Impossível falar da costura sem lembrar das mulheres guerreiras que desde o princípio se dedicaram à profissão. Porém, os homens têm ganhado espaço na área. Exemplo disso é o paraense Frank Cardoso de Almeida, de 30 anos, que está na profissão desde os 12 anos de idade.
Almeida conheceu a máquina de costura com a mãe, que possuía uma facção em casa, ainda no Pará, e passou a ajudá-la como forma de auxiliar na renda da casa. E lá permaneceu na profissão por 12 anos.
Nunca pensei em sair da área. A minha vida é costurar. Iniciei a faculdade para buscar aprimoramento e ter uma visão melhor e mais ampla do que poderia fazer.
Frank Cardoso de Almeida
Aos 24 anos, o costureiro se mudou para Brusque e após um tempo na cidade foi procurar emprego na área e logo conseguiu. Ao fim do expediente, Almeida mantém uma facção própria em casa onde fabrica roupas sob medida para a clientela. “Para mim, ser homem nessa profissão é normal, até porque no Norte isso é normal também. Na visão do povo brusquense é que é algo novo”.
Ele afirma que nunca sofreu preconceito por ser costureiro. No primeiro emprego, conta que as pessoas achavam que ele trabalharia na talhação. “As pessoas se acostumaram rápido com a presença de um homem em um ambiente cheio de mulheres”, lembra.
Depois de certo tempo, Almeida se tornou ainda espelho para as colegas de trabalho, que pediam dicas do processo de costura e de forma de fazer os acabamentos. “Sei muitos processos da costura que aprendi com minha mãe, mas quando vim para Brusque senti mudanças e aqui aprendi muitas coisas diferentes”.
Para o costureiro, a profissão vem de sangue. Além de costurar, ainda tem conhecimento na área de modelagem, criação e talhação. Há alguns anos, ingressou na faculdade de Design de Moda, mas por questões financeiras precisou parar. “Nunca pensei em sair da área. A minha vida é costurar. Iniciei a faculdade para buscar aprimoramento e ter uma visão melhor e mais ampla do que poderia fazer”.
Por almejar sempre o profissional em primeiro lugar é que o costureiro conquistou seu espaço no mercado de trabalho em Brusque. “Sinto orgulho da profissão, além de morar em uma cidade têxtil, o que me deixa extremamente satisfeito”.
Futuramente, Almeida pensa em ampliar sua facção e transformá-la em um atelier de corte e costura sob medida. A intenção é poder trabalhar com uma peça de mais qualidade e bom acabamento. “Tem cliente que procura pelo prático, no que está pronto na loja. Mas tem outros que procuram algo mais sofisticado, peça diferenciada, roupas para formatura, casamento, exclusivas. Todo processo é feito por mim, desde criação, modelagem, costura”.
Falta reconhecimento
Com tantos anos de experiência, Almeida avalia que ainda falta reconhecimento para essa profissão. Apesar de que em Brusque algumas entidades oferecem cursos profissionalizantes, a costura é pouco valorizada. “Chegará um tempo em que a máquina substituirá o homem, por isso penso que deveria ter mais valorização”, analisa.
Ele afirma que a máquina sempre precisará da mão do homem para funcionar, mas tem observado que a máquina já tem substituído muitos processos de costura. “Nunca pensei que pregar um bolso ou colocar um zíper pudesse ser feito por uma máquina. Por isso é necessário valorizar a profissão que ainda sofre alguns preconceitos”.
Para Almeida, cada indivíduo deve se orgulhar do que faz, independente da profissão. “A costura, por exemplo, está em nossas mãos, pois criamos o que fizemos e nos satisfazemos com a visão do cliente ao receber o produto final”.
Sem motivos para parar
A aposentadoria não foi motivo para fazer José João Corsani, 69 anos, desistir de ser costureiro. Isto porque a profissão está em suas veias e o torna uma pessoa melhor ao realizá-la. Há mais de 40 anos, ele trabalha com a família Caetano, sendo que atualmente atua com a terceira geração da empresa WJ Acessórios, onde conserta bolsas para a empresa.
Morador de Guabiruba desde 1970, foi na cidade de origem, São João Batista, que aprendeu a dominar a máquina de costura. Na época, com 16 anos, começou a trabalhar com calçados e, em pouco tempo, se destacou pela velocidade e qualidade na costura, o que mantém até hoje.
Autodidata, Corsani foi se aperfeiçoamento e mostrando seu talento com as delicadas costuras em calçados e, em seguida, nas bolsas. “Trabalhar com calçado ou bolsa é parecido, não senti muita diferença, tem o mesmo ritmo, mas também os dois requerem muita habilidade”.
Pelo profissionalismo, o costureiro sempre foi um dos líderes de seu setor, sem nunca sofrer com preconceitos por ser um homem e desempenhar a função na máquina de costura. Com a profissão, ele criou os sete filhos. “Nenhum deles quis seguir a minha profissão, nem minha esposa, que sempre foi doméstica”, conta.
Para Corsani, a costura é um dom que recebeu de Deus e que exerce da forma mais brilhante que pode. Na empresa em que trabalha, ele é um ícone, pela força e motivação. “Se eu faltei duas vezes ao serviço foi muito e foram faltas por questões de saúde. Eu me sinto bem fazendo o que sei e gosto”.
Na carteira de trabalho, o aposentado guarda duas profissões, de sapateiro e costureiro, mas a que mais o orgulha é a segunda. “É o que faço a vida toda. Sempre trabalhei nessa área e nunca senti vontade em mudar, porque é o que me deixa feliz”.
Na visão do costureiro, o setor ainda oferece muitas oportunidades para as pessoas, mas muitas já não têm interesse por essa área. “Acredito que em breve as empresas terão que valorizar mais esses profissionais no lado financeiro para conseguirem mais mão de obra e de qualidade”.
Para ele, a aposentadoria só valerá se um dia for mandado embora da empresa. E ainda assim, afirma que procurará alguma função para desempenhar em casa. “Se parar com tudo começa a engordar e começam a aparecer as doenças e faz mal para o corpo”, diz.