Na Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, na Itoupava Central, em Blumenau, a iniciativa para aperfeiçoar cada dia mais a sustentabilidade do espaço vem dos alunos. Incorporados neste projeto há oito anos, muitos cresceram cercados pela preocupação com o meio ambiente e o futuro do nosso planeta.

São inúmeras atitudes sustentáveis visíveis, como o plantio da horta, a criação de uma composteira, reflorestamento do estacionamento e o aproveitamento da água da chuva. Mas a professora articuladora Jeane Pukall, que assumiu o projeto em 2012, explica que o aprendizado vai muito além disso.

Em parceria com a Furb, o projeto foi tomando proporções inesperadas, com reconhecimento internacional e integrando o plano curricular de todas as disciplinas. Atualmente, os estudantes são os principais agentes na manutenção do espaço e do projeto.

“Se chega algum aluno transferido que joga lixo no chão ou danifica algum espaço, nós nem precisamos intervir. Outra criança vai até ele e explica: ‘aqui não fazemos assim'”, conta Jeane.

Um dos projetos mais recentes, iniciado pelos alunos do 9º ano, começou por causa da goteira do ar condicionado. Eles perceberam que aquela água estava sendo desperdiçada e começaram a coletá-la para levar para o reservatório de água da chuva.

“É isso que mais nos encanta. A gente nem precisa dizer nada, eles logo percebem a necessidade. Está tudo integrado”, comemora a professora.

Bombonas coletam água gerada pelo ar condicionado das salas. Foto: Alice Kienen

Eles logo sentiram que o trabalho de levar as bombonas para o reservatório era cansativo. Mas isso não fez com que eles desistissem. Eles passaram a calcular como poderiam transportar a água de forma automática para as caixas. Tudo por conta própria.

Consumo de energia elétrica

Paralelamente, o professor de Matemática Marcionei Ave percebeu no ar condicionado outra oportunidade: estudar o consumo de energia. Em janeiro, diversos moradores de Blumenau foram surpreendidos pelas contas da Celesc. As cobranças foram usadas como base para a atividade.

“A sala estava sempre gelada. Eles usavam o ar de forma inconsciente e começamos a debater isso. Primeiro eles entenderam uma fatura de energia elétrica da casa deles. Em seguida, analisamos os gastos da escola”, explica.

A partir do portal de transparência da Prefeitura de Blumenau, eles perceberam que durante o verão os gastos com eletricidade da escola triplicavam. De acordo com os cálculos feitos pela turma, 63% do valor era por conta do ar condicionado.

Além dos resultados surpreendentes na Feira de Matemática e de uma inscrição no Prêmio de Educação Fiscal, o projeto rendeu frutos dentro da escola. Observando os números, os alunos decidiram que precisavam fazer alguma coisa para reduzir o consumo de energia elétrica da escola.

A energia solar foi a primeira solução apontada, por ser totalmente renovável e representar uma economia a longo prazo. De acordo com o professor, a Prefeitura economizaria mais de R$ 40 milhões em energia elétrica em 25 anos (período que a placa fotovoltaica dura em média) se todas as escolas municipais tivessem energia solar.

Soluções a curto prazo

Por depender de um grade investimento público, a instalação de placas fotovoltaicas que permitam a captação de energia solar ainda é um projeto em construção na Visconde. Entretanto, neste caminho eles descobriram que o professor de Geografia Valdemir Prust também é um entusiasta do tema.

Ele fez a doação de uma placa fotovoltaica pequena que está sendo usada para alimentar a nova sala de música da escola. As aulas, que muitas vezes eram feitas ao ar livre, precisavam de um espaço longe das salas para acontecerem em dias de chuva.

A estrutura de madeira foi construída em 2014. Na época, as garrafas PET davam abrigo para a casinha de leitura. Foto: Alice Kienen

Foi aí que os alunos tiveram a ideia de aproveitar a casinha de leitura feita de garrafa PET para adaptá-la. As garrafas estão sendo substituídas por caixas de leite, que promovem o isolamento térmico, e o interior será forrado com caixas de ovo, para isolamento acústico.

A energia elétrica utilizada para iluminação, tomadas e caixa de som da sala é provida pela placa que fica no teto. Assim, os alunos tem um novo espaço para se reunirem e uma sala adaptada para as aulas de música.

Casinha que abriga sala de música está em construção, mas energia solar já alimenta o espaço. Foto: Alice Kienen

A intenção da escola é dar continuidade à instalação de placas fotovoltaicas na escola, até que todo o consumo seja suprido dessa forma. Para isso, o polo blumenauense da UFSC está tentando parcerias com a WEG, empresa jaraguaense, e com a Receita Federal, que poderia contribuir com materiais apreendidos.

“Nosso sonho é que um dia exista um projeto de lei que, quando se pensa em reforma ou em construir uma nova escola, se pense primeiro na energia solar. Além de ser benéfico para o meio ambiente também economiza dinheiro público”, defende Ave.