Talvez você já tenha ouvido a história da menininha dos sapatos vermelhos: a menina que abandonou seus sonhos para viver com mais conforto, vivendo assim os sonhos de outra pessoa, e no fim, em uma busca incansável para resgatar sua própria essência, se afunda em seu próprio ego, desconsiderando todos a sua volta, e termina paralisada, sozinha e infeliz.
Bom, essa pode não parecer uma história de contos de fadas que fomos acostumados a ouvir na infância, com finais felizes e princesas que conseguem superar todas as dores do passado. Mas é uma história rica em simbologias e significados. Ela faz parte da coletânea de histórias do livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, que lindamente resgata histórias como da Menininha de Sapatos Vermelhos, para analisar comportamentos, sentimentos e pensamentos das mulheres contemporâneas.
O que Clarrisa Pinkola Estés nos conduz a refletir, nessa história, é que A menininha dos Sapatos Vermelhos pode estar em cada um de nós, quando abandonamos nosso propósito, ou nossos sonhos de criança, para viver uma vida mais confortável, e que pareça ser mais correta aos olhos das pessoas que amamos.
Por não estarmos conectamos com a escolha, acreditamos que nunca estamos prontos e preparados o suficiente para assumir tal cargo, ou profissão, e mergulhamos em uma busca desesperada de suprir um buraco que ficou, preenchendo com mais uma formação, cursos, títulos, horas e mais horas de trabalho extra, uma infinidade de leituras… Compreenda: ser curioso e aberto para o aprendizado é importante, mas como tudo tem seus limites. É importante termos o tempo usufruir do aprendizado e aplicar o conhecimento. E essa busca incessante, torna-se ainda mais perigosa quando abrimos mão das horas de lazer, das horas que seriam necessárias para o descanso, das horas com pessoas que nos são valiosas. O exemplo apresentado aqui, é sobre carreira, mas podemos observar essa mesma busca incansável em qualquer outra situação.
Acontece, porém, que os sonhos não realizados ficam latentes em nossa alma, e vez ou outra, eles nos lembram quem verdadeiramente somos. Muitos consultores de carreira, espiritualistas, psicólogos, aconselham uma conversa com a criança que ainda vive em nós para resgatar algo que ficou esquecido. A lembrança do que gostávamos de fazer ou brincar na infância, pode ser uma dica, do que poderíamos estar fazendo em nossas vidas, que nos trariam fluxo e significado para o trabalho.
A história da Menininha dos Sapatos Vermelhos, é muito mais rica em detalhes e reflexões do que apresentada aqui neste texto. Mas, quem sabe por hora, você possa ficar com o exercício de se perguntar: o que eu faço com meu tempo me traz alegria?
Clicia Helena Zimmermann – professora