Nas primeiras décadas do século 20, Tijucas conheceu um efêmero período de prosperidade econômica e social, baseado numa atividade comercial exportadora de produtos agrícolas e da extração de madeira ao longo do vale do rio Tijucas. Em conseqüência, a cidade conheceu os seus casarões senhoriais, guarnecidos com luxuosos mobiliários, baixelas de prata e porcelana inglesa. Conheceu, também, um hospital, jornais semanais, um dos primeiros cinemas do Estado, a telefonia, um colégio particular com ensino de boa qualidade e até uma rádio emissora, num tempo em que tudo estava por começar em nosso Estado. 

Depois, veio a Segunda Guerra e um processo de decadência que parecia não terminar mais. Os veleiros da “gloriosa Marinha Mercante” tijucana recolheram suas velas para nunca mais serem içadas. As poucas e pequenas indústrias da cidade fecharam suas portas e as cerâmicas implantaram-se em Canelinha, município nascido do ventre tijucano, que levou as últimas esperanças de retomada da prosperidade perdida. E Tijucas passou a ser ironizada por seus moradores como a “Terra do Já Teve”. 
Por muitos anos, Tijucas serviu aos seus filhos o prato amargo da decadência econômica. Muitos deles partiram em busca de oportunidades laborais em outras plagas. Nessa leva de migrantes estavam meus pais, em busca de um trabalho que a terra natal já não conseguia oferecer. No caminhão de mudança, além do mobiliário pobre, seguia a esperança da sobrevivência em melhores condições. Comigo, ia também a tristeza de deixar para trás o tempo de uma infância que não seria revivida no ambiente da capital, difícil e hostil para os migrantes que chegavam à procura de um lugar ao sol, na Ilha da fantasia. 
Agora, parece que tudo mudou e o progresso retornou à minha terra natal. Tempos atrás, entrei na cidade por Santa Luzia. No pórtico de entrada, a grande surpresa. Além do conhecido chavão turístico “Bem Vindos a Tijucas”, uma outra frase de impacto, que me causou enorme alegria: “Aqui Começa o Progresso”. Mais adiante, na entrada para quem chega pela BR-101, outra placa saudando os visitantes: “Bem Vindos a Tijucas – Orgulho que não Pára de Crescer”. 
E, no bairro da Joaia, na saída para Canelinha, mais uma demonstração de entusiasmo e otimismo. A placa não deixava por menos: “Volte Sempre e Venha Conferir a Grande Mudança”. Afinal, parece que havia acontecido o tão acalentado milagre do reencontro de minha cidade com o merecido progresso econômico. 
Creio que a administração municipal deve ter informações que confirmem o crescimento econômico tijucano. Mas, confesso que não vi sinais do progresso anunciado. Telefonei para um amigo, indagando sobre as entusiásticas frases, anunciando oficialmente o progresso da nossa gloriosa terra. Com a ironia própria dos tijucanos, disse-me que, na entrada em Santa Luzia, os funcionários da Prefeitura haviam colocado a placa do lado contrário, pois a frase era para ser lida pelos motoristas que estivessem saindo da cidade. 
Com relação aos dizeres da placa de entrada da BR-101, os comentários são ainda mais irreverentes e maliciosos. Dizem que o que não pára de crescer é o orgulho do povo tijucano por seu passado de glórias, porque a cidade ainda continua esperando pelo progresso. 
João José Leal – Promotor de Justiça aposentado – [email protected]