Relembre a história do prefeito de Brusque que era dono de um bar durante o mandato

Paulo Bianchini dividia seu tempo entre as demandas dos cidadãos e a clientela do bar

Relembre a história do prefeito de Brusque que era dono de um bar durante o mandato

Paulo Bianchini dividia seu tempo entre as demandas dos cidadãos e a clientela do bar

O Bar e Restaurante Bianchini, presente em Brusque nas décadas de 20, 30, 40 e início de 50, foi um dos estabelecimentos mais frequentados pela elite municipal antes do centenário da cidade. O proprietário Paulo Lourenço Bianchini, além de ter sido prefeito de Brusque na década de 40 (1945-1951), era também dono de um bar que levava o seu sobrenome.

O político e empresário foi uma das personalidades mais emblemáticas da sociedade brusquense. Segundo a memória de antigos frequentadores, ele buscava ‘tranquilizar’ as discussões dos vereadores (também clientes) no seu bar e restaurante, o que pode ser considerado incomum para um político.

Bar

Durante o que hoje chamamos de happy hour, o local se tornava um ponto de encontro para os políticos locais. Próximo da meia-noite, os vereadores, após as sessões da Câmara, descarregavam as tensões das discussões legislativas no bar, sob o olhar do prefeito, que sempre tinha um cigarro ou charuto na boca.

O estabelecimento estava situado em um amplo espaço com vista para o rio Itajaí-Mirim, ao lado do antigo Banco Inco, no começo da rua das Carreiras (atual Hercílio Luz), nomeada assim devido às corridas de cavalos realizadas na área.

Segundo os antigos frequentadores (ainda vivos), o local servia o excelente chope da Cervejaria Catarinense (futura Antárctica), além de petiscos e refeições saborosas, muitas vezes feitas pelas mãos da esposa de Paulo, Dolores Bianchini.

Prédio onde se localizava o bar/Brunno von Ristow

Memórias

O radialista Saulo Tavares foi amigo de Paulo e diz ter tomado muitas cervejas com ele. Na época do bar Saulo era criança, porém, lembra que seu pai era frequentador assíduo do local. Pelo que lembra, o radialista diz que o bar começou lá pelos anos de 1922 ou 1923, mas encerrou as atividades por 1951, após orientação de Otto Renaux, que pediu para Paulo se dedicar mais à política.

“Ele (Paulo) sempre falava que o local era frequentado pelo Cônsul Carlos Renaux e família em datas festivas. Ele era fantástico. Tomava cerveja quente direto do barril e sempre andava com uma pasta que continha uma gaita de boca, um lenço, um copo e um bom whisky importado. Ninguém tinha tanta classe para tomar um whisky e fumar um charuto como ele. No aniversário de 80 anos dele, ele me deu um gole de bebida e disse que queria muito ser um jovem de 65 anos de novo. Nunca me esqueci dessa frase, era uma ótima pessoa”, lembra Saulo.

O lendário fotógrafo Érico Zendron, hoje com 95 anos, diz que era jovem na época do funcionamento do bar, mas lembra que o local sempre rendia boas histórias além de ser ‘muito bem frequentado’.

“Eu entrava lá dentro junto do meu pai e sempre via grandes personalidades lá. É uma parte da história de Brusque que não pode ser esquecida. O Paulo era querido pelas pessoas e sempre falava baixo, com classe. Sempre bati fotos da parte externa, mas nunca lá de dentro. Há histórias que merecem ‘morrer’ junto com o local”, brinca o brusquense.

Cenário de histórias

O bar foi cenário da última comemoração de Ivo Renaux antes de ser encontrado morto. No dia 29 de julho de 1949, o jovem industrial comemorou seu aniversário. O jeito boêmio do herdeiro era o principal motivo para as frequentes brigas dele e de Dagmar, à época sua esposa.

Naquele dia, ela preparou uma festa na mansão para celebrar o aniversário do esposo. A comemoração seria em família: Ivo, Dagmar e as três filhas pequenas. O aniversariante, entretanto, não apareceu.

Na companhia da sogra, ela foi em busca de Ivo. Elas o encontraram no Bar do Bianchini, porém, após uma breve discussão, ele se recusou a voltar para casa. Ivo seguiu para Itajaí, virou a noite comemorando com os amigos e voltou para casa já próximo do amanhecer. Horas depois ele foi encontrado morto na própria cama. O jornal O Município fez uma matéria completa do caso. Até hoje, muitas pessoas não possuem a certeza se Ivo foi morto ou cometeu suicídio.

Na foto: Guilherme Renaux, Raul Schaefer, Aluisio Haendchen, Paulo Bianchini, Miranda, entre outros.
Possivelmente no Bandeirante/Érico Zendron

Concorrência

De acordo com o escritor João Carlos Mosimann, o principal concorrente do Bar Bianchini era o Bar e Café Central de Alfredo Koehler, localizado a uma distância de cem metros.

O Café Cine, Café São Luiz e Restaurante Glória, todos na avenida principal da cidade, eram outros destinos boêmios de Brusque. “Os mais jovens preferiam o bar e salão de sinuca da Casa Bolsoni, o primeiro a introduzir o cachorro-quente na cidade”, publicou em sua obra “Tragédia e Mistério na Villa Renaux”.

Política

Segundo informações do site Brusque Memória, Paulo foi nomeado em 1945 e foi eleito novamente em 23 de novembro de 1947. Foi empossado no dia 3 de janeiro de 1948, exercendo suas atividades até 31 de janeiro de 1951. Em agosto de 2013, Paulo Bianchini foi homenageado ao ter seu nome dado à Praça da Cidadania, no Centro de Brusque.

Os materiais políticos sobre Paulo são raros e até hoje colecionáveis. O jornal O Município fez, em 2015, uma matéria com Eduardo Serpa, que possui um acervo de mais de mil propagandas políticas de eleições desde 1910. Na matéria, ele explica as dificuldades para obter materiais de Paulo.

Antes de Paulo, a cidade chegou a ser governada por Mário Olinger em um período curto: de abril de 1947 a janeiro de 1948.

Sala Brusque Virtual

Embora curto, o mandato de Paulo foi importante para a história do Tiro de Guerra. Em 2015, após a morte de João Antônio Schaefer, o doutor Nica, aos 97 anos, o prédio do Tiro de Guerra recebeu o seu nome. A homenagem não é à toa: o médico dedicou 46 anos de sua vida ao cargo de diretor-presidente do TG.

O escritor Saulo Adami lembrou em um dos seus livros que o Doutor Nica que “assim que começou a desempenhar as atividades profissionais em Brusque, havia o interesse em transformar o TG, administrado pelo município, em uma entidade particular”. Porém, a pedido do prefeito Paulo Bianchini, o órgão permaneceu municipal e assim está até hoje.

Família Bianchini: Paulo Bianchini, Érico Bianchini, Dona Muche e outros/Érico Zendron

Vida pessoal e genro famoso

Paulo casou com Dolores Gevaerd no dia 26 de janeiro de 1928. Do casamento nasceram Dorys Maria Bianchini (1929-2013) e Orlando Bianchini (também falecido). Dorys ficou conhecida por ter se casado com Antônio Heil no dia 30 de março de 1950.

Em 3 de outubro de 1965, Antônio foi eleito prefeito de Brusque e tomou posse em 31 de janeiro de 1966, exercendo seu mandato até o término em 31 de janeiro de 1970. Eleito inicialmente pelo PSD, seu partido foi extinto em 27 de outubro do mesmo ano, levando-o a migrar para a Aliança Renovadora Nacional (ARENA).

Na 7ª legislatura (1971 — 1975), foi eleito deputado à Assembleia Legislativa de Santa Catarina pela ARENA. Faleceu no dia 14 de junho de 1971, durante o exercício do seu mandato como deputado. Do casamento com Dorys nasceram os filhos: Suzete, Joceline, Frederico e Paulo Francisco.


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