Bruno da Silva
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Janaína Fabiani Kuster da Rosa, 39 anos, moradora do Primeiro de Maio, ouviu muitas vezes que seria impossível que ela engravidasse. Acometida por uma forma agressiva de endometriose, ela passou por várias cirurgias devido ao problema e, apesar da orientação médica de vários profissionais para que retirasse o útero, ela manteve as esperanças.
No começo deste ano, veio a notícia: ela finalmente estava esperando um bebê. Laura, contra todas as estatísticas, é o milagre do casal Janaína e Lucas.
O diagnóstico
A primeira vez que Janaína procurou um profissional devido à vontade de ser mãe foi há 16 anos, três após ela casar. Inicialmente, ela não recebeu nenhum diagnóstico e, aparentemente, não teria problemas para gerar uma criança. Ao longo do tempo, porém, mesmo com várias tentativas, ela não conseguia engravidar.
Ela fez baterias de exames algumas vezes, mas nada era identificado. Algumas amigas levantaram a hipótese de ela ter algum problema como ovário virado ou endometriose. Seu marido também realizou testes, mas tudo parecia normal exceto o fato de que ela não engravidava
Após mais de uma década de tentativas frustradas de uma gestação, Janaína buscou um outro especialista para tentar identificar porque não conseguia realizar o sonho de ser mãe.
Já em 2019, ela foi a um médico que lhe perguntou sobre anormalidades nos seus ciclos menstruais, e ela relatou que sentia muitas dores. Ele desconfiou que era endometriose, o que, na maioria dos casos, impede a mulher de gerar. E Janaína tinha desenvolvido um quadro crônico da doença.
“Fiz exames e aí descobri que a endometriose tinha inflamado e se instaurado em tecidos de intestino, bexiga e de todo útero. Como não tinha atendimento aqui em Brusque, fui encaminhada para Blumenau”.
A endometriose não tem cura e é uma modificação no funcionamento do organismo. Ela faz com que as células do tecido que reveste o útero, ao invés de serem expelidas durante a menstruação, se movimentem no sentido oposto. Assim, caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a se multiplicar.
Complicações
Janaína passou por uma série de exames, e o médico disse que ela não conseguiria engravidar porque o problema era realmente sério. A sugestão era retirar o útero, mas ela acreditava em um milagre. “Eu disse para ele fazer tudo que pudesse, deixava nas mãos dele. Mas o que ele não pudesse, eu deixo com Deus, porque ele vai fazer”.
Inicialmente, seria uma cirurgia simples para limpar a inflamação da endometriose, por vídeo, com previsão de alta já no dia seguinte. Mas foi bem mais complicada do que parecia.
A cirurgia por vídeo não foi suficiente para o caso dela. “Foi feito um corte similar ao de uma cesárea. Tinha pedaços de endometriose também no reto. Teve que ser aberto um corte para limpar e para que eu pudesse tentar engravidar. Fiquei internada três dias”.
Ela então fez um tratamento durante seis meses, com medicação, para tentar engravidar. Janaína foi encaminhada para um especialista em inseminação in vitro, mas ele disse que a endometriose havia deixado gordura nas trompas. “Se as duas estivessem comprometidas, não haveria como acontecer a gravidez, nem mesmo por inseminação”, lembra.
Então, ela passou por outra cirurgia, já em agosto de 2020, para retirar a gordura das trompas. Uma conseguiu ser resgatada, mas a outra foi retirada.
Depois disso, Janaína passou por um novo tratamento. Ela realizava, a cada 15 dias, realizar aplicações no útero durante três meses para tentar engravidar. Como não funcionou e já tinha novos focos de endometriose, o especialista disse que eles não tinham o que fazer para que ela gerasse um filho.
Emocional abalado
A endometriose não tem cura, mas, após cirurgia para retirada, pode demorar até dez anos para voltar. Janaína conta que no seu caso, porém, devido também ao emocional abalado pela frustração de não engravidar, a doença retornava mais rapidamente.
“Era uma luta diária na cabeça. Desenvolvi forte quadro de ansiedade. Tomei remédio para dormir por cinco anos. Era uma corrida contra o tempo também por causa da idade. Sabia que Deus poderia fazer, mas eu sou um ser humano, então isso me balançava. Mas nunca desisti. Coloquei nas mãos d’Ele”.
Então, apesar das indicações médicas, ela escolheu não retirar o meu útero. Desde 2020, porém, ela não fazia mais nenhum tratamento específico para engravidar. “Decidi descansar, trabalhar minha mente”.
Em 2023, Janaína voltou a sentir muitas dores onde fez a cirurgia e procurou uma especialista em Brusque. Ela passou por alguns exames, e a profissional explicou que a endometriose tinha voltado, afetando apêndice, intestino e bexiga.
Ela, mais uma vez, ouviu a recomendação de que a melhor opção era retirar o útero já que a endometriose seguia voltando. Outra vez, ela se recusou e passou por outro procedimento cirúrgico.
“Voltei para o médico que me operou pela primeira vez. Ele falou que não tinha como fazer para me ajudar a engravidar. Fiz a cirurgia em julho do ano passado. Quando eu estava na mesa da cirurgia, ele disse que talvez precisasse retirar o útero, mas eu disse para ele fazer o máximo que podia para preservá-lo. Ele ainda disse que eu poderia ter que usar uma bolsa de colostomia já que afetou o intestino”, relembra. “Meu útero foi mantido, mas ele deixou bem claro que era por opção minha, sem esperanças de uma gestação”.
A partir daquele momento, ela passou a fazer uso de anticoncepcional, para controlar a endometriose. “Comecei a tomar, mas estava muito abalada física e psicologicamente, estava muito cansativo. Muitos diagnósticos dizendo que eu não poderia engravidar. Mas eu conversava com Jesus, dizia que não aceitava. Eu acreditava em um milagre”.
Preces atendidas
No fim de novembro, ela voltou a sentir dores na cicatriz da sua cirurgia. Um novo diagnóstico a deixou ainda mais desacreditada. Ela não sabia, mas o seu milagre já estava em seu ventre.
“Voltei na minha médica aqui em Brusque e contei o que estava acontecendo e que estava tomando o anticoncepcional. E aí eu fiz um ultrassom e disse que minha endometriose tinha voltado e que estava com miomas no útero. Eu disse para ela que eu mantive o útero porque tinha esperanças. Quando vi que o problema voltou, estava pensando seriamente em retirar o útero, mas esperei mais um pouquinho”.
Em dezembro, voltou a se sentir muito mal, com enjoos, achava que estava com gastrite. Tudo que ela comia lhe causava mal-estar. “Passei o mês inteiro assim. Parei de tomar o anticoncepcional, mas não tinha um ciclo regular, então não me passou nada pela cabeça quando não menstruei”.
Em janeiro, porém, ela decidiu fazer um teste de gravidez. “Meu marido disse: “Jana, pode ser tudo, menos gravidez”. Mas eu fiz mesmo assim por desencargo de consciência, já que eu tomo remédios controlados que poderiam afetar o bebê”.
Janaína comprou o teste, mas nem fez na mesma hora. “Só fui fazer no outro dia quando ele já tinha ido trabalhar”. Quando viu o resultado, não acreditou. Os dois traços no visor indicavam que ela estava grávida.
“Liguei para minhas irmãs e mostrei, e elas ficaram chocadas, perguntando se aquele teste era meu. Eu então fui para o laboratório, fiz exame e depois fui para casa dormir. Não estava muito bem”.
Quem confirmou que ela estava realmente grávida foram as irmãs, que ficaram responsáveis por acessar o resultado. “Elas me acordaram me ligando, levantei em um pulo com elas me dando a notícia”. Finalmente, após muita luta, o casal tinha sido agraciado com um bebê.
O parto de Laura está marcado para 26 de agosto. “Procurei um médico na mesma semana e aí no ultrassom descobri que estava grávida de oito semanas, portanto ela foi gerada na semana que eu tinha menstruado. E aí eu tive certeza que tinha sido um milagre, algo que vai muito além da medicina. Hoje, estou grávida de seis meses. Está tudo perfeito, ela está se desenvolvendo muito bem, sem nenhum problema”.
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