Por Luiz Antonello
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Era por volta das 7h30 do dia 21 de dezembro de 2022, dia do primeiro plantão da médica Mariana de Souza Pereira Paes, de 34 anos, na Unidade de Suporte Avançado (USA) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em Brusque. Um chamado pelo Corpo de Bombeiros antecipava que a ocorrência se tratava de uma queda de bicicleta.
Conheça história de primeiro plantão de Mariana de Souza Pereira Paes:
Ao chegar no local, a médica constatou que a vítima era um homem de aproximadamente 40 anos. Com a queda, o rosto dele abriu e a mandíbula foi arrancada, um ferimento que poderia levá-lo à morte ali mesmo.
“Quando chegamos, os bombeiros o seguravam com a cabeça lateralmente, porque ele estava se engasgando com o próprio sangue. Eu não sei como, mas Deus me iluminou e consegui intubá-lo no local. Graças a isso, ele se manteve vivo, porque iria acabar se engasgando e morrendo”, conta.
A intubação foi difícil, aponta a médica, devido à queda da mandíbula. Porém, o homem foi estabilizado e levado ao hospital, onde passou por uma cirurgia.
O atendimento foi impactante para Mariana, que trabalha na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel. “Como foi o meu primeiro plantão, pensei ‘meu Deus, o que está me aguardando?’”, relata.
Posteriormente, a médica descobriu que ele ficou bem e teve o rosto reconstruído. “Foi um ferimento muito grave, mas ele ficou bem e teve alta. Toda ocorrência é uma história e cada paciente é único”, ressalta.
Gerida pelo estado, a Unidade de Suporte Avançado (USA) é uma UTI Móvel, ou seja, é tripulada por um condutor socorrista, um médico intervencionista e um enfermeiro intervencionista. O serviço iniciou em Brusque em 8 de dezembro de 2022.
Ao longo do tempo, muitos outros casos foram atendidos pela médica e seus colegas. Em meados de 2023, uma paciente em parada respiratória acionou a equipe, que chegou ao local pouco antes do coração da mulher parar. A paciente foi intubada e levada ao hospital. “Depois ela voltou para contar o que aconteceu e agradecer. São situações que nos deixam muito felizes”, salienta Mariana.
Entre vidas salvas e mortes trágicas, a médica foi aprendendo a lidar com os desafios. “O que mais impacta são ocorrências com crianças, me emociono muito. E pacientes jovens, que são fatalidades. É preciso ter foco, para podermos ajudar e, nos momentos difíceis, saber confortar a família no local”, completa.
Natural de Itaiópolis (SC), Mariana se formou em medicina na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Itajaí, em 2017. Ao falar do porquê escolheu a profissão, ela destaca que a mãe é médica e o avô por parte de mãe também. “Sempre busquei ela como referência”, diz.
“Quando eu me formei, primeiramente, trabalhei no posto de saúde durante dois anos. Depois comecei no hospital Marieta [Konder Bornhausen] e no hospital de Camboriú, na área hospitalar. Foi então que decidi migrar para a área pré-hospitalar, o Samu”, explica.
A médica avalia que não tem perfil para trabalhar em consultório e se identifica mais com o serviço de emergência. Então, o Samu atraiu a atenção dela por lidar com resgates.
“A gente se forma bem cru, com receio da emergência. Com o passar dos anos, isso muda pela oportunidade de salvar uma vida. O Samu dá o primeiro atendimento, antes de levar o paciente ao hospital”, diz.
“É um desafio pessoal, quanto mais grave a situação, mais me desafia. Sempre tento me manter atualizada para que, ao chegar no momento, eu consiga resolver. Somos nós que temos que agir”, conta.
Quando abriram a USA em Brusque, Mariana veio em seguida. Hoje, ela mora em Itajaí e vem ao município conforme a escala do Samu.
Especializada em medicina de emergência, Mariana avalia que existem desafios por ser uma área com predominância masculina.
“Pelo fato de sermos mulheres, sempre nos veem como frágeis e que não vamos conseguir desempenhar bem a função. Com o tempo, vamos mostrando o nosso trabalho e desconstruindo essa visão. Hoje, é bem tranquilo para mim”, finaliza.
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