Editorial: O javali, o mato e o rio
O Brasil tem uma vocação natural para complicar qualquer assunto. Na questão ambiental estes dilemas aparecem com mais frequência e sensibilizam grupos com opiniões diversas que conseguem politizar até questões técnicas.
Um dos assuntos que ilustram bem esses embates é a limpeza das margens de nosso rio. Tivemos muitas manifestações elogiosas à roçada que foi e está sendo feita, conforme publicado ontem aqui n’O Município.
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A cidade ficou mais limpa, arejada. Outra pessoa entrou em contato entendendo a ação como uma agressão ambiental.
Este assunto é destaque aqui n’O Municipio desde a época em que o então prefeito Ciro Roza quis cortar os chorões da Beira Rio e criou uma celeuma. O assunto continuou em 2015 quando o vereador Ivan Martins (PSB) sugeriu a possibilidade de supressão das árvores das margens. A justificativa do pedido era que esta vegetação retinha os detritos que impediam o escoamento rápido das águas durante as cheias.
Na ocasião, Vanessa Becker, então presidente da Comissão de Gestão Ambiental (Cogemas) do Samae de Brusque, fez um contraponto, afirmando que “se não houver mata ciliar estas águas carregam as margens do rio, e entram nas casas com enorme força, e o estrago é bem maior”. Também sugeriu a limpeza dos detritos ao invés da retirada da vegetação.
Em outubro de 2017 o assunto veio novamente à tona quando a prefeitura iniciou o corte da vegetação. A ação foi amparada por um decreto de utilidade pública do canal extravasor, que é, de fato, as duas avenidas Beira Rio. Com isso a prefeitura tem autorização para efetuar limpeza da vegetação, mesmo em Área de Preservação Permanente (APP).
Assim, um fato normal como a limpeza das margens do rio no centro da cidade gera um conflito que arrasta por anos a decisão do que pode ou não fazer.
E mesmo quando parece que está decidido, pode aparecer alguma decisão que reverta tudo.
Mas se por um lado houve tanta discussão para saber se pode ou não cortar o chorão, se a mamona é ou não uma árvore, por outro a poluição do rio parece que não incomoda ninguém. Na sexta-feira passada o jornal O Municipio publicou uma matéria sobre os despejos de dejetos em nosso rio cujo título era “Sem fiscalização, empresas de Brusque cometem crimes ambientais e ficam impunes”.
Um fato normal como a limpeza das margens do rio no centro da cidade gera um conflito que arrasta por anos a decisão do que pode ou não fazer
Passada uma semana o silêncio das autoridades é sepulcral. Este assunto é um tabu na cidade, que não esboça nenhuma reação para conter o despejo de 100% de nosso esgoto doméstico e nem quer dar força para que os órgãos ambientais possam agir com vigor nestes outros despejos criminosos. O rio está “marginalizado” neste tema.
Outro fato novo que vai gerar muita polêmica é a vinda do Javali para nossa região e junto com ele toda a discussão jurídica-ambiental.
Como este animal não é nativo do Brasil e não tem predador natural, se tornou uma praga, pois devasta a plantações e a mata nativa e pode transmitir doenças.
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Uma das soluções para amenizar o problema foi a liberação da caça em 2013, mas ela é tão complexa que incentiva a pratica ilegal.
Além disso, mesmo vencida a maratona burocrática para caçar, o cidadão vai enfrentar outro problema pois o Ibama proíbe a comercialização dos animais e dos produtos do abate. E se você quiser saber o que fazer com o bicho morto tem que perguntar junto ao Ministério da Agricultura, que é o responsável por este assunto neste ponto.
Assim temos o talento para tornar o mais complexo possível o assunto mais simples e seguir sem uma definição clara do que pode ou não fazer, seja na roçada das margens, na poluição do rio ou na vinda dos javalis para nossa região.