As palavras me fogem e penso que preciso perder a intimidade que tenho com elas. Quero-as novas, outras exclamações e reticências…Preciso de mais vírgulas de apoio. Não estou disposta a pontos finais. Os verbos me parecem tão impositivos, já não transitam como antes diante dessas verdades impronunciáveis. Acalento sonhos de palavras livres e deslavadas, quase inaugurais…se é que isso é possível…Enfim, o ano me deixa sem fala verbal. Já pensei que talvez sejam os silêncios demorados e a inércia de aventuras. Pensei também que possa já ter dito tudo e não ter mais nada a dizer que realmente valha a pena. Não! Não! Não! Eu me recuso a acreditar que as palavras entraram em caixas e viraram classificações literárias. Eu exijo mais delas…eu as quero saborosas, vertendo líquidos calientes. Com desejos descabidos e cheias de atitudes. Resolvi que vou deixar de armazena-las em letras encarceradas. Trago-as agora impenetráveis e novas para meu exercício poético. Pretendo aliterar alistando aliás com alívios alistados em aliança alimentícia. Nutrientes estranhos compõe uma nova receita que talvez possa recuperar a paixão pela letra escarlate. Vesga envergadura envergonhada. Nas curvas de seus traços observo o desenho preponderante em que cada uma delas retém conteúdos. Pausas assoberbadas parecem não conter os silêncios necessários. Mostram-se inúteis, tentando criar potência. Sem reticências não é possível sonhar! Exclamações precisam de mais sentido, desengavetando emoções. Mas cadê elas? Corre um boato de que foram trancadas em lugar desconhecido. Que foram sequestradas por seres inconformados com seu vazio existencial. Vivem a pão e água e não conseguem mais respirar ares surpreendentes. Não criam êxtase, não desmontam obviedades. Largadas lá, em lugar sem luz, as emoções perderam sua força exclamativa. Contratei um detetive ponto e vírgula. Ele está no encalço, mas me noticia pouca coisa. A boca larga parece que estão incomunicáveis. Guardas colocam parênteses e não é possível aproximar-se. Já tentei vocativos, ver se a mensagem as alcança de algum modo. Mas os apostos permanecem vigilantes. Me resta continuar com improvérbios, pois no improvável talvez encontre apóstrofes híbridas, e neste caso, ao destemperar os significados exaustos das palavras, possa novamente me apaixonar por elas.


Silvia Teske
– artista