Brusque permanece sem sistema de tratamento de esgoto após diversas tentativas fracassadas e não há perspectiva de quando a cidade terá o serviço. Em 160 anos de história o município nunca teve esgoto sanitário coletado e tratado. As consequências para o meio ambiente e a população são graves e a necessidade de solução é cada vez mais urgente.
O problema é repassado entre as gestões municipais há quase 30 anos e até agora nenhuma administração conseguiu tornar o serviço uma realidade.
A tentativa mais recente foi na gestão de Jonas Paegle, que abriu um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), o qual teve dez interessadas, mas apenas a Rio Vivo, empresa de Brusque, apresentou projeto, que foi rejeitado pela comissão responsável pela análise.
As outras nove interessadas no PMI não apresentaram projeto por causa da pandemia da Covid-19. O consultor de Licitações e Contratos do Observatório Social de Brusque, Samuel Patissi, conversou com empresas, as quais alegaram que, por causa das restrições, não puderam se deslocar até a cidade para realizar os estudos.
“O entrave é que as empresas precisam ter conhecimento in loco, precisam ter acesso a dados. E aconteceu no meio da pandemia, quando a cidade estava fechada. Só uma empresa de Brusque apresentou porque conhece os números”, comenta Patissi.
O processo é demorado e exige muita documentação. O consultor do Observatório Social orienta que, na abertura de um novo PMI, o ideal seria a participação da comissão desde a criação do edital, para que facilite o processo de análise.
Outro impasse é a concessão da água, que não é inclusa junto ao esgoto, e deve permanecer com o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) de Brusque.
Impacto ambiental
O esgoto doméstico gerado acaba no rio Itajaí-Mirim, trazendo consequências para o meio ambiente. “Hoje está podre [o rio] e o principal fator é o esgoto”, afirma o engenheiro ambiental Diego Furtado.
Os sistemas de fossa e filtro ajudam a minimizar o problema, mas não dão conta do recado. E há pessoas que não têm fossa e descartam o esgoto no terreno ou em córregos, o que contamina o solo com patogênicos, comprometendo o lençol freático.
A falta de um sistema de tratamento de esgoto ainda prejudica a captação de água. “Quanto mais suja, mais pesado é o tratamento químico. Vai tirando a qualidade da água e encarecendo o tratamento”, diz Furtado. Conforme a população cresce, o problema aumenta. “Cada vez a situação vai ficar pior e vai ter que gastar mais ainda com tratamento [de água]”, diz o engenheiro.
Ainda há o problema com o despejo irregular de efluentes por parte de empresas. Quando isso ocorre acima da área de captação de água, compromete a qualidade do recurso porque o tratamento não acaba com estes químicos. “O que fica na água vai para a população”, diz o engenheiro ambiental.
Por que Brusque ainda não tem tratamento de esgoto
Na visão do engenheiro, Brusque ainda não tem tratamento de esgoto sanitário por dois motivos: obra cara e complicada e baixa percepção da população sobre a gravidade do problema.
“Não é uma obra que é bem vista pelo poder público porque é cara, tem que rasgar a cidade toda, tem que obrigar as pessoas a ligarem na rede e gera custo adicional à população”, diz Diego Furtado, engenheiro ambiental.
O prefeito Ari Vequi diz que, no momento, em meio à pandemia, não quer gerar mais uma taxa para a população de Brusque.
E, na percepção do engenheiro, não há uma cobrança insistente porque o despejo doméstico não é tão visível. Ele compara com Itapema, onde o esgoto que não é tratado para na praia. “Uma das principais causas é a baixa preocupação porque não se tem percepção de urgência. Vai para o rio, e no rio não se vê mais. É diferente quando não se vê. Lá [em Itapema], vê que está na praia.”
“Não poderíamos estar no zero”
O diretor-presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), Luciano Camargo, eleito presidente do Conselho Municipal de Saneamento Básico, diz que pretender trabalhar pra avançar na questão do tratamento de esgoto. “Não poderíamos estar no zero. Já deveria ter iniciado”, comenta.
O prefeito Ari Vequi estuda uma parceria com a Caixa Econômica Federal. A intenção é que o banco estatal faça o projeto para a obra. O gestor aguarda uma resposta.
Caso a proposta não vá para frente, o prefeito diz que o último recurso seria estudar uma alternativa por meio do Samae, processo que seria ainda mais demorado.
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