Me senti tocada desde a primeira vez que ouvi essa frase e de tempos em tempos ela pipoca em meu radar e então tento compreender seus amplos aspectos.

Amplos, pois com a mudança constante da vida, em cada momento ela traz uma reflexão e significados diferentes. E a vida vem em ondas, como o mar, num indo e vindo infinito, como diria Lulu Santos.

Assim construo um raciocínio, que desde cedo na vida lutamos pela nossa individualidade e independência, na tentativa de tão somente, quem sabe sermos uma ilha. E que com o passar dos tempos, ironicamente até, acabamos por perceber que a vida na ilha possa ser melhor alimentada através da construção de pequenas pontes, aonde simplesmente buscamos conexões e somos apresentados a interdependência.

Me encanta perceber essas diferentes nuances e ter revelados diariamente pequenos insights, como se a vida fosse uma grande colcha de retalhos construída pelas pistas que recolhemos ao longo do caminho e que juntas, de alguma forma, fazem sentido.

Assistindo um filme chamado Bokeh na Netflix essa frase apareceu novamente. O filme nos conta a história de um jovem casal norte americano, em uma viagem romântica pela Islândia, que ao acordar uma manhã, descobrem que todas as pessoas do mundo, simplesmente sumiram.

Até aí, isso soa como um simples sci-fi, mas que na verdade esconde o drama desse casal, que está longe de casa, num lugar belíssimo, porém é uma ilha inóspita e com um idioma completamente diferente.

Quem aí já não sonhou em estar só no mundo? Esse singelo filme pós apocalíptico nos convinda a perceber a importância que o meio possui em nossa vida.

Até que ponto estamos preparados para sermos tão somente uma ilha?

Vale assistir o filme e buscar essa reflexão e observar o caminhar desse casal em toda a sua saga, desde a euforia, liberdade, até a sensação da profunda solidão, mesmo podendo contar um com o outro.

Abro um parêntesis aqui, pois pesquisando encontrei algo curioso: Bokeh é um termo usado na fotografia referente às áreas fora de foco e distorcidas, produzidas por lentes fotográficas. Diferentes bokehs de lentes produzem efeitos estéticos separados em fundos desfocados, os quais são frequentemente utilizados para reduzir distrações e enfatizar o assunto primário.

Interessante perceber que é exatamente isso que o filme nos convida a fazemos.

Para finalizar, deixo aqui o texto original de John Donne: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Sejamos Ilhas, mas saibamos construir pontes e percebamos que as perguntas são muito mais importantes do que as próprias respostas, pois elas nos colocam em movimento.

 


Gislaine Bremer
 – consultora e especialista em mapeamento de ciclos