Brusquense autista de 11 anos será protagonista de curta-metragem com ator Otávio Augusto
Davi Burg interpretará menino autista com hiperfoco em astronomia em “Notícias da Lua”
Davi Burg interpretará menino autista com hiperfoco em astronomia em “Notícias da Lua”
O brusquense autista Davi Burg, de 11 anos, será o protagonista do curta-metragem “Notícias da Lua”, que contará com a participação do ator Otávio Augusto. A produção será da Café Preto Filmes, sob a direção e roteiro de Sérgio Azevedo, também natural do município. As gravações iniciam em outubro, em Criciúma, no sul do estado.
No curta, Davi interpretará Luã, um menino autista de 10 anos com hiperfoco em astronomia. Após a lua desaparecer misteriosamente, ele será ajudado a descobrir o que aconteceu com ela pelo personagem Astor, um velho zelador de escola apaixonado por ciências e astronomia, interpretado por Otávio Augusto.
A notícia da escalação foi recebida com felicidade pela família de Davi. A mãe, a jornalista Guédria Motta, recorda que uma amiga a marcou em uma publicação sobre a seleção nas redes sociais. Então, ela verificou os requisitos da busca pelo ator, que se encaixavam com o perfil do filho.
O garoto foi selecionado pelo próprio diretor Sérgio Azevedo, após testes de elenco que contaram com a participação de quase 40 meninos autistas da mesma faixa etária. “Não delimitamos território. Recebemos e-mails do Rio de Janeiro, São Paulo e de outros estados, além de outras cidades de Santa Catarina. Selecionamos sete meninos, e seis deles fizeram o teste de elenco em 13 de junho, em Florianópolis”, detalha o cineasta.
Segundo Guédria, que também é autista, a expectativa foi um tema trabalhado durante o processo. “A frustração é algo complexo para a pessoa autista. Então, deixamos claro que o importante era viver, aprender e ser grato pelas experiências, independentemente do resultado. Foi muito bom conversar com o diretor e fazer um novo amigo. Também foi divertido brincar com as câmeras em Florianópolis”, relata.
Agora, o jovem brusquense contracenará com o ator que é renomado nacional e internacionalmente por seus 60 anos de carreira na televisão, teatro e cinema. “O Davi não tem noção do que isso representa, porque vive de uma maneira muito natural o projeto. Atualmente, ele faz aulas particulares de teatro e tem encontros on-line com o diretor para estudar o roteiro. Está se preparando para a semana de gravações, em outubro”, completa a mãe.
Guédria conta que Davi começou a falar aos 5 anos e que o processo de neurodesenvolvimento dele é atípico. Hoje, aos 11, ele já vislumbra o futuro. “Ele diz que quer ser ator, blogueiro, mesmo sem ter rede social, e professor de Educação Física. No entanto, o que nos fez pensar que essa experiência seria positiva foram os sinais que ele nos dá sobre a importância da arte em sua vida”, afirma.
Ela exemplifica que, eventualmente, a escola de Davi promove uma atividade chamada Recreio Cultural, na qual as crianças podem usar fantasias. “No sexto ano, ninguém mais quer se fantasiar, é uma fase de transição para a adolescência. Mas ele não perde a oportunidade. Certa vez, chorou, intimidado por se perceber diferente. Estava vestido de Michael Jackson. E nós conversamos sobre a coragem de viver e de ser feliz com a nossa autenticidade”, continua.
“Talvez ele não seja o único que goste de fantasias, mas foi o único a ter coragem de fazer o que considerava certo em seu coração. Agora, já superamos: mês passado ele foi o Curupira no Recreio Cultural e até ganhou algo por ser o único fantasiado da escola”, relembra.
Guédria ressalta que a família procura viver cada dia com tranquilidade, fazer o melhor possível e passar por essa experiência com simplicidade e gratidão. “As primeiras pessoas com quem fiz questão de compartilhar a notícia foram os médicos e terapeutas que acompanham nossa família ao longo desses anos. Eles fazem parte dessa história. Davi é egresso da Apae de Brusque e nos orgulhamos muito disso”, ressalta a mãe, que agradece ao diretor Sérgio Azevedo por buscar uma criança com deficiência para o filme. “Ele é um jovem cineasta que acredita na inclusão”, pontua.
Sérgio, de 30 anos, descobriu ser autista aos 27. “Notícias da Lua” é sua terceira obra de ficção como diretor e roteirista. O texto foi escrito no último ano.
“Acabei escrevendo muito sobre mim na infância, é quase autobiográfico. É baseado em uma experiência que tive no Observatório Astronômico de Brusque, quando tinha uns 9 ou 10 anos, quando morava e estudava em Guabiruba”, relembra.
Nessa visita, no início dos anos 2000, o cineasta foi recebido pelo astrônomo Silvino de Souza. O tema despertou seu interesse, e ele desenvolveu um hiperfoco em astronomia. “Voltei para casa querendo ser o Silvino. Desenhei o sistema solar, coloquei meus amigos de rua para assistir à minha apresentação, e eu queria ter meu próprio observatório. Tive um pequeno hiperfoco, sem saber o que era isso”, conta.
Sérgio revela que a ideia inicial era gravar o curta no observatório brusquense, mas o local foi fechado após a saída do Clube de Astronomia do Observatório Astronômico, em fevereiro deste ano. Então, a produção decidiu fazer as gravações em Criciúma, onde tem um planetário.
A escolha por um ator autista foi definida antes mesmo do início da pré-produção. “Ninguém precisa falar por nós, autistas; temos a nossa própria voz”, reflete o diretor.
Sérgio destaca que a intenção era que a criança escalada trouxesse suas próprias características ao personagem. “Queremos que ela venha do jeito que é, que traga sua bagagem. Claro que há a interpretação, mas se ela tiver estereótipos e outras características do autismo, que as mantenha”, defende.
Segundo Sérgio, a escolha de Davi envolveu técnica e coração. “Ele ser de Brusque foi uma coincidência boa, pois é legal ter um conterrâneo. Não foi proposital”, comenta. “O que me chamou a atenção foi alegria dele, espontaneidade, está sempre pra frente. Não tem tempo ruim, é um menino que transmite felicidade. Foi aquela coisa do coração, ele tem talento e bateu o coração”, explica.
Também fazem parte do elenco do curta o ator gaúcho Cássio do Nascimento, que interpretará Samuel, o instrutor do observatório, e as atrizes catarinenses Dea Busato, no papel de Verônica, mãe de Luã, e Ana Miranda, que interpretará a professora Márcia.
A obra será realizada com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema 2023, Edição Especial Lei Paulo Gustavo, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.
“O filme fala sobre sentir o que não se pode ver. Quando a lua desaparece no filme, ela está na fase nova. É uma analogia: o autismo é como a Lua Nova; nem sempre dá para ver, mas está lá”, finaliza o diretor.
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