Brusque SAF tem pouco mais de um mês até a Série C para organizar a casa
Nova administração começa cortando tudo, numa transição na qual quem mais perde são jogadores e funcionários
Nova administração começa cortando tudo, numa transição na qual quem mais perde são jogadores e funcionários
Da vitória do Brusque sobre o Olaria pela Copa do Brasil até a estreia na Série C terão passado 37 ou 38 dias, e este será um período no qual o clube precisará se acertar administrativamente, de uma vez. O clima, especialmente para quem viveu o clube na gestão Rezini e está vivendo a transição para a SAF, é muito ruim.
A obrigação de aceitar reduções salariais para seguir sob a nova administração, até abrindo mão de alguns valores a receber, é ultrajante para o trabalhador. Não importa se ele ganha R$ 3 mil ou R$ 30 mil, trata-se de um corte de direitos (ou, na visão corporativa, de despesas), inclusive estabelecidos em contratos anteriores à SAF.
Mas não é a primeira e não será a última empresa a forçar a saída de pessoas ou a reduzir despesas em transições controversas, com a corda sempre arrebentando do lado mais fraco. O clube de futebol como se conhecia acabou. Agora é empresa, planilha, número, no capitalismo mais cru que for possível. Se abrir o estádio para a torcida só uma hora antes do jogo reduzir o custo em 25 centavos, assim será. Investir o mínimo possível, especialmente agora, para extrair o máximo de retorno.
Então é incrível que os mesmos jogadores e funcionários que estejam vivendo esta transição tão austera dediquem-se tanto para que, dentro de campo, o Brusque esteja na terceira fase da Copa do Brasil e com uma campanha OK no Catarinense. Há cinco jogos sem perder, ninguém pode acusar o time de não correr, de não lutar, mesmo com cada jogador e membro da comissão técnica tendo suas dores contratuais no momento. O trabalho é bom dentro de campo.
Enquanto reforços chegam, outros jogadores recebem propostas da SAF que tornam suas permanências praticamente inviáveis. Serrato foi para o Tulsa-EUA. Ianson, recordista em títulos e com mais de 200 jogos no clube, viu a rescisão como única saída. Até onde se sabe, está próximo de assinar com o Tombense-MG. Gabriel Honório, recém-chegado, também já saiu. Seu destino deve ser o Botafogo-PB.
Até mesmo funcionários de longa data estão nesta conta, como o roupeiro Adílson Meneses e o assessor de imprensa Douglas Atkienson. O preparador de goleiros Márcio Quevedo, com 10 anos de casa, e o preparador físico George Castilhos também poderão sair neste contexto. E certamente não são os trabalhadores mais caros.
Assusta o modo com que são levados a sair, em propostas de “pegar ou largar” inferiores aos contratos do clube associativo sob todos os aspectos, pondo em xeque alguns direitos que antes pareciam estar garantidos. E não será surpresa se ações trabalhistas contra o Brusque choverem no curto e médio prazo. Quem pagaria e como pagaria? A ver.
E o que é um alerta imenso, até mais do que as diversas saídas, é o técnico Filipe Gouveia precisar responder se fica no Brusque para a sequência da temporada. Precisar responder que teve conversas com a SAF, que recebeu informações de que as coisas vão se resolver.
Significa que o treinador que chegou com a SAF teve expectativas frustradas e não viu progressos no ritmo que foi informado inicialmente. Precisou de uma reafirmação de confiança por parte de seus superiores para permanecer e cumprir seu contrato.
Resta torcer para que o treinador permaneça mesmo no clube e que não cruze com nenhuma oportunidade tentadora em Portugal, onde tira sua folga. E que a administração do Brusque entre nos eixos de uma vez. Talvez o clube já estivesse próximo de fechar as portas sem a SAF, mas, até aqui, há muito barulho de caminhão para pouca mudança.
O Brusque cresceu muito mais dentro de campo do que fora dele. É um clube que transita entre as Séries B e C sem ter patrimônio físico, com estrutura inferior à de muitos clubes de Série D e abaixo.
Isto causa uma necessidade maior de investimento de curto prazo em elenco e comissão técnica, em detrimento dos investimentos em estrutura.
Ao longo de todos estes anos, o Brusque vivia de forma relativamente estável financeiramente. Se gabava de não ter salários atrasados. Em 2021, viabilizou a quitação de dívidas trabalhistas. Mas sempre foi extremamente dependente de um único patrocinador.
Quando este patrocinador fez a opção de parar por uma única temporada, o Brusque começou a descer ladeira abaixo, sem nenhuma preparação ou Plano B que o protegesse. O orçamento de 2023 acabou sendo muito menor do que o planejado e ninguém substituiu o patrocinador à altura. Salários e premiações começaram a atrasar. O Brusque subiu à Série B mesmo assim.
Mesmo com o retorno do patrocinador, as despesas disparam em 2024. O Brusque tenta montar elenco de Série B e tem que jogar em estádios fora da cidade por 10 meses. O faturamento despenca e o endividamento cresce.
Em 2025, não há liquidez alguma, nem perspectivas de solução ágil no clube associativo. A diretoria, desesperada com o que poderia acontecer e sem poder de barganha, pela situação caótica, acelera tratativas com empresários para formar e vender uma SAF.
Com bailão e danceteria, Shopping da Tradição trouxe shows de música gaúcha a Brusque: