trazem crianças em massa, possam com segurança estacionar para a saída destas que ali foram levadas para aprender, falo aqui de vans mesmo, que todos conhecemos e onde normalmente se vê  escrito a palavra ESCOLAR, para bem identificar este meio de transporte público.

arte: Silvia Teske
arte: Silvia Teske

Aqueles espaços são claramente identificados com placas ou inequívocos sinais, portanto, caros pais, não são para vocês usarem com a clássica desculpa de que “é apenas por um segundo pra deixar meu filhote”, ou porque estão motivados pela preguiça de andar poucos metros a pé, do local um tiquinho só mais distante até a porta do colégio.

Em ocasião recente e em frente a um excelente colégio local, vans trancavam o trânsito, se apertando sobre a via pública, até que carros particulares saíssem das vagas preferenciais e fosse então possível àquelas deixarem com segurança na porta do educandário seus transportados. Tudo porque “algumas mamães e seus carrões” insistiam em estacionar o mais próximo possível da porta do colégio, respeitando apenas “suas vontades”, e certamente o faziam crendo que aquele “segundinho” usado para deixar seus filhotes pertinho do portão não deveria motivar a raiva dos motoristas que aguardavam, e tampouco iria revelar a preguiça das mesmas em andar poucos metros caso deixassem seus carros mais distante.

A triste ocorrência daquele dia não resultou em algo bom, óbvio, a polícia local, certamente preparada para algo mais importante e relevante, teve que comparecer por mais de um dia frente ao referido colégio, no horário de início do período, a fim de educar mamães a bem estacionar, respeitando as vagas preferenciais.

Enquanto isto, lá dentro, nas salas de aulas, professoras abriam seus livros para ensinar aos filhos destas mesmas mães a matemática, o português, a geografia, a biologia e a cidadania, aquilo que alfabetiza e nos torna civilizados.

Ironia, não? Alguns pais esperam e cobram tanto da escola, exigem que seus filhos sejam despertados em todos os seus potenciais, mas, se esquecem daquela máxima popular de que educação vem antes de tudo do “berço”, ou melhor, da porta da escola mesmo e do simples ato de respeitar o outro e saber onde estacionar.

 

Minha amiga e eu, que enxergamos neste fato ocorrido uma inspiração para criticar, lamentar e esperar, ainda estamos aqui … criticando porque tal ocorrência e “aula pública de cidadania” precisou durar quase uma semana, tirando policiais de locais onde poderiam ser mais úteis para se prostrarem frente à dita escola no início da aulas, a fim de dar aulas básicas de direção aos pais … lamentando, pois, o ser humano é sem dúvida um bicho muito estranho face ao seu EGOcentrismo … e, enfim, esperando, minha amiga e eu, que um dia o ser humano se torne melhor e mais ciente de seu real papel na educação de filhos, começando talvez por seu comportamento frente a cômoda, sedutora, porém, indisponível vaga das vans escolares.

 

avatar sandra tomasoni

 

 

Sandra Tomasoni – advogada