Eis um trecho que li e gostei muito na semana passada: “Meus filhos terão computadores sim, mas antes terão livros. Sem leitura os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive sua própria história”. Se a frase fosse minha, poder-se-ia objetar que eu sou um remanescente da época da “Olivetti” e um semibrucutu em informática e tecnologia. Mas ela vem de ninguém menos que o maior responsável pelo desenvolvimento e disseminação da informática: Bill Gates. Vinda dele, a ideia ganha ainda mais força do que já tem naturalmente.

Ninguém mais pode ignorar nem impedir o fato de que as crianças já estão nascendo com um “chip” diferenciado, e têm tanta naturalidade para lidar com as tecnologias mais avançadas quanto nós tínhamos para nos sujar nas valas ou chutar uma bola. Mas a regra universal do equilíbrio não pode ser ignorada. Com todos os benefícios e facilidades que a tecnologia nos oferece, vem também o grande perigo do tempo demasiado que crianças e jovens passam “conectados” ao mundo virtual, mas desconectados da vida, da família e de tudo o que é bom e adequado à nossa natureza.

E não adianta justificar o excesso de conexão com o fato de se ter acesso facilitado à informação. Claro que a “web” nos permite encontrar coisas preciosas, acessar bibliotecas do mundo todo, consultar num toque qualquer verbete de enciclopédia e outras coisas mais. Mas não consta que esses sejam os destinos mais procurados pelos “navegadores”. O computador, o celular, a internet, os jogos eletrônicos são, acima de tudo, ocasião para diversão e entretenimento. Claro que isso, na justa medida, é saudável, mas, para estabelecer a justa medida, precisamos nos espelhar em Bill Gates. É muito celular e tecnologia para pouco livro, pouco conteúdo e pouco desenvolvimento humano.

A natureza humana não pode prescindir do contato físico, da conversa, do abraço, da cumplicidade real que cria uma amizade. Igualmente, a leitura de bons livros não pode ser substituída pelo “face” ou pelos jogos eletrônicos. Então, como Bill Gates, estimulemos nossos filhos a ler. Nossa natureza necessita que saiamos da velocidade da conexão, que nos concentremos num ponto, que exercitemos a imaginação, e o livro é uma excelente “tecnologia” para esta finalidade. Nosso amigo Bill está certíssimo ao afirmar que sem leitura ninguém será capaz de escrever. Nós professores nos certificamos disso no nosso cotidiano.

Eu me preocupo com os excessos desta geração que está o tempo todo com um fone no ouvido e que não pode passar quinze minutos sem teclar no celular ou em qualquer parafernália eletrônica. É preciso reafirmar que a tecnologia foi feita para o ser humano e não o ser humano para a tecnologia. Assim como utilizamos os automóveis, mas precisamos exercitar as pernas para não encarangarmos nem morrermos de infarto antes do tempo, podemos nos utilizar de toda a tecnologia disponível, mas sem esquecer que nosso cérebro está conectado, em primeiro lugar, a um corpo físico, a um coração pulsante. Que tenhamos sim computadores, mas uma pequena biblioteca indicará que estamos muito mais conectados. É o Bill Gates quem está dizendo!