Índios na Região do Vale do Itajaí-Mirim – Parte III
Os Xokleng/Laklãnõ, também conhecidos como “Bugres” e “Botocudos”, eram os índios que habitavam a região dos Vales do Itajaí quando os colonizadores chegaram.
Eles constituíam um povo que migrava entre o litoral e o planalto catarinense, vivendo da caça e da coleta. Por aquele tempo, o índio era visto como um entrave ao processo de colonização, um inimigo a ser vencido, assim como a floresta.
Este discurso gerou conflitos físicos contra os índios, em sua grande maioria violentos e dizimadores.
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No princípio, os colonos não temiam os índios
Em carta enviada por Julius Blumenau ao seu irmão, Dr. Hermann Blumenau, ele relata um ataque de “bugres” a uma residência localizada próxima à serraria de Sallentien e Gartner, instalado em Pedras Grandes (Ribeirão do Cedro, Brusque).
Na carta, Julius relata que os colonos não levavam a sério os pequenos ataques dos nativos: “[…] Antes aqui riam todos acerca dos bugres, como aqui são chamados, porque raramente apareciam, e quando isto acontecia, era para roubar, não para matar” (BLUMENAU, 1855). Alguns colonos não temiam os nativos, entretanto, um acontecimento singular mudou as concepções de suas seguranças pessoais.
No dia 9/11/1855, oito ou nove nativos realizaram uma emboscada na serraria de Sallentien e Gartner, onde estavam escavando um canal para escoar água da serraria quando foram atacados com flechas. O ataque resultou na morte de dois operários e um ferido: Paul Kellner, que foi um dos 17 primeiros colonos de Blumenau e um dos precursores da Colônia Itajaí-Brusque.
Kellner já era proprietário de engenho de serrar madeiras instalado em Pedras Grandes antes de 4/08/1860, quando o primeiro grupo organizado de colonizadores alemães chegou à Brusque. Os cuidados médicos que lhe dispensou o sábio Fritz Müller e a sua natureza robusta e sólida auxiliaram Kellner a se curar.
As patrulhas de bugreiros e as incursões punitivas
Com o desenvolvimento e a expansão dos primeiros núcleos coloniais, os Xokleng foram sendo envolvidos por frentes pioneiras que, incentivadas pelo Governo local, estavam decididas a ocupar definitivamente suas terras.
E o esforço foi de tal ordem que o Governo Provincial financiou diversas incursões de “bugreiros”, e mesmo os jornais da época chegaram ao máximo de anunciar, com antecipação, incursões punitivas que se faziam contra os silvícolas. As companhias colonizadoras e o próprio Governo iniciaram campanhas no sentido de “afugentar os bugres, sem lhes fazer mal”.
Surgiram os piquetes volantes de “patrulhas de bugreiros”, como eram conhecidos, e as “tropas de pedestres”, que passaram a acudir onde os Xokleng apareciam. Em pouco tempo, iniciou-se o extermínio dessa população. Cada ataque da tribo, que dia a dia via seus territórios ocupados, passou a ser respondido com os ataques inesperados e não menos sanguinários dos “bugreiros”.
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Mas os índios Xokleng somente entram para os anais da história em 1852, quando atacaram a casa do Dr. Blumenau, na colônia por ele criada. A partir dessa data, numerosos relatos passam a registrar as “tropelias” praticadas pelos membros da tribo contra os contingentes migratórios que estavam a fixar-se nos Vales do Itajaí.
Mas nem todos os colonizadores eram favoráveis à violência contra os selvagens. O próprio Dr. Blumenau, por exemplo, mesmo tendo sofrido um ataque à sua casa, condenava, em cartas e relatórios, as batidas sangrentas que quase sempre resultavam no massacre de infelizes índios, principalmente de mulheres e crianças, menos capacitadas para escapar à perseguição através do emaranhado das florestas. Infelizmente, esse era o método em voga aos quais os escrúpulos do filósofo alemão também tiveram que se acomodar.
Continua na próxima semana.
Fonte: BLUMENAU, Julius. Carta, 7 de dezembro de 1855, Colônia Blumenau para Hermann, Alemanha. 2 folhas. Ataque de índios.