Coisa Mais Linda é a nova série brasileira em parceria com o Netflix, cujo nome confesso ainda não saber se gosto ou não… que também é destinada ao público mundial.

A série, que tem apenas sete episódios para cativar o público (me cativou) trata das dores e alegrias de ser uma mulher no Rio de Janeiro no Brasil no finalzinho dos anos 50. Nessa época Brasília ainda não havia sido inaugurada e o Rio de Janeiro ainda era a nossa capital. A fotografia e a direção de arte são lindas e a música deliciosa e isso ajuda o telespectador a suportar as situações de dor que acompanhamos.

Ao longo dos episódios vemos o desenrolar dos acontecimentos iniciando com Maria Luisa (Maria Casadevall), a Malu, uma “paulistinha” que vai para o Rio de Janeiro atrás do marido e descobre o que mesmo fugiu com a amante e com o seu dinheiro, digo de seu pai. Ela levava uma vida privilegiada em SP, tem um filho de 3 anos e sofre uma pressão imensa do pai para se casar novamente e não ser a filha “desquitada”. Detalhe: nunca trabalhou na vida!

Então conhecemos Lígia (Fernanda Vasconcelos), sua amiga de infância, cujo sonho de infância/adolescência era ser cantora, mas acaba casada com um machista político de carreira e sua castradora sogra (que se diga consegue ser mais machista do que o próprio filho).

Aí surge Adélia (Pathy Dejesus), negra, empregada doméstica, típica personagem que nos acompanha até os dias atuais. Ela sofre por ser negra, pobre e mãe solteira. Desse encontro surge o Clube/Bar Coisa Mais Linda, inspirado nos clubes de jazz nova-iorquinos, mas destinado a bossa nova e ao samba.

Lígia nos apresenta sua cunhada Tereza (Mel Lisboa), recém-chegada de Paris (há dois anos como ela diz), feminista convicta e jornalista em uma revista direcionada ao público feminino feita quase que exclusivamente por pasme: homens.

Assim são as personagens da série e conforme os episódios avançam, vamos observando o desenvolvimento e observando a ambientação a esta época repressora que nosso país enfrentou. Mesmo com muitas diferenças entre si, as quatro protagonistas compartilham histórias e sonhos que têm como ponto comum, os preconceitos que ambas sofrem por serem mulheres em uma época onde a mulher ainda não tinha muito valor, e era tratada como um fardo para a família e um penduricalho para os homens.

Em uma das entrevistas sobre a série que eu vi, Mel Lisboa comenta que o fato de ser ambientada em outra época, nos ajuda a entender todo o preconceito que existiu e ainda existe contra as mulheres, como um contraste e nesse quesito concordo com ela, fica bem mais fácil.

De todas as situações, uma das mais absurdas é quando Maria Luisa decide ficar no Rio de Janeiro e abrir seu clube. Ela então se depara com um contador, um banqueiro e um empresário que dizem que mulher não nasceu pra trabalhar e que precisa de um homem para tanto, pois sua “firma” por si só não basta, não tem valor. Isso choca e nem faz tanto tempo assim…

Essas e outras tantas situações demonstram o quanto ainda precisamos falar sobre o assunto e fortalecer o feminino, não com um simples feminismo recheado de discursos de ódio, pois isso não contribui. Não me parece correto enaltecer o feminino em detrimento do masculino, há que se honrar as duas energias, na busca pelo equilíbrio, pois ambas são importantes.

O caminho parece longo, mas como a série retrata, existem homens fortes que contribuem para a força feminina, como o marido de Tereza, por exemplo.

O mais importante é a discussão que a arte traz a mesa e nos faz pensar, refletir e nos ajuda a quebrar as barreiras que foram construídas ao longo do tempo, seja por medo, seja pela cultura machista, seja pela conveniência social!


Gislaine Bremer