Brusque fez o que tinha que fazer na Copa do Brasil; qualquer classificação será surpresa
Terceira fase é a que realmente divide os clubes maiores dos menores e torna zebras improváveis
Terceira fase é a que realmente divide os clubes maiores dos menores e torna zebras improváveis
A Copa do Brasil, competição supostamente democrática e que dá margem para a exclusão de clubes das Séries A, B e C, deixa os times menores brincarem até a segunda fase, no máximo. Quando chegam à terceira fase, geralmente é hora de dar tchau.
É por isso que a CBF divide os clubes novamente em potes. De um lado, 15 times da Série A e o Athletico, sexto colocado no ranking da CBF. Do outro, estão um time da Série A, seis da B, seis da C e três da D. As chances de zebra nos confrontos de ida e volta são reduzidas, e poucos serão os confrontos realmente equilibrados nesta fase.
Em 2024, só quatro clubes do pote 2 seguiram adiante, onde havia maior equilíbrio: Vasco (passou pelo Fortaleza), Goiás (passou pelo Cuiabá), CRB (passou pelo Ceará) e Juventude (passou pelo Internacional). Em 2023, só o Sport avançou, vencendo o Coritiba.
Outra questão está ligada aos estádios. Na terceira fase, só são aceitos estádios com capacidade mínima para 10 mil pessoas. Quem não tem casa própria ou alugada deste tamanho tem que dar seus pulos. É por isso que o Brusque não joga Copa do Brasil no Augusto Bauer desde 2020, porque quando chegou aos jogos únicos da segunda fase em 2023, 2024 e 2025, não teve o mando de campo sorteado a seu favor.
E em 2025, no caso do Brusque, é muito clara a situação. Pode transferir seu jogo como mandante para Florianópolis ou Joinville. Ou, a depender do tamanho e do apelo do adversário, dá até para vender o mando de campo para algum centro como Brasília. E sob a SAF, acredito que não haverá cerimônia alguma para fazer uma eventual venda e embolsar alguns milhões. Todo o chamado G-12 é um adversário possível do Brusque, além de forças importantes como Bahia, Fortaleza, Athletico e Red Bull Bragantino.
O Brusque teve sorte nas duas primeiras fases, com adversários acessíveis. Foi possível vencê-los com muito mérito e chegar até onde é normal para o clube e para a organização da Copa do Brasil. É sempre possível sonhar com mais, mas, a princípio, basta torcer para que sejam bons jogos, com boas atuações.
O Brusque será julgado nesta terça-feira pelo conflito envolvendo a FCF e o bar que tem as janelas voltadas ao estádio Augusto Bauer. Era o mandante da partida contra a Chapecoense em 1º de março e, horas antes do apito inicial, funcionários do bar entraram no estádio para retirarem o banner que a FCF havia feito especialmente para cobrir as janelas.
Ao que parece, a FCF não quer um bar com capacidade para menos de 100 pessoas, separado do estádio, explorando comercialmente um evento que é da FCF. Os donos do bar e do prédio se resguardaram com a artimanha de serem proprietários de uma faixa de 1,5 metro no recuo da linha de fundo. Ou seja, a FCF não poderia bloquear janela alguma. Mas pode reagir de outras formas.
Fato é que, em medidas oficiais, considerando o imóvel do estádio, o Augusto Bauer não teria condições de receber jogos. Afinal, o recuo da linha de fundo é de 1,5 metro, com mais 1,5 metro necessário e restante pertencendo ao centro comercial, que “cede” a faixa de campo para que o estádio seja funcional. Se a FCF quiser forçar a interdição do Augusto Bauer, tem este argumento, que parece ter sido descoberto após o início da cruzada contra o bar.
Então é difícil, num primeiro momento, imaginar o bar ganhando esta queda de braço, ao menos no curto prazo. Se o bar cede, perde o “acesso” aos jogos. Se a FCF interdita o estádio, não só o bar fica sem partidas, mas também o Brusque e talvez até o Carlos Renaux fiquem sem casa para jogar. E a reforma, que foi anunciada por seus idealizadores como algo em prol do futebol e do esporte da cidade, acabaria responsável indireta ou diretamente por deixar Brusque sem futebol profissional, numa dividida com a FCF.
Do outro lado, a FCF tem critérios esquisitos, e de uns tempos para cá parece extremamente ressentida com o Brusque, após anos de colaboração. Talvez pelo fato de o pequeno e desconfortável Augusto Bauer ter sido palco do jogo de volta de uma final três vezes nos últimos anos (2020, 2022 e 2023), o que gerou reclamações por parte de adversários do quadricolor e por parte do público. Mas é um palpite e nada mais.
Se alguém nas casas e prédios próximos do estádio Alfredo João Krieck, em Rio do Sul, fizer uma festa e vender bebidas em seu imóvel com ampla visão do gramado, a FCF teria poder de intervir e exigir algo do clube mandante? Se pessoas do lado de fora do estádio Josué Annoni, em Xanxerê, vendessem bebidas em algum tipo de camarote improvisado na rua, com visão total do campo, a FCF teria poder de impedir ou punir?
O caso de Brusque só não é totalmente análogo a estas hipóteses porque trata-se de um estabelecimento formal. Mas trata-se de outro imóvel, com outra matrícula, e sem oposição do proprietário do estádio, o Carlos Renaux. E o Brusque, enquanto locatário, é uma parte isolada que pouco pode fazer.
Fora de Santa Catarina, há um caso curiosíssimo, que faz pensar como a FCF agiria: o do Pacaembu. Um hotel de luxo com 87 quartos está sendo construído junto ao estádio, atrás de um dos gols. Vários quartos terão vista completa do gramado. E aí? Se a matrícula for a mesma, vale? Se não for? E o ingresso? E o consumo? Como a Federação Paulista e a CBF vão se portar? Vão denunciar no TJD pedindo multa aos mandantes, talvez uma interdição?
Esta terça-feira deve trazer algumas primeiras conclusões, mas não uma solução. Parece um problema que ainda vai incomodar o Brusque por algum tempo, como se já não houvesse abacaxi demais para descascar.
Kai-Fáh: Luciano Hang foi dono de bar em Brusque, onde conheceu sua esposa: