Quanto Vale se a vida não parece valer nada?
Foi um almoço em silêncio, indigesto. Sem sirenes, sem alardes, corpos deslizando em rios de dinheiro. Sempre aquela barreira, aquela margem, que de um lado coloca o homem espirituoso, e do outro aquele faminto de poder.
Como já sabia, Carlos Drummond de Andrade: “O Rio? É doce! A Vale? Amarga.
Quantas toneladas de ferro, em troca de vidas secas e pisoteadas, escorregadias entre as curvas de um rio de irresponsabilidades. Aonde se encontravam riquezas, hoje apenas corpos. Grandes mananciais de lama.
Brumadinhos viram o inferno na Terra, como Marianos e tantos outros hão de ver!
Inhotim, o maior museu contemporâneo a céu aberto do planeta, expõe a olhos nus ao redor de suas entranhas, a tragédia humana. Já haveríamos de ter Carlos Nejar e o seu “A vida de um rio morto – Monumento ao Rio Doce”. Os artistas não cansam de se repetir, de antever ou se tornarem atuais em suas tragédias anunciadas.
No Brasil que nada aprende com suas próprias mazelas!
Até quando as multinacionais irão deitar e rolar sobre o povo? Esse povo trabalhador que não dorme mais tranquilo. De olhos fechados a vida que segue, com o medo noturno de ser novamente, soterrado.
Morre gente, morre mata, morre bicho. Mas a ganância sobrevive.
Méroli Habitzreuter – escritora, pintora e ativista cultural
ilustração no alto da página: os Gêmeos
Um poema, que em meio a essas notícias, faz tão sentido que parece profecia. É Lira Itabirana, do Drummond. Foi publicado em 1984. Drummond nasceu em Itabira/MG, onde surgiu a companhia Vale do Rio Doce em 1942.
Lieza Neves