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Bruno da Silva
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Por cinco anos e meio, a vida de Camila Martinenghi, atualmente com 35 anos, moradora do Jardim Maluche, girou em torno do sonho de ser mãe. Todas as suas decisões eram voltadas para esse objetivo e, apesar de ter sofrido abortos espontâneos, processos frustrados de fertilização e ter sido desacreditada por diagnósticos médicos, ela engravidou naturalmente de Matteo, que é o fruto do amor dela e de seu marido, Juliano Martinenghi.

A jornada da gravidez fez com que Camila mudasse de vida. Ela, que trabalhou por anos no setor de recursos humanos de uma empresa, hoje é terapeuta e atende em um consultório para ajudar mulheres que enfrentam desafios similares.

Frustrações

Em 2015, logo após se casar, Camila se deparou com vários fatores que dificultariam uma gravidez natural. Ela foi diagnosticada com endometriose, adenomiose e trombofilia, enquanto seu marido também descobriu uma baixa reserva de espermatozoides.

No ano seguinte, ela passou por uma cirurgia para retirada de endometriose dos ovários e, em 2017, ela passou por uma fertillização in vitro na esperança de ser mãe. Ela chegou a ter uma gestação de dois meses, mas sofreu um traumático episódio quando estava indo até a capital, onde ficava a clínica onde fez o procedimento.

“Sofri um aborto em um posto de combustíveis indo para Florianópolis para uma consulta médica. Eu já sabia que meu bebê não estava se desenvolvendo. Foi um dos dias mais tristes para mim porque tinha toda uma expectativa e um custo alto de tratamento”, conta.

No mesmo ano, ela fez uma nova fertilização e os embriões nem chegaram a implantar na parede uterina.

Já em 2018, Camila passou por mais três cirurgias para tentar aumentar suas chances de engravidar, uma delas um procedimento bem grande para retirar 7 centímetros do intestino e um pedaço de ovário direito.

“Na época, eu nem sonhava mais com uma gestação natural, mas eu sempre me imaginei mãe. Nunca foi uma opção para mim não ser mãe. Eu não passei um dia sequer sem pensar nisso, por cinco anos e meio. Todo dinheiro que eu tinha eu já pensava como poderia usar para um tratamento. Quanto mais nãos eu ouvia, mais certeza eu tinha que meu dia ia chegar”.

Nesse período, todas as vezes que ficava triste por não conseguir engravidar, Camila fechava os olhos e se imaginava na sua cama amamentando seu filho. Chegava a imaginar o rosto dele. Anos depois, quando Matteo nasceu, essa cena se concretizou, e ela se lembrava de todo esse tempo em que sonhava com dias como aqueles. Mas a jornada ainda teve muitos desafios.

Sequência de nãos

Em 2019, um episódio marcante aconteceu durante uma consulta com o médico dela na clínica de Florianópolis. “Meu médico, Ricardo Nascimento, me falou que se importava e gostava muito de mim, mas que, mesmo com esse tratamento, seria muito difícil para eu engravidar. Eu dei um soco na mesa e disse que ia voltar lá grávida para tirar uma foto com ele. E eu voltei”.

Camila retornou grávida para tirar foto com o doutor Ricardo Nascimento, como prometeu que faria | Foto: Arquivo pessoal

No total, Camila passou por nove especialistas e oito lhe disseram que nunca seria mãe. Ela, porém, se agarrou na fé que tinha em Deus e no que lhe disse a médica Marina Zendron, de Brusque, a qual acreditava que haveria uma chance.

Mas as estatísticas e a lógica seguiam contra Camila. Em 2020, quando ela faria uma terceira e última tentativa de fertilização in vitro, o mundo foi acometido pela pandemia da Covid-19 e ela decidiu adiar o procedimento. Seu médico aconselhou esperar chegar a vacina para tentar novamente.

“Por conta disso e por causa das dores que eu tinha, eu já achava que não era possível engravidar de forma natural. Eu pedi a ele alguns remédios para dor e ia esperar para fazer a fertilização. Então ele me disse que, depois que eu tivesse a menstruação, eu ia passar a tomar os medicamentos”.

Nesse momento, o sonho parecia longe. Alguns dias depois da consulta com o médico, porém, a sua menstruação não desceu. Ela achava que era algo psicológico, já tinha acontecido várias vezes. Mas, depois de mais uns dias, ela decidiu fazer mais um teste.

“Fiz mais de 100 testes de gravidez. As meninas da farmácia acabaram até me mandando um cartãozinho me consolando”. A mensagem dizia, entre outras coisas: o que for para ser, será.

Recado enviado à Camila pela equipe da Farmácia Sesi, onde ela comprava os seus testes de gravidez | Foto: Arquivo pessoal

Revés se transforma em esperança

Dessa vez, ela decidiu fazer o teste de gravidez sem contar para o marido. Para o choque de Camila, o resultado foi positivo. Ela ficou dez minutos tentando assimilar aquele momento, não acreditava. “Liguei para o meu médico e ele me mandou imediatamente fazer um ultrassom. Se eu estivesse grávida, precisava começar a tomar injeções diárias, as chamadas “picadinhas do amor”, para evitar a trombose, já que eu tinha trombofilia”.

Com quatro dias de gravidez, ela teve um pequeno sangramento e indicaram a ela repouso absoluto. Quando foi fazer seu primeiro ultrassom, mais uma surpresa: eles estavam esperando gêmeos.

Nesse meio-tempo, porém, o casal contraiu Covid-19. Eles ficaram duas semanas em isolamento e, quando Camila repetiu o ultrassom, os dois bebês tinham parado de evoluir. “Tivemos que fazer uma curetagem porque os dois estavam mortos. eu tive uma infecção durante o procedimento e fiquei nove dias internada”.

Naquela época, as pessoas diziam para ela parar de tentar. Mas ela não desistiu. Naquele momento, ela tinha certeza que poderia ter uma gestação natural, já que tinha engravidado de gêmeos. Uma análise genética do casal e dos fetos não apontaram nenhuma anomalia. A maior probabilidade é de que a Covid-19 tenha interrompido a gravidez. “As pessoas tinham pena de mim e eu delas, por desistirem tão facilmente de seus sonhos”.

O milagre realizado

Depois desse episódio, Camila estava esperando menstruar novamente para fazer a tabelinha e passar a tentar engravidar outra vez.

Mas ela nem chegou a menstruar outra vez e engravidou novamente. Desta vez, porém, ela tentou controlar suas expectativas para não se frustrar ainda mais.

“Eu descobri a gravidez no dia 7 de dezembro. Meu primeiro ultrassom seria em Florianópolis já que meu tratamento estava sendo lá, em 21 de dezembro. Fui até lá na esperança de ouvir o coração do meu filho pela primeira vez, porque só aí eu me consideraria grávida, devido às frustrações”.

Eles foram para a capital, mas, chegando lá, viram no exame apenas um saco gestacional vazio. A médica lhe deu o panorama, eram duas possibilidades: uma gestação que não iria evoluir ou uma gravidez muito inicial. Ela teria que repetir o ultrassom no penúltimo dia do ano.

“Era um dia lindo de sol, um céu azul. Voltando para casa, eu lembro da cena. Olhei para cima e pedi para Deus, disse que queria contar para minha família sobre a minha gravidez no Natal”, relata.

No dia 24 de dezembro, ela estava se preparando para a ceia na casa da irmã e sentiu correr sangue na sua perna. Ela pensou que estava sofrendo um aborto. Ligou para seu médico e foi para o hospital fazer um ultrassom.

Apesar do temor pelo pior, o pedido que Camila fez no lindo dia de sol no retorno de Florianópolis foi atendido. “A gente foi para a sala do ultrassom e ouviu o coração do meu filho antes do Natal como eu tinha pedido para Deus. Estava tudo bem. Eu entendo aquele sangramento como um sinal. Voltei para casa, me arrumei e contei para minha família da gravidez na ceia de Natal”.

“Faria tudo de novo”

A gravidez dela, que foi acompanhada pelo médico Ary de Souza Dias, teve algumas intercorrências, principalmente nos primeiros três meses. Além disso, ela precisou tomar 262 injeções para evitar a trombose, uma por dia, mas Matteo nasceu após 37 semanas de gestação, forte e saudável.

“Foram cinco anos e meio vivendo para isso, buscando diariamente, mas faria tudo de novo. Eu escolheria outra vez passar por esse processo, porque ressignificou muita coisa na minha vida”.

Camila e todas as injeções que aplicou durante a gravidez | Foto: Arquivo pessoal

Hoje, ela mudou de profissão e ajuda mulheres que estão nessa mesma jornada, como terapeuta, além de fornecer atendimento gratuito para algumas que não têm condições de pagar.

“Quero que minha história sirva de inspiração para que outras mulheres não desistam do seu sonho. Se eu consegui uma gestação natural, algo que a medicina não explica, a maioria também consegue”.

Matteo é o fruto do amor de Camila e Juliano | Foto: Arquivo pessoal

 


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