A imponente Igreja Matriz São José se destaca no Centro de Botuverá. Apesar do templo manter características históricas, diversas transformações ocorreram desde a construção, finalizada em 1899.

O registro do início dessa história começa em 1898, quando o padre Antonio Eising, o vigário da paróquia São Luiz Gonzaga de Brusque, pediu pela construção de um novo templo: a Capela do Povoado de Porto Franco, como era chamada Botuverá. Antes disso, havia um pequeno templo construído nas terras localizadas ao lado da atual rua Pedro Ozimowski, que sobe ao ginásio de esportes.

Antigamente, a denominação “vigário” era dada ao pároco, ou seja, o responsável maior, que atuava junto com os coadjutores. A partir de 1991, com o cânone 519 do Código de Direito Canônico, o vigário passou a ser denominado como pároco e os coadjutores como vigários paroquiais.

Conforme as pesquisas do diretor de Cultura do município, Pedro Luiz Bonomini, pedreiros contratados de Nova Trento, os mestre de obras João Cadorim e Atílio Muraro, além de outros especialistas nesse tipo de construções, iniciaram a obra da igreja com a ajuda voluntária de alguns moradores do povoado.

Foto registra período da Igreja Matriz sem torre, entre 1899 e 1910 | Foto: Pedro Bonomini/Arquivo

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A construção foi feita com tijolos produzidos na olaria instalada em Ribeirão de Porto Franco, de propriedade da própria igreja. Porém, por escassez de recursos, a estrutura foi finalizada sem a torre de quatro pisos. Esta, foi construída em 1910, sob supervisão dos padres Henrique Meller e João Basílio Stolte.

Dois anos depois, em 31 de julho de 1912, o decreto nº1 do bispo diocesano Dom João Becker criou a paróquia São José de Porto Franco. Então, a capela até então denominada de Porto Franco se tornou Matriz da Paróquia São José. A instalação da paróquia e posse do primeiro vigário, o padre João Stolte, foi em 2 de outubro daquele ano.

Fotografia registra período quando o templo contava com a torre baixa, entre 1910 e 1940 | Foto: Pedro Bonomini/Arquivo

O registro do primeiro casamento realizado na Igreja Matriz foi em 6 de agosto de 1912, que marcou a união de Bernardino José Antonio e Anna Reinert, celebrado por João Stolte. Os primeiros registros de batizado nos livros paroquiais foram o de Giuseppe Comandolli e de Tomaso Raimondi, em 16 de agosto de 1912, ambos realizados pelo padre João.

São José, que é o padroeiro da paróquia, tornou-se padroeiro de Botuverá por lei em 22 de março de 1964. O dia de celebração é 19 de março, feriado no município.

Estrutura passa por transformações

Foto registrada em 1946 | Foto: Pedro Bonomini/Arquivo

Com o passar dos anos, a Igreja Matriz passou por diversas mudanças, principalmente de ampliações. Em 1940, a torre da capela foi elevada a mais um piso, sob comando do padre Jorge Brand, então vigário da paróquia.

Segundo Pedro, o coroamento da estrutura continuou no formato de pirâmide hexagonal, pois o objetivo era a instalação do relógio mecânico com dois pêndulos e três mostradores, fruto de uma doação de conhecidos da Alemanha.

O relógio, inaugurado em 15 de novembro daquele ano, começou a badalar as horas e o som era ouvido em toda a vila. Coincidentemente, em 15 de novembro de 2011 foi inaugurado o atual relógio eletrônico, que substituiu o primeiro.

Luiz Antonello/O Município

No quinto piso, foram instalados os sinos que batem as horas, também doação da Alemanha. Antigamente, o primeiro e segundo sinal anunciavam a missa. Já um badalo solitário e compassado anunciava a morte de autoridades eclesiásticas e de moradores locais.

O interior da igreja era ornado com pinturas de “Fraiterna”, assinatura de um pintor alemão, junto com as imagens de santos nas laterais. Os altares eram de madeira entalhada de estilo gótico, já o púlpito para as “prédicas” e os balaústres separavam o presbitério da nave principal, a ala central. Os bancos eram feitos em madeira nobre em estilo colonial e havia uma pia batismal nos fundos.

Pedro Bonomini/Arquivo

Pedro aponta que tudo isso foi retirado ou substituído pelo padre Floriano Martins de Oliveira, vigário de 1970 até 1978. “Perdendo-se, inquestionavelmente, um valor inestimável de patrimônio cultural de arte sacra”, conta

Segundo ele, os resquícios do altar-mor ainda podem ser vistos na capela mortuária no Centro da cidade e os do balaústre no museu municipal do Imigrante.

Harmônio está na capela de Ribeirão do Ouro | Foto: Luiz Antonello/O Município

Já os bancos foram doados para a capela de Ribeirão do Ouro. Um harmônio, doado da Alemanha e recebido em 9 de abril de 1939, também está nesta capela. Já a pia batismal e o púlpito em madeira entalhada foram destruídos e as imagens dos santos foram levadas por paroquianos.

Igreja é ampliada ao longo dos anos

Luiz Antonello/O Município

O ministro da comunhão que atua na coordenação da liturgia, Silvino Schmitz, de 74 anos, acompanha o templo desde 1970, quando começou a atuar em Águas Negras. Em 1972, foi para a Matriz. “Na época, eu vim como ministro da eucaristia, eu era o único”, recorda.

Ele conta que, em 1986, o então vigário João Miguel realizou uma consulta popular para decidir entre a ampliação do atual espaço da igreja Matriz ou a construção de um novo templo. A necessidade era aumentar o lugar para abrigar mais fiéis. O pequeno plebiscito decidiu pela ampliação da estrutura.

O projeto foi apresentado por Pedro Bonomini e aprovado pelo Conselho Administrativo Paroquial (Ceap). A ala central da igreja foi alargada e dois espaços laterais foram construídos.

O coreto e a gruta de Nossa Senhora de Lourdes erguidos no pátio ao lado da igreja foram demolidos. A icônica escadaria de 132 degraus foi preservada, a Cruz Missionária dos anos 1950 foi destruída e a gruta demolida foi reconstruída em outro local.

“Depois, outros padres deram continuidades nas melhorias do espaço, como a ampliação do estacionamento”, conta Silvino.

O interior foi decorado com dezesseis pinturas de Pedro, doze delas foram apagadas durante o ministério do padre Francisco Alves, entre 2001 e 2004.

Luiz Antonello/O Município

No ministério do padre Ari Erthal, entre 2004 e 2007, a estrutura de madeira do telhado foi substituída por uma de ferro, com uma cobertura de telhas chatinhas, o que manteve a originalidade da antiga. Também nos anos 2000, o pároco Valério Eller realizou mudanças no templo. Foi instalado um novo altar e todo piso foi feito em granito.

“Para a comunidade de Botuverá, foi ótima a maneira que se desenvolveu a construção. As comunidades também ajudam através do dízimo a mantê-la. Me sinto feliz por ter participado e continuo participando ativamente no que precisar. A gente está pronto para tudo”, completa.

Força cultural de um templo

Luiz Antonello/O Município

Após 120 anos, a Igreja Matriz reflete culturalmente no cotidiano botuveraense. Silvino ressalta que uma das obras de ampliação foi a construção do galpão com salas e cozinha especial. “Onde tem encontros de formação de casal, da catequese, da prefeitura e até de banco. É um local para fazer cursos de aperfeiçoamento”, conta.

Pedro complementa que a estrutura da Paróquia é o ambiente onde a maioria dos eventos culturais e sociais ocorrem, como a Festa Bergamasca. “Ou são nas dependências da Matriz ou das capelas”, inicia.

Silvino Schmitz acompanha o templo há mais de 50 anos | Foto: Luiz Antonello/O Município

Na vida religiosa, a igreja realiza missas em todas as manhãs. Também, faz missas nas quartas, que atraem jovens e adultos, e mantém a Via Sacra. “A Igreja Matriz mantém viva as chamas da fé. É ativa em todos os momentos da religiosidade, com eventos em todos os dias. Os padres visitam os adoentados, hoje é o Nelson Tachini. Quem quer ser católico praticante tem a oportunidade”, completa Pedro.

Silvino ressalta que, quando o dízimo não dá conta de manter toda paróquia, o restante de recursos são angariados através de promoções, como rifas e festas.

“E tem dado certo. A população, os que são daqui, os mais idosos, tem um amor muito grande por essa igreja e estão sempre dispostos a ajudar. A importância da igreja é enorme. É claro que a gente conta com a ajuda de toda a população, através de voluntários. É um ponto cultural e histórico, que deve ser mantido”, finaliza.

Templo conta com uma escadaria com mais de 130 degraus | Foto: Luiz Antonello/O Município

Confira mais fotos do templo:

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