Quem assistiu a série Breaking Bad talvez lembre de uma cena memorável da quinta temporada (episódio oito para quem quer matar a saudade ou a curiosidade). Para refrescar a memória dos que assistiram ou para os que não assistiram entenderem do que se trata, segue o diálogo fragmentado da cena.

Skyler leva Walter White até um depósito, tira gentilmente o cobertor sobre uma pilha imensa e incontável de dinheiro e dispara:

– É isso, é pra isso que você tem trabalhado (…) Tive que desistir de contar, é tanto, e tão depressa.

– Quanto tem aqui?

– Não faço a mínima ideia, não faço mesmo! (…) Aqui tem dinheiro suficiente para umas dez gerações, não posso lavar esse dinheiro nem com dez lava-jatos. Walt, eu quero meus filhos de volta, eu quero minha vida de volta. Por favor, me diga, quanto é suficiente? Que tamanho essa pilha precisa ter?

 

Quem está acompanhando o cenário político brasileiro atual, já deve ter pensando algumas vezes como Skyler. Toda semana a mídia nos bombardeia com informações sobre o recebimento de propinas milionárias, quando não bi. Quanto é suficiente para essa gente?

Walter não responde a pergunta de Skyler porque a resposta está clara: nunca será suficiente.

E não se trata do dinheiro em si. Em uma sociedade capitalista, o capital representa poder. Quem tem capital dita as regras do jogo, influencia os tomadores de decisão. Afinal, ainda estamos nos locomovendo com carros movidos à gasolina, não é mesmo?

Muitos poderiam concluir: Oras, mas então temos que acabar com o capitalismo. A propriedade privada que é o problema, ela que desperta no homem essa sede por acumulação desenfreada.

Será?

Os cavaleiros medievais que partiram para as Cruzadas na idade média e mataram em nome de Deus talvez não tenham percebido, mas seus mandantes tinham em mente um objetivo muito menos nobre do que levar a salvação para o mundo. Era um projeto de poder em um mundo o estado e a igreja estavam completamente entrelaçados.

O mesmo se passa com os homens-bomba se explodem em nome de Deus e mal sabem que são apenas peças de um jogo cruel em busca de uma redistribuição do poder no mundo.

É relativamente fácil apontar o dedo para os políticos corruptos e imorais do nosso país ou para os desgraçados que se explodem destruindo famílias, sonhos e a paz. Mas e nós, no nosso humilde cotidiano que pode não se parecer com o lifestyle da Ticiana Vila Boas, quanto é suficiente?

Que modelo de celular? Quantos pares de sapato? Quantos imóveis? Que tipo de imóvel? Qual carro? Qual saldo da conta bancária? Quanto é suficiente?

A foto no hotel cinco estrelas em Paris nas redes sociais, o do som do motor daquela Ferrari na porta de uma balada luxuosa em Jurerê Internacional. Para quem? Para que?

E se você tivesse no lugar do político corrupto, com a opção de ganhar 60 milhões pelo seu silêncio? Você simplesmente dispensaria, ou assim como Walter Walt, faria “em nome da sua família”?

Não é o sobre dinheiro, é sobre poder. Quanto é suficiente? Que tamanho precisa ter a sua pilha?

 

Mariana Imhof – economista, viajante, escritora