Fiquei me perguntando isto ao ler um post no Facebook sobre a resposta, brilhante a meu ver, dada pelo filho de um porteiro a alunos de um Colégio Marista no Rio Grande do Sul sobre o ocorrido em um dia normal de aula.

Segundo a nota o Colégio Marista permitiu a criação de uma infeliz brincadeirinha que resultou na ida de alunos à escola vestidos de empregadas domésticas, garis, motorista, porteiros, funcionários do McDonald’s, etc. E sabem porquê? Porque o tema da brincadeira era o seguinte questionamento: “E se nada der certo?”, questionando e esperando que os alunos respondessem acerca do bom resultado ou não no pós “brilhante” método escolar do marista.

Alunos, infelizmente crendo que ter respeito ao próximo e à qualquer atividade dignamente exercida não é um dever ou uma prova do que é “dar certo” em termos de caráter, se vestiram de profissões que para eles traduziria o que não é dar certo na vida, ou seja, se não forem “dotores” ou bem sucedidos financeiramente lá na frente acreditam estes alunos que terão fracassado e “não terão dado certo”, e ao fazerem tal infeliz piada de mau gosto esqueceram que as profissões às quais se vestiram também movem o mundo e são tão importantes que tornam sim bem mais “fácil” a vida de tantos.

É triste e desmotivador ver que tantos que recebem um dos melhores métodos de ensino deste país pouco aprendem, ou pelo menos aquilo que verdadeiramente deveriam enquanto humanos aprender, como respeito, dignidade e bons valores. Que tipo de pessoas que “deram certo” serão estes alunos que acreditam que as profissões às quais decidiram se vestir mereciam tal desrespeito e mediocridade? Que sociedade teremos amanhã com tais valores?

Enfim, prefiro acreditar e espero de verdade que o filho do porteiro que deu sua bela resposta ao jovens Maristas seja o nosso futuro, prefiro de verdade!

Eis parte da resposta de alguém que deve sim ter dado muito certo:

(…)

Colégio Marista, meu pai não deu certo. Criou três filhos junto com a minha mãe que ficava apreensiva em casa: – ”Será que ele volta?” Porque meu pai pegava estradas perigosas de madrugada, aliando-se ao fato de muitas vezes cuidar de galpões abandonados, que era alvo de bandidos.

Mas ele não deu certo.

Conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo.

Meu pai não é desses pais bacanas que param aí na frente do Colégio, com Cherokees, Tucson, sorrindo pra quem convém e pisando nos descartáveis. Meu pai tem um Palio que vive quebrando, e mesmo debilitado pela idade, levava todos os netos às escolas públicas. Levava e buscava.

Mas, que pena! Meu pai não deu certo.

Quem deram certo foram essas famílias que dependem da faxineira, do porteiro, do zelador, da cantineira, do gari, da empregada doméstica. Eles deram certo!

Ainda bem que muita gente “dá errado” na vida, senão quem iria preparar o lanche dos filhos que vão para o Colégio Marista? O pai? A mãe? Não sabem nem como ligar um fogão! Mas deram certo, não é?

Fique um dia sem um gari na sua rua e no dia seguinte você já está ligando na prefeitura fazendo birra! Ué? Pega uma vassoura e varre! Você não “deu certo”?

Fique sem porteiro no condomínio e mundo para. Não sabem descer pra atender o motoboy? Tem medo de quem seja? Pode ser um ladrão, não é? Deixa que o porteiro arrisca (sem seguro de vida) a vida por você (com seguro de vida).

Gente que não deu certo existe pra isso: mimar os que deram certo.

Tenho orgulho de ter um pai que não deu certo, Colégio Marista. E eu tenho orgulho de não ter dado certo também. Já pensou, criar minha filha num ambiente que debocha de profissões, que em vez de promover a isonomia e empatia, fomenta a segregação e a eugenia?

(…)

Enfim, eu aqui continuo pensando nesta triste historinha, e crendo que a educação é o principal pilar para a construção de um bom país, daqueles que “dá certo” e que queremos ser, me pergunto se por aqui nossas escolas estão conseguindo de fato passar a lição de casa!

 

Sandra Tomasoni – advogada