Pinto nas Beltranas

Meu texto da semana passada aqui nas Beltranas rendeu muita conversa. Não pelo assunto principal, que era a irritação causada pelos sons de carro em extremo volume. Aliás, nisso, todo mundo concordou que odeia. Ninguém veio defender, ou apresentar um porquê razoável. Talvez não haja.

O que mais chamou a atenção no texto foi a relação que estabeleci com a falta de autoafirmação de um indivíduo e o tamanho de seu órgão genital, inversamente proporcional. No caso dos homens, claro. Porque com as meninas não há esse tabu cruel (pelo menos desse, escapamos!).

 

Pinto de mulher

Um colega das Letras garantiu que vai usar minha explicação em sala de aula, quando questionou-me: “Ontem, por exemplo, parei no sinal vermelho, e a garota do carro ao lado escutava um funk a todo volume… Como classificá-la, amiga?” Minha resposta foi: No caso, o “pinto pequeno” é, metaforicamente, qualquer forma de ausência de afirmação, é aquilo que a pessoa tem mal resolvido. Então, a expressão pode ser aplicada a qualquer gênero: “isso é pinto-pequenez!”

É bom ser provocada por exemplares inteligentes de macho. Antes da minha definição quase “professor-pascoaleana” (ando bem neologista) tentei buscar alguma expressão do universo exclusivo feminino comparada ao “pinto pequeno”. Não achei! Não tem celulite, bunda caída, pança, cabelo ressecado ou perna fina que dê conta dessa “ofensa” para os homens.

 

Pinto escultural

Aí me pus a pensar de onde veio isso, e claro que daria uma tese. Quando foi estabelecida essa relação de poder, de força, de masculinidade, com o tamanho do piu-piu? Porque, lembrando das perfeitas esculturas gregas representando grandes líderes e guerreiros, nos corpos nus quase não se vê o dito cujo. É simbólico, só pra dizer que tem. Um pintinho infantil.

Dando uma voltinha pelo Google, achei algumas explicações (até de que na Grécia fazia muito frio, hehe!) e a mais interessante consta que os gregos tinham um ideal de beleza masculina em que o pênis demasiado grande não se enquadrava. Gostavam de corpos atléticos, com torsos e pernas musculosos, não perturbados por volumes exagerados. Não tinham qualquer problema em relação à nudez e o fato de aceitarem ser representados com pequenas partes pendentes era visto como maturidade intelectual. Em outras palavras: tamanho não era documento!

Pinto artístico

Sobre o assunto, em abril deste ano ocorreu um polêmico caso envolvendo uma tela da artista americana Illma Gore em que o empresário Donald Trump é retratado com um pinto pequeno. Apoiadores do candidato republicano à presidência dos EUA agrediram a moça na rua, em Los Angeles.

 

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Legenda: Retrato de Trump com pênis pequeno está em galeria de Londres e é avaliado em R$ 5,1 milhões

A artista contou que retratou o corpo de um amigo e ao colocar o rosto do empresário quis levantar questões sobre interpretação de gênero: “Se eu tivesse pintado Trump com um pênis grande, por que tomaríamos isso como um sinal de poder? Por que encaramos um pênis pequeno como algo que efemina? E o que haveria de errado em ser efeminado?”. O próprio retratado ficou incomodado, a ponto de defender o tamanho de seu pênis durante um debate. Aliás, assunto relevante para um debate presidencial, hã?

 

Pinto final

Não só como símbolo de poder e força, o tamanho do órgão masculino significa (na ingenuidade deles) qualidade e potência sexual. Garotos, não subestimem as outras extremidades do corpinho!! Lembrem-se (e acredito que não seja lenda): menina com menina se divertem bastante!

 

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Lieza Neves – produtora cultural e escritora