Querido diário, hoje é o último dia da minha campanha para prefeito de Brusque. Tomei café com a minha família, menos com a minha mulher, que ainda não digeriu bem a ideia que tive de me tornar prefeito e está na casa da minha sogra no Perequê. Meu vice também tomou café comigo hoje. Notei durante a campanha que ele come muito carboidrato, certamente ao final do processo eleitoral estará obeso. Nossa agenda de hoje foi a seguinte, após o café seguimos para a rádio para uma entrevista onde falamos do nosso plano de governo. O radialista perguntou por que eu lancei minha candidatura a prefeito e eu respondi que lancei porque acho que sou melhor para a cidade do que os outros catorze que se candidataram. Sobre as propostas do meu governo falei na entrevista que quero manter o que está funcionando e melhorar o que não está. Meu vice, que de tolo não tem nada, quis falar mais do que eu na entrevista, mas já “dile” no meio dele e ele se ligou. Provavelmente eu e o meu vice teremos problemas se nos elegermos, já vi que ele é lobo em pele de cordeiro, mas como é ele quem vai botar o dinheiro na campanha, vou fazer de conta que não vejo. Mais na frente corrijo isso, como todos os outros prefeitos fizeram e sempre deu certo, né.
Saímos da rádio e fomos tomar café (de novo!) na casa de um líder da associação de moradores do bairro. Chegamos lá a senhora do rapaz que fomos conhecer passou um café que parecia que o coador era uma meia de motorista de ônibus da Reunidas. Me ofereceu uma orelha de gato também. Estava mole. Comi. Quase morri da azia e isso ainda nem eram 9 horas da manhã. O papo foi muito bom, o rapaz realmente tem muitas ideias, mas se eu for botar tudo em prática a prefeitura vai falir no primeiro mês de governo. Partiu. Fomos visitar um loteamento clandestino. Os moradores fizeram um café para nos recepcionar. Sim, mais um café. Eram dez famílias, cinco vezes quatro vinte, dava uns 30 votos, assim por baixo. Queriam a regularização do loteamento e asfalto na rua. Pensei comigo: eita votinho caro, né ô! Pelo menos o café era bom e tinha pastel de palmito roubado. A azia velha foi no cinco mil! Meu vice garantiu que ia fazer tudo pra eles e se arrancamos embora. Ah, ganhei até uma lembrancinha, uma toalha de crochê escrito Coffee.
Dali fomos numa confecção de um amigo do meu vice. Centenas de costureiras. Chegamos lá o dono chegou junto com a gente. BMW branca zerada na caixa. Entramos com o empresário na fábrica e em meia hora de conversa ele falou em milhão de reais umas trinta e cinco vezes. Me assustei! Como sou pobre! Mas isso vai mudar, certeza! Falando com as costureiras vi que o que elas mais pediam era pra falar com o patrão para dar um aumento. Não serve brita, não? É bem mais fácil, falei pra elas. Brita não se usa mais seu moço, os cachorrinhos não gostam, machuca, me disse uma delas. Mandei meu faz tudo anotar na hora essa dica e lembrar de bater uma foto com um cachorrinho no colo para ajudar na imagem.
Saímos dali e fomos almoçar. Queria almoçar em casa, comidinha da minha mulher, mas aí lembrei que ela tinha vazado pro Perequê, que tristeza Amarildo! Fui então na casa do meu vice. Pensa na mansão. Chegamos lá a esposa dele já disse “mas por que não avisaram antes, tinha mandado caprichar mais no almoço”. Pensei comigo, me f… Que nada, sentei na mesa parecia comida de casamento. Como falei lá no começo, meu vice vai ficar maior que a Igreja Matriz do jeito que ele come. No final ainda pediu um pedaço de banho maria. Não deu nem pra ver o esporte na televisão e já tivemos que ir para mais um compromisso.
Fomos numa ação social de uma igreja. Chegando lá adivinha o que eu ganhei? Sim, mais um paninho de crochê, esse com meu nome escrito. Olha, se tudo der errado e eu não me eleger, vou poder botar uma barraquinha de paninhos de crochê ali na praça Barão de Schneeburg. Estoque vou ter pra uns cinco anos mais ou menos. Mas é incrível a dedicação que essas senhoras têm pelo próximo, fiquei abismado. Não pediram nada! Só pediram pra gente olhar pelos pobres e necessitados, por isso já vi que ali não vou ter muitos votos. Pena!
Já eram quase três da tarde e fomos visitar uma empresa de metal mecânica de outro amigo do meu vice. No caminho paramos para comprar 10 cucas pra levar pros funcionários. Tá cara a cuca, né? Tá louco! Chegamos na empresa o empresário nos atendeu muito bem por sinal. Conhecemos a fábrica inteira, coisa de primeiro mundo, bem coisa de Brusque mesmo, tudo do bom e do melhor. O empresário quis saber nossos projetos pra cidade, demos uma enrolada, mas acho que ele não gostou muito não, abandonou a gente com os funcionários. Botamos as cucas na mesa pro pessoal vir roer, rapaz, parecia a Etiópia na época ruim. Nem deram bola pra nós. Um ainda chegou do lado do meu vice e perguntou: “não tinha cuca de vinho, não?”.
Dali fomos para um café, sempre ele. O café move a política nessa cidade, nessa época acho que quadruplica o consumo, não pode. Era o café do pessoal do bolão. Turma querida demais, só que fiquei preocupado quando cheguei lá porque metade não vota mais e a outra metade não quer mais votar. Mesmo assim fomos lá e demos o nosso papo. Já era final de tarde, fui pra casa tomar um banho e trocar de roupa porque as 7 horas tinha uma boda de ouro pra ir lá na Santa Luzia.
Meu vice me pegou em casa e fomos. Imagina um casal 50 anos juntos, é de se tirar o chapéu, ainda mais hoje em dia. Chegamos na festa, muita gente. O marido então me chamou, era um ex-funcionário do meu pai de muitos anos, trabalhou na terceira e também tinha sido um faz tudo da nossa família.
– Podes fazer um discurso aí pra gente? Tu sabes que eu sou de poucas palavras.
– Deixa comigo! – falei.
Fiz um discurso daqueles igual quando o cara fala na ONU, elogiando a família, os
filhos, o sacramento do matrimônio, enfim, fui aplaudido de pé pelos convidados.
Quando acabaram os aplausos, a esposa que estava fazendo a bodas de ouro me
perguntou:
– Sim, mas e cadê a tua mulher?
– Saiu de casa. – falou o meu vice já rindo.
Ditado do dia, querido diário, a vida é aquela coisa: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Puxando o Saco
O “Puxando o Saco” dessa semana vai pros aniversariantes Alberto Zimmermann, Adamo Zen, Leonardo Rangel Pereira, Ricardo Staack, Maicon Kuhn, Alan Cervi, Yan Castro, Romulo Bado, Fabiano Cardoso, Evandro Zen, Vivi Mafra Montibeller, Dona Célia Walendowsky e pra minha prima Cristine Molleri. Bom final de semana, fiquem com Deus e até semana que vem!
Sabedoria Butecular
“A riqueza não consiste em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades.” – Epicuro