Com 28 gols marcados em 102 jogos, Palmito é um dos maiores ídolos da história do Brusque Futebol Clube, marcado pelas conquistas de 1992. Volante técnico, com passe e chutes refinados, era uma referência na bola parada quadricolor e um líder da equipe. Embora seja marcado pelo título do Campeonato Catarinense de 1992, Palmito já havia tido uma passagem anterior pelo Marreco, em 1990, ajudando o clube a alcançar a primeira final de sua história. O craque trouxe imensa qualidade ao meio-campo brusquense, e os impactos de sua chegada foram nítidos também em 1992, na conquista da Copa Santa Catarina.

A primeira passagem

Palmito estava se aposentando em 1990, após disputar o Campeonato Catarinense com a Chapecoense. Até então, já havia escrito seu nome na história do futebol do estado, ao conquistar cinco títulos estaduais com o Joinville (1981 a 1985) e um com o Criciúma (1989). Na Chape, pediu para sair após um acordo não cumprido referente ao salário, e estava decepcionado com um acúmulo de promessas quebradas ao longo da carreira.

A ideia após a carreira de futebol era organizar um núcleo de escolinhas de futebol da região Oeste, que servisse para revelar jogadores para a Chapecoense. “Eu estava em Chapecó, a Chapecoense estava jogando a Copa Santa Catarina daquele ano [1990]. E o Veiga era o treinador do Brusque, e tinha ido ver Avaí e Chapecoense em Florianópolis. Chegou lá, começou a falar com os caras que conhecia da Chapecoense, e perguntou como estava minha situação. Disseram: ‘o Palmito parou de jogar'”, relata o ex-volante.

Veiga voltou a Brusque e trouxe a novidade à diretoria. A ideia era tentar trazê-lo a um quadricolor que havia feito uma campanha modestíssima no Catarinense, e que patinava no início da Copa Santa Catarina. Contudo, era necessário comprar o passe do jogador, que pertencia à Chape. Empresários brusquenses se mobilizaram para pagar Cr$ 500 mil, no que foi a principal contratação daquele ano.

“Era terrível para conseguir um apartamento para alugar. A diretoria quis me colocar em um hotel. Minha esposa concordou em ficar em Joinville, eu era recém-casado, minha filha era pequena. Eu ficava em Brusque e ia para Joinville quando não tinha jogo, ficava um, dois dias, e voltava.”

Contudo, o craque se sentiu “excluído”. Afinal, ele era o único em hotel e enorme parte do elenco morava em alojamentos sob as arquibancadas do Augusto Bauer. “Neilor, Rheine, Joel, Clésio, Claudecir, Binho, Mário… Acho que eram esses. Jogavam o Jorge Luiz, lateral-direito; o Washington, morava em Balneário Camboriú, e mais um. E falei ‘cara, não vou ficar morando no hotel sozinho’. Eu ia na concentração direto, os guris almoçavam, iam para lá.”

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Matéria de O Município na edição de 31 de agosto de 1990

A estreia de Palmito no Brusque foi em um 0 a 0 com o Avaí, em 2 de setembro de 1990. O Brusque treinava apenas em meio-período, geralmente durante a tarde. Palmito, junto com Robson Machado, o Bob, que era preparador físico e de goleiros, começou a comandar outras atividades no contraturno ao longo da semana. A medida era autorizada pelo técnico Veiga, que não morava em Brusque, e vinha à cidade para trabalhar normalmente em meio-período.

“A gurizada começou a gostar. A gente conversava com um de cada vez. Saímos do último lugar e fomos para a final do Campeonato, contra o Figueirense. E pela primeira vez fiquei suspenso por cartões amarelos. Não pude jogar a primeira partida aqui em Brusque, que perdemos por 1 a 0. Tínhamos ganhado de 1 a 0 no primeiro turno, e depois foi 3 a 3 em Florianópolis.”

A temporada termina com o segundo lugar da Copa SC, com o Brusque perdendo a primeira final de sua história. No jogo de volta, o Figueirense venceu por 2 a 1 no Orlando Scarpelli.

Palmito não continuaria no Brusque em 1991. Apesar de querer continuar no quadricolor, não teve proposta de renovação na época, e aceitou proposta do Blumenau, com o qual chegou ao terceiro lugar do Catarinense e disputou a Série B do Brasileiro.

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Palmito e sua filha em 1992 | Foto: Edemar Luiz Aléssio/Arquivo pessoal

Retorno em 92

Após uma boa temporada pelo Blumenau, Palmito recebeu sondagens de clubes como Joinville e Marcílio Dias. O time de Itajaí montava uma grande equipe para 1992, que seria semifinalista do Campeonato Catarinense. O Brusque, sob a presidência de Chico Wehmuth, foi quem conseguiu a contratação. quando Palmito já estava próximo do Marinheiro. O jogador havia comprado seu próprio passe, deixando o BEC com três meses de salários atrasados.

A reestreia foi em 19 de abril de 1992, na derrota em casa diante do Marcílio Dias por 2 a 1, substituindo o atacante Neilor. Apesar do revés, Palmito já via que a situação do time era bastante diferente daquela de dois anos antes. “Era um time que jogava com regularidade. Errava pouco, a defesa era muito sólida.”

O volante teve um impacto imediato na equipe. Depois daquela derrota, o Brusque não perdeu mais na Copa Santa Catarina. Começou uma sequência de invencibilidade que duraria dez jogos, com sete vitórias e três empates. A torcida, desconfiada no início da temporada, começava a se animar.

Contudo, a escalada foi interrompida logo após a classificação do Brusque às semifinais da Copa Santa Catarina. O quadricolor havia vencido o Tubarão por 1 a 0 fora de casa e por 3 a 1 no Augusto Bauer. Foram os dois primeiros jogos do meia Cláudio Freitas, que havia sido escalado de forma irregular, de acordo com a Federação Catarinense de Futebol (FCF). O Brusque acabou eliminado.

“Eu não estava muito a par de tudo. A gente ficou sabendo, mas o Dr. Eder [Gonçalves, advogado] disse que o clube iria reverter a situação, ganhar a causa. Mas a Federação chegou a fazer a final entre Araranguá e Inter de Lages, e o Araranguá ganhou. A gente ficou na expectativa. Já tínhamos jogado o Catarinense quase todo”, relembra Palmito.

Entre o 3 a 1 no Tubarão e o primeiro jogo de ida da final, passaram-se quase cinco meses. O Araranguá não quis jogar as novas semifinais com o Brusque, e o campeonato foi direto para a final: Brusque x Inter de Lages.

No jogo de ida, no Augusto Bauer, em 30 de outubro, o Inter abriu o placar com Moreira. No final do primeiro tempo, Palmito marcou um golaço de falta. “Um dos gols mais bonitos que fiz aqui. Um pouco depois do meio-campo, um chute lá na gaveta”, relata. A virada veio nos minutos finais, em outra cobrança de falta. Desta vez, o autor foi Cláudio Freitas.

“Eu fiquei na bola junto com ele. O goleiro esperou que eu chutasse, ele foi lá rapidinho e tum! Meteu no canto, por cima da barreira, e ganhamos por 2 a 1.”

O jogo de volta foi disputado no estádio Vidal Ramos Júnior, o Tio Vida, em 6 de novembro. O Inter saiu novamente na frente, com o pênalti convertido por Zé Melo nos primeiros minutos. O Brusque empatou aos 17, com Neilor. Depois, foi só fechar a casinha pelo resto do jogo para segurar o empate e garantir o primeiro título da história do Brusque.

Palmito relata que aquele título foi a recompensa à equipe para se manter focada nos objetivos da temporada. Dois dias depois, pelo Catarinense, o Brusque ainda venceu o Tubarão com gol contra de Tita, pela última rodada do estadual antes da decisão da Taça Cidade de Lages e das quartas de final da competição. Dali a pouco mais de um mês, o Augusto Bauer viria abaixo com mais uma festa por um troféu, para eternizar 1992 de vez na história quadricolor.

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Palmito tem mais de 100 jogos pelo Brusque| Foto: Edemar Luiz Aléssio/Arquivo pessoal

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Palmito

Volante/meia
102 jogos (1990, 1992-94)

28 gols
Em 1992: 47 jogos, 15 gols