Cada sopro desencadeia uma atmosfera. Possuída de inércias, sento-me no sofá. Olho em volta, sem necessariamente procurar nada. No entanto, os olhos, acostumados a ver, sucumbem ao desejo de encontrar. E como estou a mercê do enfado, permito que eles, meus olhos, se prostituam com o que está fora. Tenho a plena convicção, que seja o que for que encontrem, está, irremediavelmente refém de nomes e prescrições. Mas, como estou sem vontade, permissiva em minha preguiça de ação, eu deixo. Esses olhos aflitos não me surpreendem! Buscam resultados espetaculares em cores e formas que são aceitas. Insistem, chegam a arder, na busca de algo que pode estar ali, mas embotada que estou com as classificações, não consigo ver. Sou refém das características primárias, tentando bravamente superá-las. Logo me aborreço…e parto para outra forma, outro objeto, outra sensação. Talvez seja, esse tédio…mas, nas tantas coisas que me rodeiam, todas elas me parecem de uma banalidade recorrente. Ando tão cansada da mesmice, que nem chego a ficar triste. O pior, fico conformada. Largada. Sem prepotência ou desejo. Amorfa em não querer nada.

Instala-se um silêncio que acoberta os gritos. Nem percebo que estou berrando, uivando por dentro. Por fora, nada em mim se move, paralisada que estou em ceder a vulgaridade das horas. Engulo esse drama para não cometer atrocidades. Muda. Fico muda, só olhando, só querendo ver.

Passam-se as horas, e na confusão dos barulhos e das imagens, o fato de estar inerte chega a me confortar de algum modo. Não repito, ensandecida, os mesmos gestos de socorro. Nem, me adianto a me mover, num ato falho de encontrar algo. Permaneço, insisto, nego. Todos os cheiros passam a desfilar saudades. Mas, nem mesmo eles me convidam a sair do retiro. Nas minhas mãos há, sem que eu me controle, uma sensação, uma presença…então permito que elas tateiem o ar, meu pé, minha face. Logo, no entanto, recuo, assustada com a previsão das sensações. Não me mexo. Silencio movimentos e expressões. Recolho-me em negação, ou talvez, de absorção daquilo que não foi dito, afirmado, rotulado. Parece eterna essa falta de qualquer tipo de ação. Mas, não esmoreço, não reajo.

Tantas horas se passam… Não conto o tempo, pois isso já seria uma reação. Escapo, ou ao menos tento, de qualquer atitude prisioneira.

Então, sem que eu deseje, sem que anseie, não são mais meus olhos que veem e olham. Mas algo, que não consigo nominar, se apodera de mim e, finalmente, por conta própria,  me faz encontrar algo que inerente a todo o discurso das coisas, se encontra ali. Não só diante de meus olhos, meu olfato, meu tato, meu paladar… algo possível, que não consigo nominar, que não consigo classificar. Algo que permeia tudo que está ao meu redor. Que está fora e dentro. Que transcende e recapitula memórias. Algo.

E da inércia vazia, surge incandescente e bela, a possibilidade. O poder ser, por detrás de qualquer ser. Levanto-me do sofá, que agora vejo vermelho, e coloco meus pés no chão, que agora sinto andantes. E mexo minhas mãos que deixaram de formigar. Abro a boca e grito, sem mistério de assustar. Abraço o encanto da obviedade, e enxergo, mais que vejo, o que está escondido no mistério do mundo.


Silvia Teske
– artista