João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Fotógrafo do Tempo da Kodak e da Agfa

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Fotógrafo do Tempo da Kodak e da Agfa

João José Leal

Estudante na França, aproveitei as férias do final do ano de 1968 para conhecer algumas cidades da Espanha. No caminho, passei em Andorra, um principado, meio francês, meio espanhol, com minúsculo território aos pés dos Pirineus e comprei uma máquina fotográfica Canon. Os japoneses tinham superado a devastação de seu país pela guerra e já dominavam a tecnologia da arte da fotografia nas mãos amadoras dos turistas, que começavam a invadir as velhas cidades europeias, verdadeiros museus a céu aberto.

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E, assim, viajando por terras estranhas, me tornei um fotógrafo amador, desses que tiram retratos dos amigos e, principalmente, dos familiares. Passei mais de 20 anos tirando fotografia do próximo, eu, sempre atrás da máquina, que usava filmes em rolo, da Kodak, Agfa-Gevaert ou Fuji, as três únicas fabricantes, em todo o mundo.

Conseguir uma foto revelada, pronta e acabada para ser mostrada aos retratados era uma demorada novela. Primeiro passo, comprar o filme, colorido ou preto em branco, 32 ou 16 poses, tarefa nem sempre fácil, pela dificuldade de encontrar um local de venda. Se não fosse uma cidade turística, era preciso muito caminhar para encontrar a dita película enlatada. E o preço, pouco acessível, também não animava a procurar uma loja para pagar o preço de tirar fotos dos outros, mesmo que fossem parentes e amigos.

Não bastava ter filme na máquina. Um monumento ou uma paisagem, bastava enquadrar e apertar o botão. Mas, um grupo familiar era uma guerra para reunir toda a tribo. Se uns, logo atendiam ao chamado para a pose e corriam alegres, aquele sorriso até às orelhas, prontos para o clique captador de um instante na vida, outros, espírito de porco, adoravam complicar e contrariar. Só se colocavam em frente da lente, depois de muita insistência, quando esgotada a paciência do fotógrafo amador. Então, aquele pedido corriqueiro, vocativo da linguagem fotográfica, em forma de intimação ou até de súplica, para o olhar na câmera e o sorriso para a posteridade.

Tiradas todas as fotos, mais um capítulo da novela e o necessário retorno à loja para a revelar o filme, o preço sempre limitando o desejo de fotos maiores. Recibo de entrega no bolso, a curiosidade por companheira e a espera pelo dia das almejadas fotos gravadas na invisível e mágica película escondia no pequeno rolo de lata. Finalmente, o milagre da revelação transformado em retratos de gente, monumentos e paisagens.

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Quantas fotos perdidas, escuras, queimadas, torcidas, desfocadas, tremidas! Em compensação, as boas fotos eram muitas vezes, e sem qualquer pressa, contempladas para, então, serem guardadas em álbuns e caixas de papelão, geralmente, aquelas de sapatos.

Um dia me cansei de chamar parentes e amigos para mais uma pose. Dei minha Canon para um amigo colecionador e, agora, saio também nas fotos.

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