“Imagina isso tudo gramado e arborizado para vocês passarem o fim de semana?”. Assim iniciou a conversa com a professora Rosemari Glatz, 53, que em abril toma posse como reitora da Unifebe. Uma das principais propostas da professora consiste em fortalecer projetos de humanização da instituição. Referência quando se fala em mobilidade urbana, os projetos de integração da universidade com a cidade vão longe, no que depender da próxima reitora.

Rosemari Glatz é atualmente professora na Unifebe, e foi chefe da Receita Federal em Brusque até março de 2018, quando se aposentou da função. No mesmo ano, se elegeu reitora, em novembro.

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Por uma curiosidade, como ela classifica, surgiu o interesse na pesquisa pela história da imigração alemã, polonesa e italiana para o Vale do Itajaí. Mais tarde lançou o livro “Brusque – os 60 e o 160: Elementos da Nossa História”, que de forma didática, preenche um espaço no tempo com uma história nunca contada, ou pelo menos, eternizou-a em livro. É pesquisadora de turismo regional, e também colunista no jornal O Município desde 2015 todas as sextas-feiras.

André Groh: Como está sendo essa transição da reitoria?
Rosemari Glatz: Muito intenso, e essencialmente bom. Sempre todo fim do ano se encerra um ciclo e inicia outro, isso é um processo natural numa instituição de ensino. Pessoas se formam, outras novas chegam. É uma oportunidade para refletir. É um momento intenso de rever até a instituição, algumas coisas que precisamos evoluir e outras deixadas para trás. Hoje precisamos ter essa dinamicidade. O que está acontecendo no mundo, o que está aparecendo que tem a ver conosco? Captar o melhor, e focar o olhar no bem-estar da sociedade. Visualizar na frente o que estamos entregando à sociedade, e o reflexo que isso tem ao longo dos próximos anos.

André: Como você avalia a gestão do professor Günter?
Rosemari: Muito boa, porque a instituição avançou muito nesses últimos oito anos. Foi um tempo de ousar.

André: Ousar em investimento?
Rosemari: Sim, e em abertura de novos cursos. É fruto agora que iniciamos neste ano as aulas de Ensino Médio. Está iniciando na minha gestão, mas é fruto do trabalho anterior e estamos fazendo acontecer agora. Da mesma forma a Medicina, que foi um divisor de águas.

André: Você está recebendo a Unifebe em seu melhor momento?
Rosemari: Nós estamos recebendo a instituição num momento fácil e difícil ao mesmo tempo. Estamos passando por um momento de revisão, assim como outras instituições, também estamos passando por uma dificuldade financeira. Isso é como em casa, você precisa fazer sua saída caber dentro da sua entrada, e de preferência com uma sobra de caixa. Números para mim é muito tranquilo. Se quisermos investir, vamos precisar poupar.

André: Na crise do governo, a Unifebe foi afetada por algum corte de verba de bolsas e financiamento?
Rosemari: Nós temos apenas uma pequena parte da receita que entra nessa linha. Foi feito um plano de trabalho para não deixar a instituição na dependência desses financiamentos. Não temos um percentual muito alto de aluno Fies por exemplo, sempre fomos mais conservadores.

André: A Unifebe ou a cidade é conservadora?
Rosemari: Todos, fizemos parte desse processo.

André: A Unifebe está precisando poupar?
Rosemari: O que está acontecendo é um processo natural, nós tínhamos uma demanda reprimida que chegou num momento que passou por um boom de alunos. Mas agora voltamos ao padrão normal, sabemos que o índice de natalidade está decrescendo. Naturalmente a entrada de alunos é menor.

André: Mas, há 20 anos, o acesso a universidade também era menor.
Rosemari: Era menor por uma questão cultural, e não era um processo da família todos os filhos entrarem na faculdade. E te digo mais, eu acho que não precisa. Eu gosto muito do modelo alemão, ele identifica tuas aptidões. Talvez você seja um ótimo técnico, e se você for um ótimo técnico, não é a faculdade que vai dar conta do ótimo técnico: é um curso técnico. Eles têm muito essa questão processual. Ah, quanto eu preciso para ser bom nisso… Um curso técnico? É isso que vou fazer. O aluno do Ensino Médio já vai ter uma vivencia acadêmica, por exemplo.

André: Como você imagina o Ensino Médio em dez anos?
Rosemari: Consolidado, e não imagino um volume de matrícula gigante. Temos na proposta um produto de muita qualidade.

André: Qual o diferencial em relação aos outros?
Rosemari: Ele tem a vivência universitária e a vivência empreendedora. Porque nós somos de uma região altamente empreendedora. E na graduação a gente tem uma expertise sensacional nesse âmbito empreendedor. Nosso aluno do Ensino Médio já vai ser inserido nesse contexto. Ele passa a ter experiências e oportunidades que passam por projetos extraclasse.

André: Você tem uma participação muito ativa na pesquisa da história de Brusque também, com livros publicados. Como surgiu esse interesse?
Rosemari: Eu preciso compreender a lógica para compreender um lugar. Esse raciocínio consegue antecipar coisas que depois a ciência vem comprovar. Minha relação com a história regional iniciou quando comecei a buscar minha própria história. E isso tem a ver com coletividade, porque você nunca caminha sozinho. Ao conhecer minha história, comecei a desvendar a história dos outros também.

André: Como começou?
Rosemari: Comecei a estudar a história da imigração alemã em Santa Catarina.

André: Por curiosidade?
Rosemari: Para desvendar minha história e compartilhar essa história. Vi que é uma página muito esquecida, mas que nos explica e ajuda muito quando a gente se compreende como sociedade. Somado a essa lacuna, comecei a trabalhar no projeto da Villa Renaux. Acabou simultaneamente vindo muita informação, e comecei a perceber claramente essa lacuna na história de Brusque que precisava ser preenchida de uma forma didática.

André: Essa didática é para que tipo de perfil?
Rosemari: Qualquer idade, a proposta do meu livro é pra leitura de todos. Fiquei muito feliz e surpresa com os retornos. Cuidei da didática, e tiveram pessoas que contam ter lido o livro em três dias.

André: Algum livro próximo a ser publicado também?
Rosemari: Sim, será sobre a imigração da colonização polonesa no Brasil. Sera lançado nas comemorações do 150 anos da colonização polonesa no Brasil.

André: Com que idade você veio de Taió?
Rosemari: Moro aqui há 10 anos, mas trabalho há 22 anos.

André: Você veio pra cá quando começou a trabalhar na Receita Federal?
Rosemari: Sim, quando assumi a chefia da receita.

André: Agora está aposentada, e sente falta?
Rosemari: Não, absolutamente. Minha vida é muito pautada por ciclos, não olho para trás.

André: Um ciclo importante.
Rosemari: Eu tinha planejado, e no dia que apresentei os pré-requisitos para aposentar, eu formalizei o pedido naquele mesmo dia. Pela própria história de vida da minha família e da minha história pessoal, eu sou muito fria. Teve que acontecer, encerra e vamos em frente. Não sou uma pessoa que fica se martirizando.

André: Você tem uma filha também?
Rosemari: Cinco filhos, Ariel, Luan, Luiza, Marcelli e Sara. Já tenho um neto, e minha filha mais nova de 18 anos também é escritora. Tenho uma grande família, graças a Deus.

André: Já te encontrei caminhando na rua, faz isso constantemente?
Rosemari: Não é porque gosto de exercício, mas acho que tem muita coisa que a gente resolve de outras formas. É muito mais rápido, e quando você está caminhando, você vê as coisas e tem vivências diferentes. Olha pro alto, cumprimenta, sente o cheiro, ouve o som e observa a natureza.

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André: Isso se perdeu um pouco.
Rosemari: Infelizmente, acho que em algumas coisas precisamos voltar uns passinhos.

André: A Unifebe trabalha para isso?
Rosemari: Sim, é muito importante essa convivência. Estar junto, e no olhar, a gente resolve as coisas muito mais fácil. Eu gosto bastante de viajar, e espelho muitas das ideias que a gente tem aqui, baseada principalmente em projetos como na Alemanha. Essa questão da mobilidade, lá funciona muito bem, e os alemães são muito mais simples que nós. O que é importante é muito diferente, você não vê esse luxo, essa diferença. A gente sabe de pessoas que não comem direito, mas ostentam um carro. Você vai ver o que é importante quando você convive com as pessoas. E você mede isso não é pelo o que você escreve, é pelo o que você é. É na hora da dificuldade que você vê quem pega junto.

André: O que é importante para a professora Rosemari?
Rosemari: Família, religião… Eu acho que o coletivo acima do individual. Porque nós vamos embora, pode ser daqui um instante ou daqui muitos anos. Eu vou embora com 112 anos, já disse. Mas essa relação é muito superficial, não sobra nada. Já tive experiências de estar com alguém hoje e amanhã não mais. O material é irrelevante. Caráter e confiança são importantes. Se você me disser “eu vou”, não preciso que você me escreva que você vai.

André: Como essa professora com perfil mais racional lida com as relações humanas?
Rosemari: Bem tranquilo. Inclusive pela minha experiência de vida pessoal, em precisar lidar com muitas adversidades. Eu acredito que as pessoas são essencialmente boas. Às vezes temos umas quebradas que não funcionam bem. Eu sei que está escrito na Bíblia que tem o joio e o trigo… Mas a maioria é trigo. Todo mundo tem potencial. O que a gente precisa é ter o melhor de cada um e formar um jardim mais colorido.