Juro que não pretendia falar de política hoje, mas não
poderia deixar de repercutir as prisões dos mensaleiros ocorridas durante o
final de semana. Depois da frustração dos embargos infringentes, finalmente a  
República brasileira pode presenciar a prisão de criminosos políticos de alta
patente, o que marca definitivamente a história do país. Não significa que a
endêmica corrupção do poder público brasileiro esteja resolvida, mas há um
recado claro para quem pensava que tudo, sempre, tem que acabar em pizza. Pelo
menos desta vez não acabou.

Mas o que marcou mais que as prisões foram as inúmeras manifestações
de solidariedade aos presos, especialmente Dirceu e Genoíno. Na chegada de
Dirceu à Polícia Federal, um grupo de manifestantes gritava “Dirceu guerreiro
do povo brasileiro”, ao que o ex-ministro respondeu com os punhos cerrados para
o ar. Em várias oportunidades, alegou-se a ilegalidade das prisões, alçando os
condenados à condição de presos políticos, de perseguidos pela grande mídia.
Genoíno chegou a declarar que, se morresse na prisão, todos saberiam quem eram
seus algozes. Será que eles consideram que estão nos porões da ditadura, ou que
estão em Cuba?

Em evento que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff,
o presidente do Partido Comunista do Brasil tomou as dores dos “companheiros”,
alegando que não considera que a justiça foi feita e que o julgamento, que se
arrastou por oito anos no STF, foi um julgamento político. Esse tem sido o tom
do discurso oficial dos defensores dos mensaleiros, para quem o mensalão é uma
invenção da mídia. Para os que realmente têm alguma dúvida acerca disso, talvez
convenha reanalisar o imenso cabedal de provas produzidas durante o processo,
rever as análises de cada ministro, as petições dos inúmeros advogados, de
primeiríssima linha, contratados para a defesa dos réus. Não obstante tudo
isso, há quem ainda diga que não houve direito ao contraditório. Sobre a prisão
dos réus antes do julgamento dos embargos infringentes, a que alguns deles têm
direito, critica-se a arbitrariedade da decisão. No caso da aceitação dos
mesmos embargos, com imensas dúvidas acerca da sua possibilidade, a decisão é
considerada correta, de acordo com o direito. O que é a justiça, então? É só o
que favorece a esse grupo?

A despeito de todo esse circo montado para negar os fatos,
culpar a mídia e a oposição (aliás, que oposição? Temos alguma?), tivemos um
sinal claro de maturidade política, de democracia e de independência dos
poderes. Que possamos avançar nesse caminho.