escrevi neste espaço um artigo sobre o cantor Luan Santana, criticando o
“fanatismo” de suas fãs (“Entre a admiração e o fanatismo” – 31 de agosto de
2010). Escrevi também sobre o Amor e sua banalização na música e na cultura em
geral (“É o Amor! – 4 de maio de 2010). Agora chega a oportunidade de retomar
os dois temas.

É que nesta última semana alguém me sugeriu ver o novo clipe do
Luan Santana, da música “Te vivo”, porque eu certamente iria gostar. Eu pensei:
“Estás me estranhando?” Mas fui verificar e realmente me surpreendi. A música é
muito boa, com ótimos arranjos e um belo solo de piano na introdução, além de
uma letra  carregada de romantismo e
sentimento e uma ótima interpretação do cantor.

Mas o melhor de tudo mesmo é o
clipe. As imagens evocam uma história de Amor que cresce e se fortalece com o
tempo, enfrentando as dificuldades e sorvendo as alegrias, chegando ao que
considero o grande gol de um relacionamento: a alegria de envelhecer juntos com
carinho, respeito e a certeza de que não é possível viver sem a pessoa que se
ama.

Ver essas imagens ouvindo a música é um bálsamo para o coração. Em tempos
de tanta banalização dos relacionamentos, Luan Santana consegue, com a sua arte
e a de quem produziu o clipe, despertar nossa sensibilidade para o que o Amor é
em sua essência. A educação da sensibilidade é fundamental para desenvolver
nosso intelecto e orientar nossas ações.

Não adianta “aprender” com a razão o
que é certo e bom se nossa sensibilidade nos arrasta para o lado contrário.
Existe uma relação estreita entre nosso modo de perceber e sentir, o modo como
entendemos racionalmente as coisas e, o mais importante, o modo como agimos. A
arte é a grande educadora da sensibilidade, e chamamos isso, tecnicamente, de
“estética”.

A educação estética é o modo como procuramos formar a nossa
sensibilidade e a de nossos filhos. E isso passa pelas músicas que ouvimos e
cantamos e pelas imagens que vemos. Numa época de “tchus” e “tchas” e “ai se eu
te pego”, a música “Te vivo” e seu clipe são um barco singrando contra essa
maré de idiotização da música e da cultura, que contamina a imaginação das
pessoas, e produz, como consequência, a banalização das relações afetivas,
porque leva à superficialidade e ao desrespeito para com a dignidade de si
mesmo e das outras pessoas.


Um
Amor que pode nos levar a envelhecer juntos, como o casal do clipe, não pode
ser superficial nem banal. Ele nasce da atração romântica, mas se nutre da
decisão de cada um de ser sempre uma pessoa melhor. Para isso, a outra pessoa é
fundamental, pois, na relação amorosa, nós vamos nos aprimorando, enfrentando
as diversidades, as diferenças, as fraquezas e usando tudo isso como
ingredientes para a construção da verdadeira felicidade: aquela que é fruto da
virtude e que só conhece quem não se conforma com os próprios defeitos.

Quem
vive na superficialidade não pode experimentar isso, e, portanto, não poderá se
comprometer em Amar ninguém de verdade. Quando um cantor popular como Luan
Santana coloca sua arte a serviço de um propósito tão nobre, eu aplaudo de pé.
O menino marcou um gol de placa. Alvíssaras!