Arquivo pessoal

Bruno da Silva
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Quando pela primeira vez pensou seriamente em ficar grávida, Zenair Fátima Barbosa, 54 anos, moradora do Limoeiro, teve um diagnóstico de útero infantil, o que, naquele momento, a impedia de ficar grávida. Ela e o marido, Agenor Quirino, decidiram adotar, mas aí viveram uma grande frustração, porque tiveram que devolver o bebê.

Depois de um tempo, já sem muitas esperanças, a “profecia” da mãe dela, que ela desconfiava se realmente um dia ia acontecer, se concretizou: ela gerou o seu filho, Marcos, que desde seu nascimento é sua alegria e orgulho.

Adoção frustrada

Natural do Paraná, Zenair foi criada no Oeste de Santa Catarina e veio para Brusque em 1987, em busca de novas oportunidades de vida. Três anos depois, ela e Agenor se casaram.

Após cinco anos de casamento, eles sentiam que estavam preparados e tinham condições de criar um filho. Zenair procurou o médico para realizar exames de rotina e, para sua surpresa, descobriu que tinha útero infantil.

“Meu médico disse que não havia tratamento, tinha que esperar crescer. Por causa disso, buscamos o caminho da adoção”.

Eles fizeram toda a documentação e processo cadastral em Itajaí, já que moram no limite entre os dois municípios. Em menos de um ano, foram informados que nasceria uma criança com as características que eles queriam. “Quando o bebê nasceu, fomos buscá-lo no Hospital Santo Antônio em abril de 1996, uma sexta-feira. Trouxemos ele para casa, estava tudo arrumadinho para ele”.

Na segunda-feira seguinte, porém, eles tiveram uma desagradável surpresa. Uma assistente social foi até a casa deles para informar que eles teriam que devolver a criança.

“Ela disse que havia tido um erro no cadastro, que a gente não poderia adotar a criança por causa disso. E, além disso, a mãe queria a criança de volta. A gente poderia arriscar ficar, mas após dois anos a Justiça poderia tirar”.

Ela e o marido conversaram e Zenair também falou com a sua mãe, que aconselhou-os a devolver o bebê. “Ela tinha confiança que a gente ia ter o nosso filho. No dia seguinte, devolvemos a criança na Assistência Social de Blumenau. Ficamos com muita raiva, sinto até hoje. Algum tempo depois, nós tiramos o nosso nome do cadastro”.

Escape

Depois disso, ela e o marido ficaram muito decepcionados e frustrados com a situação, o que também estava influenciando o seu relacionamento.

Para que pudessem ocupar a cabeça, eles encontraram no esporte um escape. Eles passaram a disputar várias modalidades, mas se focaram mais no futebol. Ela era jogadora e ele o técnico do time que ela jogava, e eles realmente se dedicavam, disputavam torneios e viajavam para competições.

Zenair descobriu a gravidez após levar uma bolada na barriga durante jogo de futebol | Foto: Arquivo pessoal

O desejo de ser mãe, porém, seguia aceso. Em agosto de 2001, Zenair foi visitar a sua mãe no Oeste e, naquela viagem, contou para ela que não se conformava de não ter filhos. A irmã dela, por exemplo, tinha nove.

“Desde então, eu não tinha buscado mais médico para tentar engravidar. mas nesse dia ela me disse que eu ia conseguir, que não ia morrer sem saber que eu ia ter um filho meu, eu achava impossível. Mas fiquei com isso na cabeça”.

Milagre da mãe

Pouco depois dessa viagem, enquanto jogava uma partida, Zenair, que era zagueira, levou uma bolada na barriga. Ela sentia muita dor, chegava a gritar. O marido ligou para o médico dela, o Antônio Moser, e ele solicitou uma consulta. Na cabeça dela, imaginava que tinha algum problema de saúde. Mas ela estava enganada. O seu tão esperado filho estava no seu ventre.

“Chegando ao hospital, ele tocou minha barriga e disse que estava sentindo algo. Eu já achava que era uma doença grave, porque era uma dor contínua. Ele me mandou fazer um ultrassom”, conta. “Já com o resultado do exame, ele me disse assim: “Você nem imagina o que tem aí”. Eu falei para ele que, se precisasse fazer uma cirurgia, já faria na hora. Mas ele disse que eu precisava esperar uns oito meses, porque eu estava grávida”.

Marcos em seus primeiros dias de vida | Foto: Arquivo pessoal

Por causa da bolada, ela corria risco de perder a criança, mas como foi ao médico naquele dia, deu tudo certo. “Eu estava grávida de pouco mais de um mês. Fiquei no hospital por pouco mais de um mês por causa disso”.

Descobrir que estava grávida, porém, foi uma emoção inexplicável. “Não sei dizer o que senti ou como isso aconteceu. Passei a me cuidar e eu sempre lembrava do que a minha mãe me dizia”.

Arquivo pessoal

Um mês depois de descobrir que estava grávida, Zenair conversou pela primeira vez com a sua mãe. Como era difícil falar por telefone, era necessário marcar uma ligação. “Eu então liguei para ela para contar e ela repetiu que tinha certeza que não ia morrer sem saber que ela estava grávida”.

Três dias depois, dia 16 de novembro, dona Umbelina acabou morrendo devido a complicações de um câncer no fígado. “Eu não pude viajar para me despedir, chorei muito. Ela não conheceu ele, mas eu guardo o que ela falou até hoje. Ela faleceu, mas quando eu vi ele logo após o nascimento eu soube que ela me deu um milagre”.

Marcos nasceu em 7 de junho de 2002, com muita saúde, e hoje ele e a mãe têm uma ligação muito forte, de confiança e parceria, que também foi reforçada pelo esporte.

“Quando tinha 4 anos, ele disse que só continuaria a fazer aula de taekwondo se eu fizesse junto com ele. Eu comecei com 37 anos, com os rapazes e crianças. Entrei para fazer alguma atividade física, mas seguimos esse caminho”, lembra.

Hoje, eles são faixa preta do esporte, dão aula em Brusque e disputam torneios da modalidade. “Eu e meu marido estamos na seleção catarinense de taekwondo e ele chegou até à seleção brasileira de poomsae, uma variação do esporte”.

 


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