As possibilidades de internacionalização para empresas brasileiras são inúmeras e há ainda muito a evoluir. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), no ano passado, o Brasil negociou 334 bilhões de dólares em exportações, o que representa 1,3% do mercado mundial, atrás ainda de países como Malásia, Polônia ou Vietnã. A liderança é da China, seguida por Estados Unidos e Alemanha. O México é o líder entre os latino-americanos, no 13º lugar, 11 posições acima do Brasil.

Presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Maitê Bustamante enxerga que, em Santa Catarina, é nítida a mudança sobre a concepção que os empresários têm do processo de internacionalização, um ponto positivo relacionado também ao esforço realizado por entidades e poder público.

“O empresário está mais aberto a ouvir, investir, contratar consultoria, tem uma procura bastante alta nas missões comerciais para Coreia do Sul, Singapura, Índia, China. Vejo que já avançou bastante o entendimento do industrial em relação ao mercado exterior”.

Para aumentar a competitividade dos produtos catarinenses, a presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc ressalta dois pontos em especial: o investimento em segurança jurídica e planejamento estratégico.

“Temos produção, qualidade, prazos, agregação de valor, sofisticação como o europeu e americano, mas é necessário investir em aprendizado, compliance, segurança jurídica, matriz de meio ambiente e governança corporativa”, analisa Maitê.

Gerente de internacionalização do Sebrae-SC, Filipe Gallotti destaca que, nos últimos quatro anos, houve um aumento exponencial na procura por capacitação – de 60 empresários inscritos no primeiro ano, em 2020, passou para 400 em 2023.

“Acredito que o ponto mais importante neste momento é o fato de o tema estar sendo propagado. Quanto mais falamos sobre, mais empresas impactamos. Desde o primeiro ciclo, através dos eventos, já foram impactados mais de 7 mil empresários. Desta forma estamos construindo um soft landing apropriado para que eles se sintam habilitados, capacitados para alcançar novos mercados e oportunidades”.

Na sua opinião, a tendência é ainda um volume maior de negócios em um futuro próximo. “Mais empresas devem buscar esse caminho devido à globalização e às oportunidades de crescimento que os mercados internacionais oferecem. Além disso, a tecnologia facilita a comunicação e logística, tornando a expansão internacional mais viável”.

Especializada em roupas da linha noite, a Mensageiro dos Sonhos espera estar cada vez mais inserida no mercado exterior no futuro. Referência em produção para empresas private label, atualmente, a empresa de Brusque, que está há 25 anos no mercado e também tem 13 lojas espalhadas por Santa Catarina, já atende alguns clientes fixos em países da América do Sul, como Bolívia e Paraguai, além de importar uma linha específica da China, mas o momento atual permite ter perspectivas mais ousadas para um futuro próximo.

“Estamos, há muito tempo, desempenhando um trabalho de fortalecimento da nossa marca própria, e isso foi acelerado na pandemia. A exportação vem fazendo parte das nossas conversas e do nosso planejamento estratégico como uma grande oportunidade de expansão da marca. Hoje, já estamos com alguns parceiros no exterior e já exportamos para outros como Estados Unidos, Panamá, Argentina e Uruguai. A tendência é que, nos próximos anos, busquemos mais conhecimento para desenvolver a área de exportação”, explica a supervisora comercial da empresa, Cristiane Bussolo Boeing.

A gigante Shein é uma das clientes que já está alinhando negócios com a Mensageiro dos Sonhos. A empresa chinesa busca, com vários parceiros no Vale do Itajaí, preencher um espaço que surge com a queda das varejistas do Brasil.

“A Shein vem buscando fornecedores em nosso Vale e, diferente do que pensamos, ela chega com muitas exigências e critérios bastante rigorosos para o fornecimento, como o selo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex). Chegaram até nossa empresa por indicações e pela forma que conduzimos nossas relações e pela seriedade e ética que praticamos em nossas negociações”.

Obstáculos a serem superados

Em relação ao caso de Brusque, a coordenadora do Núcleo de Comércio Exterior da Acibr, Francine Krieger, percebe que, para alguns setores, o custo-Brasil de logística e burocracia ainda pesa na competição principalmente com a Ásia. Por isso, ela destaca que é necessário conhecer o seu negócio e os potenciais mercados para fazer investimentos mais certeiros.

Neste sentido, o gerente de internacionalização do Sebrae-SC ressalta que o planejamento estratégico, análise de mercados e precificação em moeda estrangeira são temas básicos, mas de extrema importância para quem entra em outros mercados. “Nem toda empresa tem a mesma ‘dor’. É necessário analisar individualmente as carências e pontos de melhorias”, resume.

Presidente da Associação de Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr), Mauro Schoening enxerga o mercado muito favorável para explorar e uma boa projeção pela frente, mas ressalta as mudanças internas necessárias para as empresas da região.

“Nossa mercadoria é vendável, mas falta realizar os trâmites internos da fábrica. Exportar não é difícil, mas é necessário estabelecer regras. Temos empresas excelentes que só precisam de conscientização”.

Pela força do têxtil em Brusque, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) entrou em contato com a Ampebr para prospectar empresas interessadas e incentivar a internacionalização na região.

Força do têxtil em Brusque chamou a atenção da Abit, que busca parcerias com entidades locais para ampliar internacionalização | Foto: Bruno da Silva/O Município

Lilian Kaddissi, superintendente de Projetos Estratégicos da Abit, enxerga em uma parceria com instituições da região uma oportunidade de explorar este potencial.

“A Ampebr, com sua importante atuação e condução de projetos, tem a capacidade de multiplicar esse conteúdo e mobilizar as empresas, para que conheçam as facilidades que o programa oferece, especialmente porque as empresas de Brusque já tem experiência e forte atuação no segmento têxtil e de confecção no mercado nacional, com potencial para expandir suas operações para outros mercados”.

Presidente nacional do Sebrae, Décio Lima vê um momento propício para as empresas que buscam a internacionalização.

“Houve o lançamento da Política Nacional da Cultura Exportadora, do governo federal, por exemplo, que coloca as exportações em outro patamar, pois passaremos a ter ações permanentes de apoio para garantir o protagonismo dos pequenos negócios. Brusque se destaca neste cenário em vários setores, como no têxtil. Estamos alinhando a implementação de ações efetivas que vão gerar mais oportunidades para essas empresas na exportação”.


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