Albert Einstein afirmou, no século 19, que a vida na terra acabaria sem as abelhas. Essa afirmação tem se tornado cada vez mais alarmante, pois, nos últimos anos, a mortandade de abelhas no mundo e no Brasil tem crescido. Mas iniciativas como a da Escola de Ensino Fundamental (EEF) Edith Krieger Zabel, no bairro Dom Joaquim, em Brusque, dão esperança de que o quadro possa ser revertido.

Alunos recebem informações sobre as abelhas sem ferrão | Foto: Divulgação

A escola, que fica na localidade rural da Cristalina, tem um projeto de meliponicultura que envolve os estudantes desde a Educação Infantil até os anos iniciais do Ensino Fundamental. 

A criação de abelhas sem ferrão na escola começou no fim de 2018 fruto da curiosidade dos alunos. Uma colmeia de abelhas Jataí se instalou no muro da escola.

A diretora Elaine Petermann conta que as crianças ficaram com medo das abelhas no começo. Mas ao mesmo tempo estavam curiosas para vê-las.

A ajuda de Valdecir Petermann, pai do aluno Pedro Henrique, foi fundamental nesse momento. Ele trabalha com agroindústria e é bastante ligado às questões do campo e ambientais. O pai aprendeu sobre abelhas sem ferrão sozinho, pesquisando no YouTube, e tem algumas em sua residência.

“As crianças ficaram muito interessadas”, lembra Valdecir. Foi ele quem deu as primeiras informações para a diretora sobre como colocar mais armadilhas para capturar outras abelhas sem ferrão.

“No primeiro ano, coloquei cinco armadilhas de garrafa PET com feromônios e pegamos duas”, conta Valdecir. Das duas, uma “vingou” e a outra morreu porque era muito fraca.

A partir daí, o projeto ganhou corpo. As crianças abraçaram a causa e a escola, que é uma referência quando se fala em sustentabilidade, avançou também na criação das abelhas sem ferrão.

Elaine, engajada com a questão ambiental e com o projeto de escola de campo, fez um curso para aprender mais sobre as abelhas sem ferrão. Hoje, ela tem mais segurança sobre o que fazer, apesar de tudo ser realizado em conjunto com a comunidade.

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Ensino transversal

A iniciativa faz parte do projeto Nossa Escola, Nosso Lar, da Secretaria de Educação de Brusque. Dentro dele, algumas unidades educacionais são “escolas de campo”, voltadas à questões ambientais e de sustentabilidade.

Na Edith Krieger Zabel, a preservação da natureza é tratada de forma transversal e com várias turmas. Afinal, o meio ambiente é inerente a todos os aspectos da vida cotidiana do ser humano.

As crianças de dois aninhos de idade já começam a ter contato com as abelhas. Nessa fase, as professoras trabalham mais a observação. Para isso, a escola adquiriu uma “caixa de madeira didática” – trata-se de uma caixinha com uma abertura para as crianças poderem ver os insetos.

“Já com os alunos maiores nós focamos na questão na polinização, porque sabemos que as abelhas estão morrendo por causa de agrotóxicos”, afirma a diretora.

Levantamento feito pela Agência Pública e Repórter Brasil aponta que meio bilhão de abelhas morreram no primeiro trimestre deste ano em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) indicam que o motivo são os agrotóxicos que atingem as flores e depois matam os insetos.

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Jardim de mel

A iniciativa avançou e a escola iniciou recentemente a criação de um jardim de mel. A diretora explica que a ideia é colocar as abelhas em caixas de madeira e identificá-las para que os alunos saibam a espécie, nome científico e alguma curiosidade.

“Também vai ter o plantio de plantas melíferas no entorno da escola para que as abelhas não precisem ir tão longe para polinizar”, acrescenta Elaine. A ideia é que essas flores também sejam identificadas com uma placa com uma abelhinha, para que todos saibam da função dela.

Ideias semelhantes a essa têm surgido em diversas cidades para a preservação da biodiversidade. Por exemplo, a Prefeitura de Curitiba começou com jardins de mel em março deste ano em alguns parques públicos.

Conscientização

Uma parte fundamental da iniciativa é que ela vai além do portão da escola. Cada aluno recebeu uma isca de garrafa PET para levar para casa. As professoras também explicaram para eles a importância do projeto e como eles deveriam falar com os pais e familiares sobre o tema.

“Se uma família pegar qualquer abelha, tem três opções: começa a criar e damos assessoria, os pais trazem as iscas para escola para gente continuar ou até vender elas na garrafa PET”, explica a diretora da unidade.

Embora seja um projeto embrionário, já começa a dar frutos, pois a comunidade abraçou a causa. “A ideia é não ficar só no âmbito da escola, é multiplicar. Temos pessoas da comunidade que tem caixinhas em casa para si próprio, apesar de não serem meliponicultores”, diz Elaine.

Valdecir Petermann, primordial no início, diz que o projeto é importante porque ensina a importância da preservação do meio ambiente para as novas gerações, como o filho dele.

“Tem a parte ambiental e também incentiva a polinização e a continuidade da espécie. Ninguém dá muita importância para a Jataí por causa da baixa produção de mel, mas existem flores que só elas polinizam”, pontua Valdecir.